sexta-feira, 13 de março de 2020

CAPÍTULO V : As Viagens de NATTERER e as 3 espécies de WAGNER

Johann Natterer (1787-1843) foi um naturalista e explorador austríaco.

Em 1817, o imperador Franz I financiou uma expedição ao Brasil por ocasião do casamento de sua filha arquiduquesa Leopoldina com o príncipe herdeiro português, Dom Pedro de Alcântara (que mais tarde se tornaria imperador do Brasil). Natterer foi o zoólogo da expedição e foi acompanhado por outros naturalistas, incluindo Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. Johann Natterer permaneceu na América do Sul por 18 anos, até 1835, retornando a Viena com uma grande coleção de espécimes, incluindo novas espécies como o peixe pulmonado sul-americano, que ele deu ao Gabinete Imperial de Ciências Naturais (Kk Naturaliencabinet), o predecessor do Museu de História Natural.

Natterer não publicou um relato de suas viagens e seus cadernos e diários foram destruídos no incêndio de Hofburg em 1848 durante a Revolução de Viena; no entanto, suas coleções de espécimes de 60.000 insetos faziam parte do "museu brasileiro" da "casa Harrach" e escaparam do fogo. Wikipedia


Em sua viagem pelo interior do Brasil recolhendo espécies, Johann Natterer  coletou o maior acervo biológico reunido por uma única pessoa. Ele enviou para Vien, em várias remessas, 12.293 pássaros, coletou quase 2 pássaros por dia, 1.146 mamíferos, 1.621 peixes, 32.825 insetos e mais anfíbios, crustáceos, moluscos, conchas, vermes entre outros. (Riede-Dorn, 1999). Entre esses mamíferos, Natterer coletou 3 novas espécies do gênero Monodelphis, que foram descritas como: Didelphys glirina, D. domestica e D. unistriata, por Johann Andreas Wagner (1797-1861) um palaeontólogo, zoólogo e arqueólogo alemão, que trabalhou com Natterer.  As localidades, onde foram coletados esses exemplares, estão plotadas neste mapa abaixo, que descreve o percurso das viagens de Natterer pelo interior do Brasil.


Wagner descreveu essas 3 novas espécies de Monodelphis em 1842, em latim, de forma sucinta, uma seguida da outra: 13. Didelphys domestica, 14. Didelphys glirina  e 16 Didelphys unistriata.  [  em Diagnoses de novas espécies de mamíferos brasileiros,  p. 356. ]

Diagnosen neuer Arten brasilischer Säugthiere. Von Dr. A. Wagner in München. p. 356. - "Com o Sr. curador-adjunto,  Johann Natterer,  mais conhecido por suas jornadas zoológicas realizadas no Brasil entre 1817 e 1835, uni-me para trabalhar em uma fauna de mamíferos no brasiliensium. Como em todas as classes, principalmente na de mamíferos, a Coleção de Viena possui uma riqueza de animais brasileiros que nenhum outro museu possui.".

13. Didelphys domestica Natt.
Didelphys luteo-grisea, subtus pallide lutescens, auriculis majusculis, capite haud striato; cauda abbreviata, crassiuscula, pilis albis brevissimis paucissimis vestita; mastotheca nulla. Corpus 7", cauda 2"4"'. Cuyaba.

14. Didelphys glirina Natt.
Didelphys cinerascens, subtus pallide cano-lutescens, lateribus ochraceis, capite abbreviato, auriculis mediocribus; cauda dimidio corpore paululum breviore, basi pilosa, dein nudiuscula. Corpus 6 1/2 ", cauda 2" 7"', Mamore.

16. Didelphys unistriata Natt.
Didelphys supra ferruginea, cano-mixta, subtus rufescens, Stria dorsali obscuriori, cauda abbreviata pilosiuscula. Corpus 5 1/4", cauda 2 1/2". Ytarare.
 TRADUÇÃO

13. Didelphys domestica Natt. - Didelphys cinza amarelada, partes inferiores amarelo claro, orelhas grandes, cabeça não estriada, cauda curta levemente engrossada, levemente coberta por pequenos pelos brancos, sem marsupium. Corpo 7 polegadas, cauda 2 polegadas e 4 linhas. Cuiabá.

14. Didelphys glirina Natt. - Didelphys acinzentada, partes inferiores cinza amarelado claro, laterais amarelo ocre, cabeça encurtada, orelhas de tamanho médio, cauda um pouco mais curta que a metade do corpo, pilosa na base, no resto nua. Corpo 6 polegadas e meia, cauda 2 polegadas e 7 linhas, Mamoré.

16. Didelphys unistriata Natt. - Didelphys com o dorso cor de ferrugem, misturado com cinza, ventre arruivado, com uma estria escura no dorso, cauda curta coberta com pelos pequenos. Corpo 5 polegadas e 1/4, cauda 2 polegadas e meia. Itararé.

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Em 1850 e também em 1855, Wagner publicou descrições mais detalhadas dessas espécies, acompanhadas de comentários.

Wagner, J. A., 1850. Beitrage zur Kenntniss der Säugethiere Amerikas. Abhand. Math. Physik. Classe. Konig. Bayerysch. Akad. Wiss., Munchen., 5 Abt. 1847, pp. 119-208.

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10. Didelphys unistriata NATT. O rato de bolsa unistriado;

D. supra e ferrugineo et cano mixta, subtus lateribusque ferrugineo-rufescens; stria dorsali impressa obscuriori; capite abbreviato, auriculis breviusculis; cauda dimidio corpore breviore, pilosiuscula; vellere brevissimo.

Didelphys unistriata. A. Wagner. im Archive für Naturgesch. 1842. p.360,

O aspecto dessa espécie é muito semelhante ao de D. glirina, mas o tamanho é um pouco menor, e a cauda de uma natureza diferente. O corpo é alongado e com pernas curtas. A cabeça é um pouco grossa e curta, o nariz é sulcado, as vibrissas,
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curtas e finas; as orelhas pequenas, não se projetando além do topo da cabeça, cortadas na parte inferior, nuas, com um delicado toque de pelos. As patas da frente são mais robustas que as traseiras, que são estreitas. A cauda não tem nem a metade do comprimento do corpo, na base é um pouco coberta com o pêlo das costas, no resto densamente coberta com pelos salientes até a ponta. Difere das caudas de D. glirina e velutina, por não ser tão grossa e nem cônica na base, o pelo da cauda não aderido, é mais áspero, e suas pontas não são como naquelas, esticadas em linha reta, mas são encurvadas como ganchos, na parte inferior. Com base nessas curvaturas, parece quase certo, que a cauda de D. unistriata se destina a agarrar, o que também se confirma pelo fato do pelo na parte inferior da ponta da cauda estar mais aderido. O escroto é densamente peludo.




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A fêmea ainda não é conhecida, mas provavelmente não possui bolsa. O pelo é muito curto e não parece macio. A cor da parte superior é marrom-ferrugem avermelhado com manchas brancas finas. As partes laterais inteiras e o lado de baixo inteiro são monocromáticos e com uma cor de ferrugem clara avermelhada, que recorta bastante a cor das costas e fica um pouco mais claro na parte de baixo. Da cernelha até a raiz da cauda, ​​corre uma faixa estreita levemente recuada, de uma sólida cor vermelho-ferrugem. Os pêlos manchados da parte superior da cabeça e das costas são grisalhos na parte inferior, depois amarelados com pontas marrom-ferrugem avermelhado; os pelos nas laterais e no abdômen são de cor sólida, mais claros perto das raízes, a cabeça não tem distinção especial; as vibrissas são pretas, as cerdas das bochechas são brancas. Os membros são cor de ferrugem como os lados, mas do lado de fora do traseiro a cor pontilhada das costas diminui um pouco. As garras são branco amarelado com uma mancha escura. A cauda é marrom escuro enferrujado por cima, pelos amarelo-ferrugem, sujos por baixo. O escroto preto é coberto com pelos amarelo-ferrugem. As solas parecem cor de carne em vida.

Corpo......................................5" 7'"                  Do nariz a orelha...................1" 1"'
Cauda.....................................2" 5'"                  Orelha....................................0" 5'"
Do nariz ao olho......................0" 6 1/2'"              Patas traseiras......................0" 6 3/4"'

Encontrado por Natterer em Itararé no Brasil.


11. Didelphys glirina Natterer. O rato de bolsa leirão. (Marsupial glirino)

D. Nitelae magnitudine, supra cinerascens, subtus cano-lutescens, lateribus pallide rutilo-ochraceis; capite abbreviato, auriculis mediocribus; cauda abreviada, base anguste pilosa, sua nuda, acuminado, pilis não nulo subtilissimis adpressis obsita.

Didelphys glirina. A. Wagner no Arquivo de História Natural. 1842. p. 359.

Esta espécie está intimamente relacionada à Didelphys brachyura, a última das quais, como outros ratos de bolsa, é uma mistura de várias espécies diferentes. Antes de tudo, deve-se notar que as descrições de Schreber *),
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*) Die Saugthiere 11. P. 548.
A cor do animal inteiro, diz Schreber, parece marrom café, mais escuro nas costas, um pouco mais claro na barriga. O pelo é cor de cinza na parte inferior, na parte dorsal marrom escuro avermelhado, os pelos mais longos para trás com ponta preta. A cauda não é visivelmente escamosa, inicialmente em cima coberto com pelos longos, progressivamente cada vez mais curtos. Corpo 3" 2'", cauda 1" 8'".

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Geoffroy * ), Temminck **) e Waterhouse ***) de D. brachyura não concordam entre si, nem refletem, na nossa espécie, todo o espectro deste grupo. A última é a menos surpreendente, já que a nossa espécie, que pertence às partes mais a oeste do Brasil, é provavelmente a primeira
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* ) Catal. des Mamm. p. 145.

 pelage marron foncé [roux foncé], blanchätre en dessus; queue très grosse à son origem et de moité moins longue que le corps, velue en dessus jusqu'aux deux tiers de longueur; este poils se perdent insensiblement dans les écailles. Corpo 6 ".

**) Monografia. I p. 53.
As partes supérieures de um gris-fauve a peu près la méme teinte que surmulot ou Mulot; côtés, cuisses e base da cauda de um roux assez vif, ou couleur de rouille; partes inférieures d'un roux jaunätre. Queue épaisse à base et terminée en pointe, poilue à sa base seulement, le reste couvert d’un petit poil très ras.  Corpo 4" 3'", cauda 2" 3'". Comum no Suriname; um exemplar de Monte-Video?, e outro do Brasil.

***) Marsup. p. 111; Zool. of the Voy. of Beagle. Mamm. p. 97. Plate. 22.
Pelo rígido; a superfície superior cor-de-cinza, com branco amarelado; os lados e as partes inferiores amarelo ferrujem; o olho está rodeado de amarelo ferrugem. Cauda revestida com pêlos curtos e rígidos e exibindo escamas. Pêlos das costas acinzentadus na base, na barriga são uniformes. Corpo 6", cauda 2" 8'", orelha 3 ¾'". De Maldonado, em la Plata.

À primeira vista, vemos uma grande diversidade nas informações, e elas também não se aplicam a nenhuma de nossas novas espécies. A princípio, as descrições de Schreber e a de Temminck se encaixam e o nome Didelphys brachyura poderia ser aplicado a elas. No entanto, D. brachyura de Waterhouse pode ser separada, e poderia receber o nome de D. dimidiata.
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a entrar em um museu europeu, através de Natterer *).
holotipo de Monodelphis glirina (vista dorsal)

A cabeça de nossa D. glirina é curta, assim como as vibrissas e as orelhas nuas. As pernas são curtas; as “mãos traseiras" são bastante estreitas. A cauda é mais curta que a metade do corpo, coberta apenas na base por uma distância muito curta do pêlo das costas e coberta uniformemente em cima e em baixo, nesta parte de espessura comum, que diminui cada vez mais na parte nua, de modo que a ponta da cauda é bem fina. Na parte nua, pode-se ver aneis de escamas finas, mas estes são principalmente cobertos por uma delicada escova de pelos. O escroto é esférico; a fêmea ainda é desconhecida, mas certamente não possui uma bolsa.
A cor da parte superior é cinza escuro, com pequenas manchas cinza-claro; os lados são ferrugem-avermelhado, mais vivo nos lados do pescoço e nas patas traseiras; o lado de baixo é amarelo acinzentado claro. Todo o pelo é cinza ardósia na metade inferior; depois segue na parte superior preto-marrom com pontas cinza-amareladas claras, nas laterais as pontas são avermelhadas, na parte inferior amarela clara. O topo da cabeça tem a cor das costas; As “olheiras” ou uma faixa longitudinal média estão completamente ausentes. As bochechas são de um amarelo-ferrugem opaco, que fica mais vivo por trás e mais pálido por baixo. O pescoço, na frente tem uma coloração amarelo-ocre forte, enquanto o abdome inferior é apenas amarelo-cinza pálido. O lado de fora dos membros, assim como as laterais é ferrugem-avermelhado pálido, misturado com cinza, as mãos são castanho-claro, os pés são
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*) Provavelmente a variação sutil de D. brachyura descrita por Waterhouse em sua História Natural dos Mamíferos I. pág. 523 não se deve a essa, mas sim à nossa D. glirina.
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branco sujo; as unhas amareladas pálidas; a ponta do nariz é escura. A parte peluda da cauda é avermelhada, com um tom mais escuro; a parte nua é marrom escuro em cima, marrom claro em baixo e nas laterais. O escroto é preto, com pelos esbranquiçados e densos.

Corpo....................................6" 2"'
Cauda...................................2" 6'"
Parte peluda da mesma........0  4 1/2
Do nariz ao olho....................0  7     
Do nariz a orelha..................1  2
Orelha...................................0  6
Pé.........................................0  8

O único espécime foi encontrado por Natterer em Cachoeira do Pau Grande em Mamoré.


12. Didelphys domestica. Natterer. O rato de bolsa caseiro

D. Ratto minor, supra sordide cinerascens, subtus lateribusque lutescens; capite haud striato, auriculis majusculis; cauda abbreviata, incrassata, pilis albidis brevissimis adpressis vestita.

Didelphys menor que o rato, dorso acinzentado sujo, amarelado por baixo e nas laterais; cabeça sem estrias, orelhas grandes; cauda curta, engrossada, revestida por pelos brancos curtos justapostos.

Didelphys domestica. A. Wagner no Arquivo de História Natural. 1842. p. 359.

O corpo e a cabeça são alongados, os membros curtos e grossos, as "mãos traseiras" estreitas. As vibrissas são curtas e fracas, a ponta do nariz é nua e no meio as orelhas são grandes e nuas. A cauda não atinge a metade do comprimento do corpo, é espessa, apenas diminui ligeiramente a circunferência contra a ponta cega, não apresenta escamas perceptíveis, parece ser cor de carne clara no animal vivo, e é envolta por pelos curtos e finos, na parte inferior esbranquiçados, nas laterais e em cima
Monodelphis domestica Wagner, 1842 - sintipo - vistas Dorsal e Ventral

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são enegrecidos, e devido à sua brevidade e escassez, não escondem a pele nua. Os machos têm um escroto volumoso; as fêmeas não têm bolsas. O pêlo é relativamente curto e tem um ajuste suave; nos membros, ele corre, ficando cada vez mais curto, até os dedos das mãos e pés, que têm apenas pelos únicos; a raiz da cauda não é coberta por ela. A cor da parte superior é manchada de preto e amarelado sujo, que tem um tom nublado e a cor anterior é predominante. Nas laterais predomina o amarelo-acinzentado e toda a parte inferior é amarelo sujo, que fica branco turvo na mandíbula inferior. O pelo é grisalho na parte inferior, que ocupa uma parte maior do seu comprimento na parte superior e uma parte menor na parte inferior. As pontas dos pelos são amarelas mais longas ou mais curtas, e porque muitos pelos muito pretos se acumulam na parte de trás e no topo da cabeça, essas partes adquirem uma coloração salpicada, enquanto as laterais e a parte inferior, onde falta o pelo preto, são uniformemente amareladas. A cabeça não tem distinção, pois não possui olheiras ou listras verticais. A parte externa das pernas é marrom-acinzentada clara, as pontas dos pelos são claras; as mãos são esbranquiçadas, as garras brancas amareladas. A ponta do nariz é escura, as solas dos pés são mais claras. O escroto é preto, densamente coberto de pelos esbranquiçados. As vibrissas são enegrecidas, algumas com pontas claras.

Corpo...........................7" 0'"
Cauda..........................2  4 
Do nariz ao olho..........0  9  
Do nariz a orelha.........1  6 1/2 
Orelha..........................0  9
Pé................................0  8 1/2 

Natterer descobriu essa espécie em Cuyaba, na província de Mato Grosso, onde é freqüentemente vista nas habitações.
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Em 1855, Wagner republicou as descrições das 3 espécies coletadas por Natterer no Brasil, já citadas e apresentadas logo acima, além de detalhes das outras espécies já conhecidas, e que ele agrupou com os novos "ratos de bolsa de cauda curta", acompanhadas de comentários, numa espécie de mini-revisão desse agrupamento de animais, na época colocados todos dentro do gênero Didelphis. Abaixo, apresentarei somente as 3 espécies adicionais àquelas coletadas por Natterrer, ou seja: 29. D. tristriata, 30. D. brachyura e 33. D. tricolor.

Em 1855, Wagner agrupou no final da lista das espécies de Didelphysaquelas com cauda curta, antevendo assim, o gênero Monodelphis.

O táxon Monodelphis Burnett,1830, incluia Didelphis dorsigera? (apresentado como Monodelphis? - Dorsigerens, Touan e Brachyura, Short-tailed T.), que se contrapunha a Didelphis, numa referência ao marsúpio, visto como uma segunda matriz (daí 2 úteros). Coincidentemente todos os marsupiais possuem dois úteros, mas o termo Didelphis se refere ao segundo período de desenvolvimento fetal no marsúpio, "o segundo útero". O táxon Monodelphis reunia animais sem marsúpio, e por isso: 1 ÚTERO (Mono = 1 + Delphys = Uterus).

Acima, o esquema fornecido por Burnett em 1830, para os Didelphidae, que na época polarizava Chironectes contra os demais.

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Wagner, J. A., 1855. Die Säugethiere in Abbildungen nach der Natur mit Beschreibungen von Dr. Johann Christian Daniel von Schreber. Erlangen. Suppl. 5. Vetlag von T. D. Weigel. i-xxvi, 1-810 pp.


29. D. tristriata Kuhl (o rato de bolsa de três listras)

ferruginea-brunnea, subtus dilutior, striis 3 dorsalibus longitudinalibus nigris.

de cor castanha avermelhada, por baixo diluída, 3 listras dorsais longitudinais pretas.
 

Didelphys tristriata. Wagner. Schreber. Supplem. III. p.52. - Waterhouse natur. librar. XI. p.107. tab. 3; nat. hist. of mamma. I. p.518.

Uma espécie muito rara em nossas coleções, que só agora foi conhecida e publicada por  Waterhouse com mais precisão, sobre a qual posso adicionar informações a partir dos manuscritos de Natterer. Da descrição de um exemplar, feita por Waterhouse, enfatizo o seguinte. O focinho é afilado; as orelhas são pequenas, roliças e quase nuas, cobertas apenas com pelos castanhos muito curtos. O pêlo é curto, moderadamente macio, bem próximo ao corpo e

                                                                                               Didelphys.                                                                                                        251

os pelos são grisalhos da parte superior até a inferior. O dorso é de um bonito marrom, a pelagem é salpicada de amarelo profundo e preto; O último diminui gradualmente nas laterais, de modo que predomina um amarelo ferrugem vivo, que também ocupa toda a parte inferior. As três listras pretas dorsais são bastante largas: a do meio se estende desde a ponta do nariz até o meio do corpo e se reduz até a base da cauda, 1/4 de polegada de largura a partir do meio das costas; as outras duas faixas não são tão largas e se estendem da orelha até a raiz da cauda: a cauda tem pelos individuais curtos, marrom escuro por cima, marrom por baixo; um pêlo semelhante ao do dorso cobre a base da cauda por apenas 1/3 de polegada de comprimento.

Das observações de Natterer, referentes à uma fêmea velha, em vida, o seguinte deve ser mencionado aqui. O nariz é de cor de carne enegrecida, a íris preta, as orelhas viradas para a frente, marrons e cobertas com muito pouco pelo. As mãos e os pés são castanhos e cobertos com muito pouco pelo. Nos dedos dos pés, no entanto: são esparsos, sendo quase nus; as unhas são largas. A cauda é curta, avermelhada, peluda na base por 5 linhas e curvada para dentro. A fêmea não tem bolsa e as 15 tetinhas ficam na barriga entre as patas traseiras, de tal maneira que 11 formam um círculo, dentro do qual as outras 4 estão em pares.

                                          segundo Waterhouse   segundo Natterer
 Corpo ...............................          4" 3'"                      4" 9'"
 Cauda ..............................          2  1                        2  1
 Orelha ..............................          0  3                        0  4
 Pé.....................................          0  8 3/4                  0  8

Natterer coletou o seu espécime em Ypanema, no sul do Brasil. (hoje Floresta Nacional de Ipanema, nos municípios de Iperó, Araçoiaba da Serra e Capela do Alto a 120 Km da cidade de São Paulo. sendo a primeira localidade precisa para essa espécie).

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30. D. brachyura Schreber (o rato de bolsa de cauda curta)

Nitelae magnitudine, supra cinerea, lateribus fulvida, subtus pallidior; auriculis abbreviatis;

cauda basi incrassata villosa, dein pilis brevibus tecta.

Didelphys brachyura. Wagner. Schreber. Supplem. III. p.51.(theilweise).(parcialmente) —Waterhouse. natur. librar. XI. p.111; zool. of the voy. of Beagle, mamm. p.97.
                                                                                                                                                                                                                   32*

252                                                                         Beutelratte.


tab. 22 ; nat. hist. of mamm. I. p. 522. tab. 16. fig. 2. — Temminck. monogr. I. p.53. — Lund, det Danske Vidensk. Selsk. naturv. Afh. IX. p. 135 ; VIII. p. 236 (como D. tricolor). — Micouré a queue courte. Azara. ess. I. p. 295.

β) obscurius colorata (de coloração mais escura, ou seja D. brachyuros de Schreber propriamente dita)

Didelphys brachyura. Schreber. III p.548. guia. 151

Não tenho dúvida que, sob o nome D. brachyura, tenham sido reunidos animais, que não pertencem à mesma espécie; No entanto, não tenho material suficiente para fazer uma distinção mais clara entre as descrições dos autores, portanto, aqui estão apenas algumas indicações.

Segundo a descrição de Waterhouse de um exemplar trazido por Darwin de Maldonado, o pelo é curto e grosso tingido de cinza na parte superior, nas partes laterais e na parte inferior amarelo ferrujem, nesta última, porém, visivelmente mais claro; os pés são amarelados. O pelo das costas é cinza na parte inferior, e o do abdômen monocromático. A cauda é razoavelmente coberta com pêlos curtos e rígidos, com exceção da base, que não são numerosos o suficiente para esconder a pele nua abaixo; na ponta da cauda existe uma parte curta e nua de aproximadamente 1/4 de polegada de comprimento. (em sua publicação de 1850, Wagner havia sugerido o nome Didelphys dimidiata para o animal de Waterhouse, mas não voltou a citá-lo e nem o adotou. Foi Thomas, que em 1888 o adotou, como D. [Peramys] dimidiata

Esta descrição também corresponde à do Micouré à queue courte de Azara, que de modo algum pertence a D. tricolor, como foi erradamente afirmado. Segundo ele, o corpo é mais achatado e robusto do que em outros ratos de bolsa, a pelagem é curta e macia, as orelhas nuas e curtas, a cauda grossa, preênsil e, com exceção da parte longa de 5'" da base, nua; a fêmea sem bolsa e com 14 tetinhas. O dorso é de cor cinza acastanhado, salpicado com alguns pelos esbranquiçados, os lados do corpo são cor de canela avivada, que fica mais clara na parte inferior. (aqui Wagner cita o erro de Azara ao associar seu Micouré à queue courte ao Le Touan de Buffon, renomeado como D. tricolor por Geoffroy. No entanto Wagner também errou ao associá-la à D. brachyura de Waterhouse, certamente o fez devido à sua localidade e a semelhança no padrão de cor da pelagem)

Waterhouse observou um espécime brasileiro no qual os lados e o abdômen são incomumente pálidos: os primeiros amarelo ocre, e o segundo branco amarelado. A parte de cima é acinzentada e salpicada de preto, os pés amarelos sujos; a cauda nua bem aparada com pelos pretos. Lund também distingue seu D. brachyura daqueles descritos por Azara e Temminck,

253                                                                            Didelphys.  

cujos lados do corpo não são canela nem ferrugem avermelhado, mas um amarelo ocre pálido (aparentemente tanto o exemplar de Waterhouse como o de Lund, se referem à Monodelphis domestica, que era praticamente desconhecida na época). As três primeiras medidas, a seguir, são emprestadas de Waterhouse, a saber: I. o exemplar de Maldonado, II, o do Brasil, III. do museu parisiense (provavelmente também do Brasil); IV e V. de Azara.

                                               I.                II.               III.             IV.              V.   
                                          ______      ______       ______       ______       ______
Corpo ..................................6" 0'"          6" 6'"           6" 9'"          6" 0'"         4" 4'" 
Cauda..................................2  8            2   7            2   6           2   6           2   0
Orelha..................................0  3 1/4         0   4            0   3 1/4        0   4
Do nariz a orelha.................1  6            1  4 1/2          1   3           1   5
               
A descrição de Temminck, baseada principalmente em espécimes do Suriname (supõe Wagner erradamente.Temminck simplesmente citou Suriname, por ser a região do TIPO dessa espécie. Sem dúvida alguma o exemplar de Temminck era M. dimidiata), extraida do volume Suplementar, especifica a cor do dorso como semelhante à do rato, a das partes laterais como ferrugem avermelhado vivo e a da parte inferior como amarelo avermelhado. Ele designa apenas o comprimento do corpo como 4" 3'", e o da cauda como 2" 3'"; portanto notavelmente menor do que aquelas indicadas por Watterhouse e Azara, este último pelo macho.

Schreber 1) desvia-se ao máximo dessas descrições, descrevendo a cor muito mais escura e o tamanho  ainda menor 2).
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1) Waterhouse (Natur. Librar. XI. P. 110; Nat. Hist. of mam. I. p. 524) publicou uma espécie como D. Hunteri, que ele próprio descreveu como não sendo adequadamente fundamentada. Seu tamanho e proporções correspondem a D. tricolor e brachyura, mas diferem na cor, que é uniformemente marrom enegrecido na parte superior e marrom pálido na parte inferior. Este animal lembra muito a D. brachyura de Schreber.

2) A D. brachyura listada no Catalogue. des Mamm. p. 145, de Geoffroy, me parece indubitavelmente idêntica à D. tricolor.


Obs. Indubitavelmente essas duas citações são referentes à Didelphys brachyuros de Scheber (popularizada como D. brachyura, e sinônimo junior de Monodelphis brevicaudata Erxleben, 1777, a qual permaneceu oculta longamente, e só foi ressucitada em 1888 por O. Thomas).

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33. D. tricolor  Geoffroy (O rato de bolsa tricolor)

supra e griseo nigroque mixta, lateribus abrupte ferrugineo-rufis, gastraeo albido; cauda basi crassissima, supra ultra medium pilosa, apice subtusque nuda.

por cima uma mistura de cinza e negro, lados abruptamente vermelho ferrugíneo, ventre branco; base da cauda grossa, mais da metade peluda, ponta por baixo nua.

Didelphys tricolor. Wagner. Schreb.Supplem. III. p.50. — Waterhouse. nat. hist. of mamm. I. p.520.
Vive na Guiana. A afirmação de que ela também vem do Paraguai, é baseada na troca de D. brachyura de Azara com a nossa D. tricolor.
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Gervais, P. 1855. Histoire naturelle de mammifères, avec l’indication de leurs moeurs, et de leurs rapports avec les arts, le commerce et l’agriculture.



Em 1855, Paul Gervais propõe o gênero Hemiurus, que reunia as espécies : H. tristriata, H. tricolor e H. brachyura.
Sendo o primeiro a propor um táxon definido por reunir exclusivamente espécies hoje incluídas em Monodelphis.


Gervais, P. 1856. In Animaux nouveau ou rares recueillis pendant l’expédition dans les parties centrales de l’Amérique du Sud, de Río de Janeiro a Lima, et de Lima au Para.

O Hemiurus Hunteri de Gervais ( erradamente de Waterhouse ) é apenas um sinônimo junior de Monodelphis domestica Wagner, 1842

Gênero: HEMIURUS (2).
101
Os hemiuros têm a cauda muito mais curta que o corpo, sem uma parte nua e provavelmente não preênsil. Às três espécies que relacionamos a esse gênero (Didelphys tristiata [r], tricolor e brachyura dos autores), devemos acrescentar uma quarta (Didelphys Hunteri, Waterhouse), cujo crânio, além da dentição, pudemos estudar.

Hemiuro de Hunter (Hemiurus Hunteri).
(prancha XVI, fig. 2 (3); pr. XX, fig.1, 1a e 1b).
Didelphys Hunteri, Waterhouse, Nat. hist. of  Mammals t.I p.524.

Em História Natural dos Mamíferos, o Sr. Waterhouse destaca, sob o nome de Didelphys Hunteri, um sarigue da divisão dos hemiuros, do qual ele viu apenas um exemplar, preservada em espírito de vinho (álcool etílico), no Hunter's Museum, em Londres. Ele o caracterizou por ter as partes superiores do corpo marrom-claro uniforme, sem vestígios da faixa avermelhada dos flancos, que caracteriza o Hemiurus tricolor. Eu reporto a esta espécie de Hemiurus de pelagem uniforme, àqueles exemplares que os Srs. de Castelnau e Deville trouxeram da província de Goyaz. 

    (1) Chironectes, E. Geoffr.
    (2) Hemiurus, Ig. Geoffr.
    (3) Sob o nome errado de Hemiurus concolor.

102
Sua coloração geral é cinza-amarelado, lavada com um amarelo oliva; bochechas e garganta são cinza sujo; flancos cinza-amarelado, um pouco mais claros que as costas; as patas são de uma nuança igualmente clara; os pelos da cauda são muito curtos, pálidos em cima, marrons em baixo (o que não corresponde à figura 2, veja a cauda). O corpo tem 0,13 e a cauda 0,04 [m].

     A figura 2 de nossa prancha XVI representa esta espécie em tamanho natural.
   
O crânio de Hemiurus Hunteri (prancha XX, Fig. 1, 1a, 1b) carece das projeções pós-orbitais; sua porção cerebral é proporcionalmente mais estreita que nos grandes Didelphys; seu focinho é mais curto e menos afunilado do que nos Micourés. A superficie óssea do palato não apresenta os forâmens que se vê nos outros Sarigues; seus dentes são numéricamente iguais aos demais Didelphidae e distribuídos de acordo com a mesma fórmula, porém o primeiro molar superior é menos separado que o segundo comparado a Didelphys, é proporcionalmente maior que em Didelphys derbiana e em philander; os três primeiros molares superiores vão crescendo de uma forma bastante regular; na mandíbula inferior, o segundo é um pouco mais forte que o terceiro, o que excede significativamente o primeiro. Os molares posteriores superiores são bastante semelhantes aos outros Didelphys, mas com pontas bastante salientes; eles têm a coroa inteira menos oblíqua do que a dos Micourés.


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Carl Hermann Conrad Burmeister

foi um naturalista alemão,  nasceu em Stralsund em  1807  e  morreu em Buenos Aires em  1892. 

Viajou em 1850 ao Rio de Janeiro, depois à Minas Gerais, atraído pela fama de Lagoa Santa, onde passou cinco meses em companhia de Peter Wilhelm Lund.

Retornou à Europa em 1852 e publicou três obras sobre a viagem ao Brasil: "Reise nach Brasilien", "Landschaftliche Bilder Brasiliens" e "Systematische Übersicht der Tiere Brasiliens" em 3 volumes. No Brasil foi publicada "Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais: Visando especialmente a história natural dos Distritos Auri-diamantíferos".

Viajou por duas vezes à Argentina, para onde finalmente se mudou, foi diretor do Museu de Ciências de Buenos Aires por 30 anos, até a sua morte.


Burmeister, H. 1854. - Revisão sistemática de animais brasileiros coletados ou observados durante uma viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Geraes pelo Dr. Hermann Burmeister.  Mamíferos.

13. Didelphys brachyura.

- Schreber. Säugeth. III. 548. tb. 151. - Wagner. Suppl. dazu, III. 51. 17. - Desmarest. Mamm. 260. 398. - Temminck. Monogra. I. 53. - Dr. Lund, a. a. O. III. 237 u. IV. 63. - Waterhouse. Mammal. I. 522. - Zool. of the Beagle 97. Pl. 32.

Cinza amarelado nas costas, avermelhado nas laterais, amarelo dourado sujo na barriga; Cauda densamente coberta com o pelo ajustado, com pelo sobressaindo apenas na base.

A cor dos espécimes em vida é cinza amarelada na cabeça, pescoço e costas, quase como a pele do rato; nas laterais, bochechas, braços, coxas e flancos ao lado da base da cauda ferrugem avermelhado mais avivado, as partes inferiores vermelho amarelado, as patas esbranquiçadas. A cauda tem metade do comprimento do corpo, bastante forte, mas afinando suavemente até a ponta; é peluda apenas na base, coberta na sua extensão com pelos curtos. As orelhas são bem pequenas, arredondadas. O focinho é curto. - O comprimento 4" 3'". - A cauda 2" 3'". - Observado em Minas Gerais, tanto por Augusto de St. Hilaire, bem como pelo Dr. Lund. (Essa descrição de D. brachyura veio de Temminck é de Monodelphis dimidiata, e  tanto o animal do Dr. Lund, quanto o de St. Hilaire, são o Colicorto de Azara: M. brevicaudis).

Nota 1. Sr. Dr. Lund coloca o Colicorto de Azara junto de D. brachyura Pall. Questionável para as espécies que ele observou. Esta última foi removida por Temminck e Desmarest de D. brachyura Schreber, e chamada por eles de D. tricolor. Esta cresce mais, tem 5 1/2" de comprimento do corpo, a cauda tem 3" e difere, em particular, nos pelos que decrescem da base da cauda para o meio. A cor também é 

142                                                                                     Bierte Fam. Beutelthiere. 

diferente, nas costas é cinza claro e nitidamente separada da cor lateral vermelho-ferrugem, o ventre é branco amarelado. Ela é encontrada na Guiana. 

O Colicorto de Azara (Quadr. I. 258. No. 26) de acordo com a descrição (no local já especificado) pertence a D. brachyura em vez de D. tricolor; ele diz expressivamente, que a cauda é grossa, como se fosse aparada, apenas 3'" de comprimento (não 5, como indicado na tradução francesa 297) peluda na base, a propósito 2 1/2" de comprimento, e o animal inteiro com 6 3/4"; as costas, ele diz, é cinza chumbo, as bochechas e os lados marrom canela, a área da barriga mais clara. Suas cores são geralmente pouco chamativas.

2. Sr. A. Wagner no d. Munch. Acad. V. 151. deixou claro, que as várias descrições de D. brachyura diferem muito umas das outras, e é por isso que eu registrei apenas uma aqui, a de Temminck. Lá ele (Wagner) descreve no número 11 uma D. glirina Natt. de Mato grosso, que considero seguramente como o Colicorto de Azara, se eu no tamanho do corpo como 6" 2'", e a cauda como 2" 6"', incluir a última, como Azara deve ter considerado.
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Burmeister, H. 1856. - Explanações sobre a fauna do Brasil, Contendo ilustrações e descrições detalhadas de espécies animais novas ou insuficientemente conhecidas.



6. Microdelphys nov. 

Anteriormente, eu deixei esse subgênero, que é peculiar em muitos aspectos, relacionado aos anteriores, porque naquela época eu só tinha uma espécie disponível; desde então eu mesmo examinei várias; e aprendi a apreciar suas diferenças mais corretamente. Até o formato da cabeça é muito diferente, o focinho é muito menor, mais estreito, mais pontudo; os olhos são muito menores e a pinna (orelha) muito menor. Estas últimas são reconhecidas por seus pelos finos e homogêneos, que são tão fortes que você quase não percebe a base carnuda na orelha seca. A pelagem também é mais curta, mas ainda parece muito suave ao toque. Porém especialmente a cauda sempre mais curta e densamente peluda torna os membros do Microdelphys reconhecíveis; o pelo cobre as escamas completamente e especialmente no estado seco, você não vê nenhuma delas. Finalmente, as patas são menores, principalmente o polegar de trás (hálux). O delicado esqueleto, na estrutura óssea, corresponde ao de Grymaeomys. O esqueleto do Didelphys tricolor, que pude examinar, possuia processos espinhosos curtos, finos e delicados em todas as vértebras cervicais e dorsais, apenas o epistrofeus (axis) possui um pente longo e moderadamente alto. Eu conto treze (13) vértebras com pares de costelas, seis (6) vértebras lombares, duas (2) vértebras sacrais, mas apenas dezenove (19) vértebras da cauda com um pequeno nódulo final, ou seja, dez (10) menos do que é comum aos didelfídeos de cauda longa. No entanto, pode-se supor que há mais vértebras em outras espécies com caudas um pouco mais longas, e que pode haver menos por causa da cauda, que é ainda mais curta, em Microdelphys tristriata do que em Microdelphys tricolor. 

A estrutura craniana é um pouco mais forte em geral, do que naquelas espécies de Grymaeomys com tamanhos semelhantes, especialmente o focinho é mais grosso na parte posterior. Em M. tristriata, existem cantos orbitais (processos) formais, quase como em Grymaeomys dorsiger, mas em tricolor estão ausentes. Não há diferenças decisivas na dentição; a pequena protuberância acessória média do lado de fora no entalhe principal dos dentes de mastigação está ausente e há uma incisão profunda no dente, assim como nas espécies grandes de Didelphys, ou há uma pequena protuberância secundária atrás do entalhe na segunda protuberância marginal principal. Os dentes do espaço (diástema) estão juntos e aumentam da frente para trás. O palato duro tem as duas longas e estreitas lacunas médias (forâmens), as posteriores estão ausentes; apenas os orifícios laterais atrás da fila de dentes estão presentes. Os seguintes tipos deste grupo são conhecidos.


3. Microdelphys brachyura.

Didelphys brachyura Schreber Saugethiere III 548. tab. 151.- Temm. Monogr. I. 58 .- Desmar. Mamm. 260. - Wagn. Schreb. Suplemento III. 51. 17. - Waterh. Mammal. L 522.- Idem Zool. Of the Beagle II. 97. pl. 39 .- Lund 1.1. III 237. u. IV. 63 - Burm. Syst. Uebers. I. 141. 13. 

Colicorto, Azara Apunt. para hist.. nat. de l. Quadrup. do Paraguai, L 258. nº 26.

Pelo cinza claro na parte superior, amarelo ferrugem nas laterais; Cauda com pelos curtos uniformes.

A espécie tem uma cabeça um pouco mais grossa do que o normal e os caninos superiores muito longos; seu pelo é curto e denso, bastante macio; por todo o dorso de cor cinza amarelado, quase como o do rato; marcadamente amarelo nas laterais, amarelo ferrugem nos flancos e bochechas, amarelo Isabel mais palido na barriga. A cauda tem metade do comprimento do tronco, moderadamente espessa, muito uniformemente vestida com pelos curtos e ajustados, exceto na base, onde o pelo é um pouco mais longo, e na ponta, onde é quase ausente. As orelhas não são exatamente grandes, arredondadas e vestidas com pelos finos e grisalhos; o olho não possui anel escuro, apenas a borda superior do olho é cinza mais escuro, assim como a testa e o topo do focinho, gradualmente lavados.

Comprimento total de 7 ½-8", dos quais 5 ½-6 ¼" no tronco, 2 1/3-2 ¾" na cauda. A espécie pertence às regiões do sul do Brasil e existe em Minas geraes, Paraguai e estado de La Plata, e a alegação de Temminck de que é encontrada na Guiana não foi confirmada recentemente, e uma boa ilustração pode ser encontrada na Zoologia do Beagle, por isso tenho uma que considero supérflua.

Nota: Sr. A. Wagner descreveu em Abh. d. Königl. Bayer. Academ. math. phys. Cl. V. 151. nº 11, uma Didelphys glirina, que considero seguramente um indivíduo pequeno, provavelmente não totalmente adulto de Microdelphys brachyura, as cores são exatamente as mesmas. Wagner aparenta não ter tido conhecimento do verdadeiro colicorto; os tamanhos 6" 2"' no corpo, 2" 6"' na cauda se encaixam muito bem às dimensões de Azara: 6 3/4" no corpo, 2 1/4" na cauda.

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No mencionado Abh. d. Kön. Bayer. Academie z. München (Tratado da Academia Real da Baviera em Munique) o Sr. A. Wagner descreveu, do inventário de Natterer, duas outras espécies que aparentemente pertencem a esse subgênero.

5. Microdelphys domestica, Didelphys domestica Natter. Wagn. l. l. 153. 10. Cinza-amarelado, lado de inferior branco amarelado pálido; Orelhas de tamanho moderado, cabeça sem listas. Cauda bastante grossa, com pelos brancos aderidos a ela. Cabeça e corpo 7", cauda 2" 4"'. De Cuyaba, no Mato Grosso.

6. Microdelphys unistriata, Didelphys unistriata Natter. Wagn. l. l. 156. 14. - Costas cinza avermelhado, com uma listra enegrecida longitudinal; superfície inferior amarelo ferrugem avermelhado pálido; Cauda curta, densamente pilosa. Cabeça e corpo 5"31’'’, cauda 2" 3’". De Itarary em São Paulo. 

7. Como Microdelphys alboguttata, pode finalmente ser citado aqui, um pequeno rato de bolsa de cauda curta, com várias fileiras de manchas brancas em fundo cinza, que se encontra no Museu Nacional em Rio de Janeiro, onde o príncipe zu Wied já o viu, já que ele o mencionou (Contribuições II. 412.). Aliás, não consigo descrever o animal com mais detalhes. Veja meu System Uebers I. p. 340, Apêndice.


LITERATURA CITADA:

Azara, F. de, 1801. Essais sur l’histoire naturelle quadrupedes de la province du Paraguay avec une appendice sur quelques Reptiles. Paris. p.295.

Azara, F. de, 1802, Apuntamientos para la Historia de los Quadrúpedos del Paraguay y de La Plata. Madrid. v.1, p. 258-261.

Bezerra, A. et al. 2018. Integrative taxonomy of the Amazonian red-sided opossum Monodelphis glirina (J.A. Wagner, 1842) (Didelphimorphia: Didelphidae). Zootaxa 4508 (1): 028–046.

Burmeister, H. 1854. Systematische Uebersicht der Thiere Brasiliens, welchewährend einer Reise durch die Provinzen von Rio de Janeiro und Minas Geraes gesammelt oder beobachtet wurden von Dr. Hermann Burmeister. Säugethiere (Mammalia). Berlin: Georg Reimer, 1:x+ 342 pp.

Burmeister, H. 1856. Erläuterungen zur Fauna Brasiliens, enthaltend Abbildungen und ausführliche Beschreibungen neuer oder ungenügend bekannter Thier-Arten. Berlin: Georg Reimer, ix+115 pp, 32 pls.

Erxleben, Johann Christian Polycarp. 1777. Systema regni animalis per classes, ordines, genera, species, varietates cum synonymia et historia animalium. Classis I, Mammalia. Lipsiae: Impensis Weygandianis, xlviii+636 pp.+64.

Geoffroy St.-Hilaire, E. 1803. Catalogue des mammifères du Muséum National d’Histoire Naturelle. Paris, 272 pp.

Gervais, P. 1855. Histoire naturelle de mammifères, avec l’indication de leurs moeurs, et de leurs rapports avec les arts, le commerce et l’agriculture. Paris: L. Curmer, 2:1–3, 1–344, 69 pls.

Gervais, P. 1856. Quatrièmemémoire. Sur quelques points de l’histoire zoologique des sarigues et plus particulièrement sur leur système dentaire. In Mammifères, ed P. Gervais, 95–103, 2 pls. In Animaux nouveau ou rares recueillis pendant l’expédition dans les parties centrales de l’Amérique du Sud, de Río de Janeiro a Lima, et de Lima au Para; exécutée par ordre du gouvernement Français pendant les années 1843 a 1847, sous la direction du comte Francis de Castelnau, ed. F. de Castelnau. Paris: P. Bertrand, 1:1–116, 20 pls., 1855.

Lund, P. W. 1838. Blik paa Brasiliens Dyreverden för sidste Jordomvaeltning. Förste Afhandling: Indledning. Lagoa Santa den 16 de Novbr. 1837. Det Kongelige Danske videnskabernes Selskabs naturvidenskabelige og mathematiske Afhandlinger ser. 4, 8: 61–144.

Lund, P. W. 1841. Blik paa Brasiliense Dyreverden for Sidste Jordamvaeltning. Fortsaehlese of Patterdyrene. Lagoa Santa, den 30te. Januar 1841. Kopenhagen.v.9, pt. 4, p.137-208.

Pallas, P. S. 1784. Didelphis brachyvra, descripta. - Acta Academiae Scientiarum Imperialis Petropolitanae1780 (2): 235-247, Tab. V.

Riede-Dom C. 1999. Johann Natterer e a Missão Austríaca. Ed Index, São Paulo, 247p.

Schreber, J. C. D. von. 1777. Die Säugthiere in Abbildungen nach der Natur mit Beschreibungen. Erlangen: Wolfgang Walther, 3:377–440, pls. 1776–78.

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Waterhouse, G. R. 1838. Mammalia. In The zoology of the voyage of the H.M.S. Beagle under the command of Captain Fitzroy, R. N., during the years 1832–1836, ed.C.Darwin, Fascicle 10 (pages vii–ix+49–97, pls. 25–32, 34) London: Smith, Elder and Co, 2:xii+97 pp., 35 pls, 1838–39. [Veja Sherborn 1897 para dados da publicaçao das partes.]

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