domingo, 15 de março de 2020

CAPÍTULO VI : Oldfield Thomas e a primeira Revisão do gênero Monodelphis (1888)

Michael Rogers Oldfield Thomas
Michael Rogers Oldfield Thomas um zoólogo britânico.

Ele trabalhou no Museu de História Natural com mamíferos, descrevendo cerca de 2.000 novas espécies e subespécies pela primeira vez. Ele foi nomeado para o escritório da secretaria do museu em 1876, transferindo-se para o departamento zoológico em 1878. Ele também fez trabalho de campo na Europa Ocidental e na América do Sul.

Em 1896, quando William Henry Flower assumiu o controle do departamento, ele contratou Richard Lydekker para reorganizar as exposições, permitindo que Thomas se concentrasse nesses novos espécimes.

Thomas viu seus esforços em taxonomia do escopo do imperialismo britânico. "Você e eu, em nossas vidas científicas, vimos o conhecimento geral dos mamíferos do mundo avançar maravilhosamente - há poucas ou nenhuma área em branco", disse ele em uma carta a Gerrit Smith Miller.

Aposentado oficialmente no museu em 1923, ele continuou seu trabalho sem interrupção e morreu em casa em 1929, aos 71 anos.

Em 1888, Oldfield Thomas realizou a primeira revisão do gênero Monodelphis. Nessa obra, além das 7 espécies já comentadas nas postegens anteriores, ele incluiu mais 4 espécies: M. scalops, M. iheringi, M. henseli e M. sorex, essas três últimas provenientes do Rio Grande do Sul, um esforço dos pesquisadores alemães Reinhold Friedrich Hensel e Hermann von Ihering.
Hensel descreveu Didelphys (Microdelphys) sorex em 1872, p.122, e foi homenageado por Thomas na sua Didelphys (Peramys) henseli em 1888, p.159, que Thomas na verdade, apenas nomeou.

Porém, dessas 4 "novas espécies", duas delas, como já vimos nas postagens anteriores, eram apenas equívocos, ou seja, sinônimos de espécies já descritas, mas que pareciam novas diante da falta de conhecimentos mais detalhados sobre essas catitas. A variação de tamanho que acontece na fase adulta desses animais, desconhecida na época, foi mal interpretada. Um dos 2 sintipos de M. sorex é uma fêmea adulta jovem de M. dimidiata, espécie que apresenta inclusive um grande dimorfismo sexual, e o tipo de M. henseli também foi fundado sobre uma fêmea adulta jovem da espécie de Azara, ou seja M. brevicaudis. Thomas não citou Azara nessa parte do trabalho, apesar de tê-lo citado em outros pontos do mesmo (Thomas listou cinco dos micourés de Azara, exceto o Colicorto). Talvez ele não tivesse a segurança necessária para decidir sobre isso. Vale lembrar que ele nesse mesmo trabalho colocou Didelphys glirina de Wagner na sinonímia de D. brevicaudata, talvez influenciado pela ideia da "ampla distribuição geográfica" de "Didelphis brachyura", mas certamente, também pela semelhança. No entanto ele reconheceu "Didelphys dimidiata" de Wagner, que foi tratada como "D. brachyura" por Waterhouse, e também por Hensel, como "Microdelphys brachyura", em sua descrição de "Microdelphys sorex". Thomas incluiu na sinonímia de M. brevicaudata até um exemplar de M. americana com eritrismo, que mais tarde ele descreveu como Peramys rubidus Thomas (1899:155). O que devemos entender, quanto a isso, é que o equívoco de Azara ao igualar o seu Colicorto ao Touan de Buffon, e posteriormente a reinterpretação, que Temminck estabeleceu sobre o fenótipo de Didelphys brachyura de Schreber, a ponto da descrição original ser totalmente substituida, acabou mantendo uma confusão, que perdurou por quase dois séculos,  e só agora está sendo objetivada,  pelas minhas mãos,  nesta série de postagens sobre a História do gênero Monodelphis.


Hermann Friedrich Albrecht von Ihering

Foi um médico, professor e ornitólogo teuto-brasileiro. Nasceu em Kiel, Alemanha em 1850 e morreu em Gießen, Alemanha em 1930. 

Hermann era próximo de espaços institucionais e círculos científicos, e mostrava um acentuado interesse pelos os estudos de Ernst Haeckel, um biólogo, filósofo, professor, naturalista, médico e artista alemão. 

Chegou ao Rio Grande do Sul, para se dedicar às pesquisas patrocinadas pelo governo imperial, em 1880. Viveu em Taquara até 1883, em Rio Grande e em São Loureço do Sul em 1885.  Naturalizado brasileiro em 1885, em 1892 mudou-se para São Paulo a fim de fundar o Museu Paulista, dedicado à história natural, do qual foi diretor por 25 anos. 

Praticamente tudo que Oldfield Thomas publicou sobre as catitas do Rio Grande do Sul, foi material enviado por Ihering. Proveniente de Taquara e de São Lourenço do Sul.


Em 1888, Oldfield Thomas publicou Diagnósis de quatro novas espécies de Didelphys. Dessas quatros espécies, três delas eram do gênero Monodelphis, na época descritas no gênero Didelphys, e duas delas foram homenagens, a Hermann Ihering e a Reinhold Hensel. Posteriormente, Thomas se tornaria o autor da maioria das espécies de Monodelphis, ainda que algumas delas se revelariam apenas sinônimos de espécies já conhecidas,  ou simplesmente variações locais,  como no caso de M. maraxina, variação regional de M. domestica.
 
Acima uma figura da publicação original de Thomas, 1888 das espécies Monodelphis scalops e M. iheringi, 
ambas válidas, e de M. henseli, apenas um sinônimo de M. brevicaudis de Olfers, 1818
 

As figuras acima representam as espécies descritas por Thomas em Diagnósis de quatro novas espécies de DidelphysEssas ilustrações fazem parte do Catálogo dos Marsupiais e Monotremados na coleção do Museu Britânico. O que por sua vez mostra claramente, que Thomas em 1888, assim como Wagner que em 1842, ao descrever as 3 espécies coletadas por Natterer, acabou se envolvendo igualmente numa "revisão" do que hoje é Monodelphis.


No Catálogo dos Marsupiais e Monotremados na coleção do Museu Britânico, Thomas dividiu o gênero Didelphys em 5 subgêneros, como vemos na figura acima. Colocando em PERAMYS de Lesson, as espécies que hoje formam o gênero Monodelphis. A figura abaixo é uma tradução da definição introdutória, que Thomas utilizou na apresentação das espécies. Nesse arranjo, Thomas excluiu a espécie Didelphys (Micoureusvelutinque  constava no subgênero Microdelphys de Burmeister (1856). Além de incluir 5 novas espécies D. dimidiata, D. scalopsD. iheringiD. henseli D. sorex. Lembrando que, as 2 últimas mostraram ser apenas sinônimos juniores.




Lesson (em 1842) dividiu o gênero Didelphis em 3 grupos, totalmente artificiais, sem nenhuma definição e bem caóticos. Peramys incluia as espécies brachyurus, crassicaudata, tristriata e pusilla, e a espécie D. tricolor (que é um sinônimo de D. brachyurus) foi tratada como Micoureus tricolor. O termo Peramys significa : "rato de bolsa", equivalente ao antigo termo alemão para opossum : "Beutelratte". Thomas atribuiu uma definição precisa ao termo (veja na figura acima), tornando-o inclusive, um grupo natural  (o que considero um avanço).



A figura acima, nos permite uma comparação entre as espécies listadas por Wagner em 1855, com aquelas listadas por Thomas em 1888, colocadas então no gênero Didelphis, mas hoje consideradas como parte do gênero Monodelphis. Em primeiro lugar vamos notar, que apenas duas delas estão presentes em ambas as listas, D. unistriata e D. domestica. Em segundo lugar vamos considerar, que algumas espécies foram descritas, só depois de 1855 (aquelas marcadas com setas vermelhas). Nesse segundo caso temos, as 3 espécies de Thomas, D. scalopsD. henseli D. iheringi; a espécie de Hensel e a de Burmeister, respectivamente D. sorex e D. alboguttata. As demais espécies já haviam sido discutidas por Wagner em suas publicações, no entanto foram alteradas por Thomas, em suas atribuições taxonômicas. No caso de D. dimidiata, Wagner havia sugerido esse nome em 1847, para o exemplar descrito por Waterhouse como D. brachyura, em 1839: 97. No entanrto, ele mesmo não a listou em 1855, cabendo a Thomas esse papel. Por sua vez, Thomas não reconheceu D. glirina de Wagner como uma espécie válida,  e assim como Burmeister em 1854 e 1856, sinonimizou-a a D. brachyura. Quanto a D. tricolor, Thomas também a sinonimizou com D. brachyura, o que Cuvier já havia feito. Por questões de precedências, Thomas adotou D. brevicaudata de Erxleben, 1777, para D. brachyura Schreber, 1778  e  D. americana de Müller, 1776 para D. tristriata Kuhl, 1820.

A figura acima mostra os crânios das espécies ilustradas por Thomas no "Catálogo dos Marsupiais e Monotremados na Coleção do Museu Britânico" de 1888. As 3 espécies que ele descreveu nesse mesmo ano, mais a espécie de Wagner que ele reconheceu: Didelphys dimidiata.


14. Didelphys dimidiata.

- Didelphys brachyura, Waterhouse. Cat. Mamm. Mus. Z. S. p. 64 (1838)(nec Schreb.) ; idem Zool. Voy. Beagle, Mamm. p. 97, pl. XXXII. (animal) (1839) ; idem. Jard. Nat. Libr., Mamm. XI. p. III (1841) ; idem. N. H. Mamm. I. p. 522, pl. xvi. fig.3 (animal) (1846); Burmeister. Thiere Bras. I. p. 141 (1854) ; idem Republ. Argent., p. 194 (1879).
- Didelphys dimidiata, Wagner. Abh. Ak. Münch, v. p. 161 (nota de rodapé)(1847).
- Microdelphys brachyura, Burmeister. Erläut. Fauna Bras, p. 86 (1856) ; Hensel. Abh. Ak. Berl. 1872, p. 122

Mucura de flancos amarelos. (Yellow-sided Opossum)

Tamanho grande. Pelo curto, grosso e áspero, Cor geral cinza pálido grisalho ao longo da coroa e parte superior das costas, amarelo-alaranjado vivo nas laterais e barriga. Focinho longo e delgado; rinário com uma pequena extensão projetada para trás no centro de sua borda postero-superior. Orelhas arredondadas, muito curtas, com comprimento não igual à largura e, quando dispostas para a frente, quase não atingindo o olho; projeção basal ântero-interna e metatrágios grandes e bem desenvolvidos. Cor do corpo como já descrito. Peito (nos machos) com uma glândula, na mesma posição de Myrmecobius (ver supra, p. 311), mas sem as aberturas maiores e mais proeminentes. Braços e pernas amarelos, mãos e pés mais acinzentados. Pele de sola áspera e grossa; almofadas traseiras não tão nitidamente definidas como nas outras espécies, cinco em número, a pequena almofada posterior externa habitual, ausente. Cauda apenas cerca da metade do comprimento da cabeça e do corpo, espessa, uniformemente afilada, vestida em sua extensão com numerosos pêlos finos e curtos, castanhos em cima, amarelados em baixo.
Crânio (Pl. XXVII. Fig. 4) de forma muito diferente da das outras espécies. Focinho estreito, muito convexo em cima, não achatado. Região orbitotemporal extremamente estreita, face paralela; a caixa cerebral também é muito estreita em proporção ao zigomata corajosamente expandido. Os processos pós-orbitais presentes, embora pequenos nos adultos, e ficando bem marcados em indivíduos velhos, como o exemplar apresentado. A crista temporal se desenvolve cedo, tornando-se muito alta e proeminente na velhice. Palato com um único par de forâmens opostos a m2 e m3
Dentes. Caninos, superiores e inferiores, muito longos e fortes. Os pré-molares superiores não se tocam, p4 muito maior que os outros. Molares pequenos e delicados, os comprimentos combinados dos 3 primeiros cerca de 5 ou 5,2 milimetros. Pré-molares inferiores aumentando rapidamente de altura para trás. Série molar inferior de cerca de 6,6 milimetros.

                                                                                                   Dimensões
Macho a (em meio líquido). Adulto Velho. Cabeça e corpo 150 - Cauda 80 - Perna 28    - Pé 17  - Do focinho ao olho 15,5 - Orelha 7,6 (mm).
Macho b (em meio líquido). Adulto.           Cabeça e corpo 135 - Cauda 66 - Perna 24,5 - Pé 15,5 - Do focinho ao olho 15 - Orelha 7,1  (mm).
Crânio, veja p. 367

Hab. Sul do Brasil e Uruguay. Tipo na Coleção.

a. Adulto velho, álcool,      Macho.            Taquara, Rio Grande do Sul.                                   Dr. H, von Ihering [C.]
b. Adulto, álcool, Crânio    Macho.   São Lourenço, Rio Grande do Sul.                                   Dr. H, von Ihering [C.]
c. Adulto, pele, Crânio       Macho.    Maldonado (C. Darwin)                   Zool. Soc. (Voy 'Beagle') (Tipo da espécie.)
d. Adulto, pele, Crânio       Macho.                                                                                      Haslar Hospital Collection

15. Didelphys brevicaudata.

- Mus sylvestris americanus, Seba, Thesaurus I, p.50, pl. XXXI, fig.6 (animal) (1734).
- Didelphys brevicaudata, Erxleben, Syst. Regn. An. p.80 (1777) *; Zimmermann.Geogr. Gesch. II. p.227 (1780); Bodd. Elmch. Anim. I. p.77 (1785).
- Didelphys brachyura, Schreber. Säug. III. p.548, pl. CLI. (animal) (1778): Pallas. Act. Ac. Petrop. 1780, II. p.235, pl. V. (animal); Gmel Linn. S. N. I. p.108 (1789); Kerr, Linn. An. K. p.196 (1792); Donnd. Zool. Beytr. I. p.353 (1792) ; G. Cuv. Tabl. Elém. p.125 (1798) Bechst. Syst. Uebers. vierf. Thiere, II. p.685 (1800); Shaw, Gen. Zool. I. pt. II. p.479 (1800); E. Geoff. Cat. Mus. p.145 (1803); Desm. N. Dict. d'H. N. (1) xx. p.147 (1803); Turt. Linn. S. N. I. p.67 (1806); G. Cuv. R. A. I. p.174 (1817); Desm. N. Dict. d'H. N. (2) IX. p. 429 (1817); Desmoul Diet. Class. d'H. N. v. p. 492 (1824); Temminck. Monographies de Mammalogie. I. p.53 (1827) (M. dimidiata); Gray, Griff. Cuv. An. K. V. p.190 (1827); Less. Man. Mamm. p.212 (1827); Desm. Dict. Sci. Nat. XLVII. p.398 (1827); J. B. Fisch. Syn. Mamm. p.269 (1829); Wagn. Schr. Säug. Supp. III. p.51 (1843), V. p.251 (1855); Schinz, Syn. Mamm. I. p.519 (1844); Gieb. Säug. p.716 (1859); Jent. Cat. Ost. Leyd. Mus. p.302 (1887).

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* Esta espécie é conhecida como D. brachyura, Schreber, mas, além das datas nas páginas de rosto do terceiro volume de Schreber e da obra de Erxleben, D. brevicaudata é mostrado como o nome mais antigo por uma referência às citações de cada livro. Ambos os trabalhos parecem ter sido publicados em partes, cuja edição continuou simultaneamente. 
As referências de Schreber, a Erxleben começam na p.457 e se referem no máximo a página 448 da obra deste último. Tudo depois da p.457 de Schreber, portanto, é mais antigo do que tudo anterior a p.448 de Erxleben. Por outro lado, as referências de Erxleben ao texto de Schreber começam com o gênero Canis, p.533, a partir daí, portanto, Erxleben teria que dar lugar a Schreber até e incluindo o gênero Canis deste último, terminando na p.374. A questão é ainda mais complicada com a publicação separada das pranchas com letras de Schreber, que por si só dariam prioridade a seus nomes sempre que seu aparecimento anterior fosse mostrado pelas referências de Erxleben a elas. 
No caso das espécies presentes, nenhuma referência à outra sendo feita por nenhum dos autores, a regra geral quanto à paginação entra em operação, e Erxleben (p.80) claramente tem precedência sobre Schreber (p.548).
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- Sorex surinamensis, Gmelin. Linn. S. N. I. p.114 (1789); Kerr, Linn. An. K. p.206 (1792). (não corresponde a M. brevicaudata).
- Viverra touan, Shaw, Gen. Zool. I. pt. II. p.432 (1800).
- Mustela touan, Bechstein. Syst. Uebers. vierf. Thiere, II. pp. 358 & 687 (1800).
- Didelphys tricolor, E. Geoffoy. Cat. Mus. p.144 (1803); Desm. Mamm. I. p.260 (1820); Temm. Mon. Mamm. I. p.52 (1827); Desm. Diet. Sci. Nat. XLVII. p.397 (1827) ; Less. Man. Mamm. p.212 (1827); J. B. Fisch. Syn. Mamm. p.268 (1829); Less. H. N. Mamm. (Compl Buff.) V. p.365 (1836); Waterh. Jard. Nat. Libr., Mamm. XI. p.109 (1841); Wagn. Schr. Säug. Supp. III. p. 50 (1843), V. p.256 (1855); Schinz, Syn. Mamm. I. p.509 (1844); Waterh. N. S. Mamm. I. p.520 (1846); Gieb. Säug. p.716 (1859); Schleg. Dierent. p.160 (1872); Jent. Cat. Ost. Leyd. Mus. p.302 (1887).
- Philander brachyurus, Tiedemann. Zool. p.428 (1808).
- Didelphys brevicaudis e tuan, Illiger. Abh. Ak. Berl. 1811, p.107 (1815).
- Didelphys sebae, Gray, Griff. Cuv. An. K. V. p.190 (1827).
- Didelphys hunteri, Waterhouse. Jard. Nat. Libr., Mamm. XI. p.110 (1841); id. N. H. Mamm. I. p.524 (1846).
- Peramys tricolor e brachyurus. Lesson. N. Tabl. R. A., Mamm. pp.186-7 (1842).
- Didelphys glirina, Wagner. Arch. f. Nat. VIII. p.359 (1842); id. Abh. Ak. Münch. v. p.150 (1847);. id. Schr. Säug. Supp. V. p.253 (1856); Gieb. Säug. p.717 (1859); Natt. Pelz. Bras. Säug.,Verh.z.-b. Wien, XXXIII. Anh. p.117 (1883).
- Hemiurus brachyurus e tricolor, Gervais.H. N. Mamm. II. p.287 (1855).
- Microdelphys tricolor, Burmeister. Erläut. Fauna Bras, p.85, pl. XVI. fig. 1 (animal) (1856).

Mucura de flancos avermelhados. (Red-sided Opossum)

Tamanho grande para o grupo; forma sólida e rude. pelos retos, um tanto eriçados. Cor geral das superfícies dorsal e laterais castanho-avermelhado intenso, às vezes totalmente uniformes [aqui Thomas está se referindo ao exemplar a. ou seja, o tipo de Peramys rubidus ], às vezes levemente ou totalmente cinza grisalhos ao longo da superfície superior da cabeça e das costas. Borda inferior do rinário com um entalhe lateral em cada lado do sulco central; borda postero-superior transversal, nada, ou pouco, projetada para trás no centro. Orelhas bem grandes para este grupo, caídas para a frente (nos espécimes conservados em meio líquido), alcançam o centro do olho. Costas e laterais como já descritas; queixo, peito e barriga, branco sujo, mais ou menos misturados com cinza ou ruivo. Bolsa ausente; mamas 4-1-4 ou 5-1-5 = 9 ou 11. Braços e pernas profundamente ruivos, mãos e pés por cima, brancos ou marrom sujo. O quinto dedo do pé mal chega ao final da segunda falange do quarto; almofadas pequenas, muito distintas, almofada do hálux (hallucal) distintamente subdividida em duas, a pequena almofada extena posterior, presente ou ausente. Cauda com cerca de dois terços do comprimento da cabeça e corpo, sua porção pilosa terminando após cerca de meia polegada por baixo, mas se reduzindo gradualmente para trás no lado superior, por cerca de metade do comprimento da cauda.
Crânio grande e de construção robusta, com focinho cônico largo. Região interorbital larga, sem sulcos, com bordas suavemente arredondadas; nenhum traço de processos pós-orbitais. Palato com um par de forâmens muito estreitas oposto aos dois molares anteriores.
Dentes grandes e fortes. Os caninos superiores curtos e grossos. Pré-molares grandes, aumentando uniformemente de tamanho para trás, p1 quase preenchendo ou totalmente, o espaço entre o canino e p3. Molares grandes, triangulares, os comprimentos combinados dos três anteriores variando de 5,8 a 6,8 mm. P3 Inferior e p4 aproximadamente iguais em tamanho.Séries molares inferiores em torno de 8 a 8,8 mm.
                                                                                       
                                                                                           Dimensões
Macho (em meio líquido).      Adulto. Cabeça e corpo 150 - Cauda 187 - Pé 23 - Orelha 12 (mm). No Museu de Stuttgart
Fêmea b (em meio líquido).   Adulto. Cabeça e corpo 130 - Cauda 70 - Perna 28 - Pé 19 - Orelha 11,5 - Do focinho ao olho 16 (mm).
Crânio, veja p. 367

Hab. Guiana e Brasil.
Tipo não existente.  (na verdade o Tipo existe, é o exemplar   B.M. 4.12.540)

a.    Adulto. pele, Crânio              Macho    Bahia.      Comprado. (se tornaria Tipo de Peramys rubidus, Thomas 1899)
b,c  Adulto alcool, Crânio de    Fêmea                    Lidth de Jeude Coll. (Tipo B.M. 4.12.540)
d.    Adulto alcool, Crânio             Macho                    Lidth de Jeude Coll.
e.    Adulto. pele, Crânio                                             H. W. Bates, Esq. [C.]
f.     Adulto alcool, Crânio             Fêmea                   Royal College of Surgeons [E.].   (Tipo de Hunteri, Waterhouse)    

Foto do crânio do holótipo de Monodelphis brevicaudata, Erxleben 1777.
O exemplar de Albertus Seba, o mais antigo holótipo de Monodelphis existente.
                                                                       
16. Didelphys domestica.

- Didelphys domestica, Wagner. Arch. f. Nat. VIII 359 (1842); Schinz, Syn. Mamm. I. p.506 (1844); Wagn. Abh Ak. Münch, V. p.153 (1847); id. Schr. Säug. Supp. V. p.255 (1855); Gieb. Säug. p.717 (1859); Natt. Pelz. Bras. Säug., Verh. z.-h. Viena, XXXIII. Anh. p.117 (1883).
- Hemiurus hunteri, Gervais. Casteln. Am. Sud, Mamm. p.101, pls. XVI. fig.2 (animal) e XX. fig. 1 (crânio) (1865) (nec Waterhouse)† (Essa determinação é baseada na autoridade do espécime a, recebido da mesma coleção que o indivíduo do Prof. Gervais).
- Hemiurus concolor, Gervais. op. cit. legenda para a pl. XVI. (1855)

Tamanho grande. Pelo grosso, reto e macio. Cor geral cinza pálido. Rosto uniformemente cinza, sem marcas mais escuras ao redor dos olhos. Orelhas grandes e arredondadas, caídos para a frente (nos espécimes em meio líquido), atingem o canto anterior do olho. O topo da cabeça e o dorso é cinza grisalho uniforme ou cor de rato, bochechas e lados com um tom mais pálido ou mais amarelado (mas não com a cor laranja distinta de D. dimidiata). Queixo, peito e barriga brancos ou acinzentados, às vezes com um tom de amarelo. mamas 5-3-5 = 13 * (em 4 espécimens). Braços e pernas, mãos e pés cinza. Quinto dedo do pé, atingindo o meio da segunda falange do quarto. Cauda com pouco mais da metade do comprimento da cabeça e corpo, peluda na base por meia polegada, cinza, o restante com pelos curtos, marrom escuro.
Crânio muito robusto e espesso. Região interorbital larga e achatada, com bordas arredondadas. Cristas temporais ausentes ou formadas apenas em extrema idade avançada; sem processos pós-orbitais.
Dentes grossos e poderosos. Pré-molares superiores aumentando uniformemente de tamanho para trás. Molares com tamanho muito variável, o comprimento dos três anteriores variando de 6,2 a 7,7 milimetros. Pré-molares inferiores p3 e p4 aproximadamente iguais. Comprimento das séries molares inferiores de 9 a 10 milimetros.

                                                               Dimensões.
                                   Fêmea, Museu de Viena (em meio líquido), Adulta.
                                                                                        mm.
                                              Cabeça e corpo.................131
                                              Cauda .................................75
                                              pé........................................18
                                              Do focinho ao olho..............17,3
                                              Orelha..................................15
                                              Crânio, veja p. 367
Hab. Brasil.
Co-tipos nos museus de Viena e Munique e na Coleção.

a. Imaturo, pele e crânio. Macho.      Goyaz, Brasil.            Conde de Castelnau [P. & C.].
b. Adulto, st. crânio. Macho.              Brasil.                        Comprado.
c. Adulta, pele e crânio. Fêmea.        Cuyaba, São Paulo    Museu de Viena. (Natterer). 21/04/1824
    (um dos co-tipos da espécie.)

17. Didelphys scalops (Prancha III. Fig. 2.)

Didelphys (Peramys) scalops, Thos. Ann. Mag. N. H. (6) i. p.158 (1888).

Tamanho como nas espécies anteriores, mas forma um pouco mais delgada e mais leve. Pelo curto, reto e nítido. Cor geral ruivo e cinza, organizadas conforme detalhado abaixo. Toda a cabeça, rosto, bochechas e queixo, ferrugem ou alaranjados. Orelhas grandes e arredondadas, com projeções basais anteriores bem marcadas. Costas e ombros grisalhos, os cabelos misturados em preto e branco. Traseiro e ancas castanho vivo e denso. Queixo ruivo; peito e barriga grisalhos cinza-oliva, apenas um pouco mais pálidos que as costas. Frente dos braços e parte externa das pernas ruivos, contrastando com o cinza da superfície inferior; mãos e pés marrom escuro. Cauda com cerca da metade do comprimento da cabeça e do corpo; apenas peluda em sua base extrema, o restante bem coberta de  com pêlos finos e curtos, de cor uniforme e densa.
Crânio (Pl. XXVII. Figs. 5 e 6) longo e esbelto; focinho muito estreito, especialmente na região imediatamente anterior às órbitas. Nasais anormalmente longos em proporção, não acentuadamente achatadas posteriormente. Espaço interorbital bastante estreito, suas bordas suavemente arredondadas; nenhum traço de processos pós-orbitais ou sulcos temporais. Palate com um único par de forâmens estreitos opostos a p4, m1 e  m2.
Dentes pequenos, fracos e delicados. Caninos longos e finos. Pré-molares superiores aumentando de tamanho para trás, p4 desproporcionalmente maiores que p3. Molares muito pequenos e delicados, o comprimento dos três anteriores cerca de 4,7 milimetros. Pré-molar inferior p4 aproximadamente igual a p3. Série de molares inferiores de cerca de 6,2 milimetros.

                                                   Dimensões
                                                macho a (pele). adulto.
                                                                             mm.
                                         Cabeça e corpo..........133
                                         Cauda.......................... 71
                                         Perna......................(c.) 33
                                         Pé...........................(c.) 19
                                         Do focinho ao olho........15
                                         Orelha............................ 8 (seca)
                                         Crânio, veja p.367

Hab. Brasil. Tipo na coleção.
Se a coloração peculiar desta mucura será considerada constante ou não, é impossível decidir, mas a espécie é bastante distinta de qualquer outra simplesmente pelos caracteres do crânio e da dentição. Os dois espécimes da coleção concordam entre si em todos os aspectos essenciais.

a. adulto pele crânio Macho, Brasil. Lord Derby [P.]. Tipo da espécie .
b. adulto pele crânio Fêmea, Sem história.



18. Didelphys henseli (Prancha IV. Fig.1.)       (Este é o verdadeiro "Colicorto de Azara" ver no LINK)

Didelphys (Peramys) henseli, Thos. Ann. Mag. N. H. (6) i. p.159 (1888).

Mucura de Hensel.

Tamanho marcadamente menor que em qualquer das espécies anteriores, aproximadamente igual ao de D. americana. Pelo curto, reto e firme. Coloração geral, semelhante aos espécimes de D. brevicaudata, com dorso cinza. Rinário nu, projetando-se para trás no centro na parte superior do focinho. Orelhas muito pequenas e arredondadas, dispostas para a frente, atingem apenas a metade do caminho em direção ao olho; sua projeção basal interna e metatragus bem desenvolvidos. Centro do rosto, coroa, nuca e todo o centro das costas cinza-oliva uniforme, finamente grisalho. Bochechas, anel estreito e redondo, laterais do pescoço, ombros, flancos, quadris e base da cauda ruivo vivo. Queixo claro avermelhado; peito e barriga com os pelos basalmente cinza, vermelho terminal. Mamas (Pl. XXVIII. Fig.6) extremamente numerosas, as duas séries laterais, por vezes, percorrendo todo o caminho logo atrás do axilas e para trás quase até a vulva, o conjunto mediano consistindo de cinco, dispostos como mostrado na figura, a fórmula variando de 6-5-6 = 17 a 11-5-11 = 27 *. Braços e pernas totalmente, avermelhado vivo; mãos e pés castanho claro. Almofadas traseiras (Pl. XXVIII. Fig.5) pequenas, arredondadas e salientes, as duas partes da almofada do hálux amplamente separadas. Cauda aproximadamente igual em comprimento à cabeça e corpo, apenas a base é peluda, o restante escamoso, quase nua; apenas alguns pêlos finos e finamente espalhados estão presentes, castanhos em cima, vermelhos em baixo.
Crânio (Pl. XXVII. Fig.7) curto e robusto. Espaço interorbital uniformemente arredondado; sem processos pós-orbitais ou sulcos temporais.
Dentes estreitos e delicados. Pré-molares superiores aumentando acentuadamente para trás, p3  desproporcionalmente menores que p4. Comprimento dos três molares superiores anteriores cerca de 4,3 milimetros. Menor p4 um pouco mais do que p3. Série molar inferior com cerca de 6 milimetros de comprimento.

Monodelphis henseli Thomas, 1888 - Holótipo ( crânio ).
Trata-se de uma fêmea adulta, não totalmente desenvolvida.
     
                                                               Dimensões.                                                       
Macho +                                               - Cabeça e corpo 108; Cauda 55 (mm).
Fêmea a (em meio líquido) Adulta.       - Cabeça e corpo 106; Cauda 62; Perna 22; Pé 15,5; Do focinho ao olho 13; Orelha 5,3  (mm). 
Crânio, veja p.367

Hab. Entre Rios e Rio Grande do Sul. Tipo na coleção.
Sem dúvida, essa espécie foi referida por Hensel em seu artigo sobre os mamíferos do sul do Brasil,  Abh. Ak. Berl. 1872, p.123.

a-e - 2 Fêmeas adultas e 3 jovens. em álcool. - Taquara, Rio Grande do Sul. - Dr. H. von Ihering [C.] Crânio de a (a. Tipo da espécie)
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* O tipo tem 11 de um lado e 9 do outro, isto é, 11-5-9 = 25. O espécime b está em péssima condição para determinar o número exato. Por outro lado, um exemplar desta espécie de Entre Rios, preservado no Museu de Gênova, e gentilmente emprestado a mim pelo Marquês Gr. Doria, tem apenas 6-5-6 = 17; mostrando assim que, enquanto as séries externas são variáveis em número, o conjunto do meio é razoavelmente constante.
+Exemplar de Hensel,  loc. infrà cit.
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19. Didelphys sorex.  (Espécie baseada em adultos jovens de Monodelphis dimidiata)

Microdelphys sorex, Hensel Abh. Ak. Berl. 1872, p. 122. 

Mucura musaranho

Tamanho muito pequeno, forma esbelta e delicada. Pelo reto e firme. Cor geral cinza por cima, ruivo nas laterais. Focinho longo, estreito e pontudo, a cabeça inteira extraordinariamente esbelta. Rinário liso e nu, seu sulco central e os entalhes laterais em sua borda inferior quase obsoletos. Orelhas de tamanho médio, dispostas para a frente (nos espécimes em meio líquido), ficam aquém do canto posterior do olho em cerca de 2 ou 3 milimetros. Centro da face grisalho cinza, contínuo com o cinza das costas; um ponto ruivo mal definido acima de cada olho e uma área ruiva proeminente na frente de cada orelha; toda a face, flancos e parte externa dos quadris ruivo pálido. Queixo um ruivo amarelado claro; peito e corpo semelhantes, mas os pelos de cor ardósia basalmente. Braços e pernas como a barriga. Cauda de metade a dois terços do comprimento da cabeça e do corpo, finamente pilosa, marrom por cima, ruivo pálido  por baixo, o terço basal de uma polegada pilosa como o corpo.
Crânio muito leve e delicado. Focinho longo e estreito, não achatado posteriormente. Região interorbital estreita, suas bordas suavemente arredondadas, mas com  uma inflação minúscula presente em cada lado na posição usual dos processos pós-orbitais, resultando em que a largura intertemporal é maior que a largura interorbital. Zigomata fino e fraco, pouco expandido, a maior largura zigomática pouco mais que a metade do comprimento basal do crânio.
Dentes. Caninos superiores curtos. P1 e P4 são aproximadamente iguais em tamanho. Comprimentos combinados dos três molares anteriores 4,5 a 5 milimetros. Pré-molar inferior p4 distintamente menor que p3. Comprimento das séries molares inferiores cerca de 6 milimetros.

                                                           Dimensões
Macho * (em meio líquido)               - Cabeça e corpo 72; Cauda 46 (mm).  * De Hensel, loc. cit.
Fêmea a (em meio líquido) Adulta.   - Cabeça e corpo 67; Cauda 45; Perna 16; Pé 12; Do focinho ao olho 9; Orelha 5,2.  (mm).
Crânio, ver p. 367

Hab. Rio Grande do Sul. Tipo no Museu de Berlim. p.363.

a, b. Adultos, Álcool, Crânio de a. Fêmea     - Taquara, Rio Grande do Sul.                    (Dr. H. von Ihering) na Coleção.    
c. Adulto, Pele,  Crânio                                - San Lorenzo do Sul, Rio Grande do Sul. (Dr. H. von Ihering) na Coleção.    
d. Imaturo. Crânio.                                      - San Lorenzo do Sul, Rio Grande do Sul. (Dr. H. von Ihering) na Coleção.


20. Didelphys americana.

Sorex americanus, Müller. Linn. Natursyst. Supp. VII. p.36 (1776).
Sorex braziliensis, Erxleben. Syst. Regn. An. I. p.127 (1777); Schreb. Säug.III. p.577 (1778); Zimm. Geogr. Gesch. II. p.386 (1780); Bodd. Elench. Anim. I. p.125 (1785); Gmel. Linn. S. N. I. p.115 (1789) ; Kerr, Linn. An. K. p.206 (1792); Shaw, Gen. Zool. I. pt. ii. p.535 (1800).
Didelphys tristriatus, Illiger. Abh. Ak. Berl. 1811, pp.107, 112 (1815); Kuhl, Beitr. Zool. I. p.63 (1820); Schinz, Cuvier. Thierr. I. p.252 (1821); J. B. Fisch. Syn. Mamm. p.269 (1829); Less. H. N. Mamm. (Compl. Buff.) V. p.365 (1836); Waterhouse. Cat. Mamm. Mus. Z. S. p. 64 (1838); id. Jard. Nat. Libr., Mamm. XI. p. 107, pl. III. (animal) (1841); Wagn. Schr. Säug. Supp. III. p.52 (1848), V. p.250 (1855); Schinz, Syn. Mamm. I. p.511 (1844) ; Waterh. N. H. Mamm. I. p.518 (1846); Burm. Thiere Bras. I. p.140 (1854); Gieb, Säug. p.716 (1859); Natt. Pelz. Bras. Säug., Verh. z.-b. Wien, XXXIII. Anh. p.116 (1883); Jentik Cat. Ost. Leyd. Mus. p.302 (1887).
Didelphys trilineata, Lund, Blik. Bras. Dyrev., Dansh. Afh. VIII. p.237 (1841) (nom. nudum).
Peramys tristriata. Lesson. N. Tabl. R. A., Mamm. p.187 (1842).
Hemiurus tristriatus, Gervais. H. N. Mamm. II. p.287 (1855).
Microdelphys tristriatus, Burmeister. Erläut. Faun. Bras. p.84, pl. XVI. fig.2 (animal), pl. XI. fig. 7 (crânio) (1856).


Mucura de três listras comum.

Tamanho médio. Pelo curto, reto e firme. Cor geral cinza ou ruivo, listrado dorsalmente. Face cinza, uma faixa central escura começando entre os olhos e continuando no centro do pescoço e nas costas; bochechas mais ou menos ruivas. Orelhas de tamanho médio. Cor de fundo no dorso cinza-oliva anteriormente, passando gradualmente para uma ruivo profundo na garupa e nos quadris, as três linhas escuras geralmente muito proeminentes, a mediana, como já observado, começando entre os olhos, os laterais nos ombros. Alguns espécimes, no entanto, têm as costas inteiras quase uniformes, as listras pouco mais escuras que as demais *. Queixo ruivo pálido; peito e barriga ruivos ou cinza-oliva esbranquiçado. Mamas 5-5-5 = 15, a série externa disposta em uma curva na qual o par anterior está alinhado com o conjunto interno, e pode quase ser considerado como pertencendo a eles. Braços e pernas cinza avermelhado. O quinto dedo alcançando o pé traseiro até o final da segunda falange da quarta; nenhum traço do posterior pós-externo minúsculo pé traseiro presente na maioria das espécies.
Crânio suavemente arredondado por cima. Espaço interorbital amplo, convexo por cima, um projeção fraca na posição habitual do processo pós-orbital, mas o intertemporal menor que a largura interorbital, como de costume.
Dentes. Pré-molares superiores grandes, aumentando uniformemente de tamanho para trás.
Comprimento de três molares superiores anteriores cerca de 5 milimetros, e das séries molares inferiores de 6,5 a 7 milimetros. Pré-molar inferior p4 ligeiramente maior que p3.
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* Isso pode ser uma questão de estação, pois há no Museu de Paris um espécime com a metade anterior do corpo indistintamente listrada de ruivo e a metade posterior listrada de preto, como de costume; o espécime estaria, portanto, em processo de mudança.
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                                                                                          Dimensões
Macho  (*)  (em meio líquido). Adulto.     Cabeça e corpo 130 - Cauda 59 - Pé 20 - Orelha; 9  (mm).
Fêmea  +                                              Cabeça e corpo 107 - Cauda 61 - Pé 18 - Do focinho ao olho 14,5 - Orelha; 9  (mm).
Crânio, veja p. 367

Hab. Brasil. Tipo não existente.

a adulta pele crânio     Fêmea      Brasil.        Zool. Soc. Coll.
b adulto pele crânio     Macho      Brasil.
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Apud Burmeister, Erläut. Faun. Bras. p.84.
+ de uma amostra em meio líquido preservada no Museu de Berlim.
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21. Didelphys iheringi. (Plancha IV. Fig. 2.)

Didelphys (Peramys) iheringi, Thomas. Ann. Mag. N. S. (6) I. p.159 (1888).

Mucura de três listras menor.

Tamanho muito pequeno. Pelo muito curto e firme. Coloração exatamente como na forma comum de D. americana, isto é, cinza-oliva na cabeça e nas costas, ruivo brilhante na garupa e nos quadris; com três faixas longitudinais negras descendo pelas costas, a mediana entre os olhos e o par lateral logo acima dos ombros. Orelhas (Pl. XXVIII. Fig. 7) de tamanho médio, largamente arredondadas, dispostas para a frente (nos espécimes em meio líquido), elas atingem apenas o canto posterior do olho. Queixo, peito e barriga ruivo pálido, as bases dos pelos cinza. Braços e pernas marrom avermelhado. Almofadas traseiras pequenas, distintas e proeminentes; um minuto presente almofada póstero-externa. Cauda cerca da metade do comprimento da cabeça e do corpo; quase nua, os poucos pelos finos castanhos por cima, mais pálidos por baixo.
Crânio (PI. XXVII. Fig. 8) robusto e fortemente construído. Focinho largo, marcadamente achatado acima. Região interorbital plana, com bordas quase quadradas, mas sem sulcos; uma leve inflação presente na posição usual dos processos pós-orbitais. Zygomata ousadamente expandido.
Dentes. Pré-molares superiores aumentando uniformemente de tamanho para trás. Comprimento de três molares superiores anteriores cerca de 4,2 milimetros. E da série molar inferior de 5,5 mm. Pré-molares Inferiores p4 aproximadamente igual a p3.

                                                                            Dimensões
Macho a (em espírito).Adulto.        Cabeça e corpo 77 - Cauda 43 - Perna 18 - Pé traseiro 14 - Focinho no olho 11 - Orelha, 6-3 (mm).
Crânio, ver p.367.

Hab. Sul do Brasil. Tipo na coleção.
Externamente, essa espécie parece ser apenas uma forma anã de D. americana, mas sempre pode ser distinguida não apenas por seu tamanho muito menor, mas pela forma diferente do crânio e, principalmente, pelo achatamento acentuado da região frontal.

a -    adulto. alcool. Crânio. Macho,                       Taquara, Rio Grande do Sul.    Dr. H. von Ihering. (Tipo de espécie.)
b, c - adulto. pele, Crânio. Macho e Fêmea           Brasil.                                        Comprado.



22. Didelphys unistriata.

Didelphys unistriata, Wagner. Arch. f. Nat. VIII. p.360 (1842); Schinz, Syn. Mamm. I. p.505 (1844); Wagner. Abh. Ak. Munch. v. p.148 (1847); id. Schr. Säug. Supp. V. p.249 (1855); Gieb. Säug. p.717 (1859); Natt. Pelz. Bras. Säug., Verh. z.-b. Viena, XXXIII. Anh. p.116 (1883).

Mucura de uma listra.

Pelo incomumente curto e grosso. Cor geral da superfície superior cinza grisalho pálido, os pelos com pontas ruivas; uma estreita linha marrom-avermelhada escura contínua no centro das costas, de trás dos ombros até a garupa. Flancos e todo o lado de baixo laranja avivado, os pelos são alaranjados desde suas bases; a linha de demarcação não é acentuadamente marcada. Orelhas muito curtas e em forma de rim, quase nuas. Braços e pernas, metacarpo e metatarso laranja; dedos das mãos e pés nus. Cauda com sua pelagem basal de meia polegada, passando gradualmente para a parte de cabelos curtos, marrom por cima, e por baixo.
Dentes. O p4 aparentemente desproporcionalmente maior que p1 e p2. Distância da parte de trás da p4 até a frente dos caninos superiores 8 milimetros.
                                                                                    Dimensões
Tipo (pele cheia). Macho, Adulto. Cabeça e corpo 140 - Cauda 63 - Pé traseiro 13,4 - Orelha 5,5 (mm).

Hab. São Paulo, Brasil. Tipo no Museu de Viena.
Por gentileza do Dr. von Pelzeln, fui autorizado a examinar e descrever o tipo que, até onde sei, continua sendo o único espécime conhecido dessa interessante espécie.

Na foto, vista lateral do holótipo da espécie Monodelphis unistriata Wagner, 1842,
que foi coletada em 1820, por Natterer,  no município de Itararé, São Paulo, Brasil.

23. Didelphys alboguttata.

Microdelphys alboguttata, Burmeister. Thiere Bras. I. p.340 (1854): id. Erläut. Faun. Bras. p.87 (1856).

Mucura manchada de branco.

Pouco menor que D. americana; cinza-rato, com muitas fileiras de manchas brancas nas costas.

Hab. Brasil (região florestal).
Tipo no Museu do Rio de Janeiro. (esse Tipo já não existe no Museu, e a espécie não é reconhecida atualmente)
A descrição acima é a única informação já publicada sobre esta espécie, da qual eu nunca vi um espécime.


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Em 1897, Thomas descreveu como Peramys adustus a décima espécie válida do gênero Monodelphis, e a primeira da região andina. Veja logo abaixo a descrição original em inglês e uma foto do holótipo.  A pele acompanhada do crânio (nas vistas dorsal e lateral, e a mandíbula).

Nessa publicação, Thomas elevou o subgênero Peramys ao nível de gênero.
                                                             
                                                              Peramys adustus  (tradução da descrição original).

Tamanho pequeno. Pelagem fechada  e curta, apenas cerca de 4 milimetros. de comprimento no dorso. Cor por todo dorso marrom uniforme finamente grisalho, com um leve tom amarelado; ponta do focinho enegrecida. Superfície ventral com a cor como em Mus musculus; linha de demarcação dos lados pouco marcada. Orelhas muito curtas, praticamente nuas. Mãos e pés marrom acinzentado, dedos nus. Cauda praticamente nua, com poucos pelos finos pretos. 
Crânio baixo e achatado. Nasais muito expandidos atrás. Pré-molar inferior posterior ligeiramente menor que o do meio. 
Dimensões do tipo, na pele:
Cabeça e corpo 100 milimetros; cauda 53; pé (umedecido) 15; orelha (acima da cabeça) (c.) 3. Crânio: comprimento basal (c.) 25; nasais 12,5x 4,5; largura interorbital 6; largura da caixa craniana 11; comprimento do palato 15; comprimento combinado de m1-m3 5,1. Mandíbula, do côndilo à ponta dos incisivos 20,5; da frente do canino até atrás do m4 12. 
Habitat: Oeste Cundinamarca, nas regiões quentes e baixas.
Tipo. B.M. nº. 97.7.2.1 
Esta espécie se semelhança mais na cor à P. domesticus, Wagner, mas difere no seu tamanho muito menor e nas orelhas menores. Das espécies conhecidas de com tamanho semelhante, é facilmente distinguível por sua coloração acastanhada uniforme.

Na figura acima o holótipo de Monodelphis adusta (pele cheia e crânio).

Na foto um exemplar vivo da espécie Monodelphis adusta, a décima espécie válida do gênero Monodelphis.
Na foto um exemplar vivo da espécie Monodelphis adusta,
a décima espécie válida do gênero 
Monodelphis.
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No ano de 1899, Thomas descreveu mais duas espécies de Monodelphis. Na época elas foram descritas no gênero Peramys. Uma delas foi considerada apenas uma forma geográfica, e por isso descrita como Peramys brevicaudatus orinoci e a outra como Peramys rubidus.

Peramys brevicaudatus orinoci   (tradução da descrição original da subespécie).

Muito mais pálida do que na forma típica, colorido mais semelhante ao de P. dimidiatus. Pelo curto e aveludado, cerca de 5 milimetros. mais longo na parte de trás. Superfície superior do nariz até o traseiro cinza pálido, aproximadamente cinza-oliva ou cinza fumaça, "olive-grey" ou "smoke-grey" do Ridgway (catálogo de cores). Lados da cabeça e do corpo ferrugíneos, essa cor se estendem desde as bases das vibrissas ao longo dos lados da cabeça e do pescoço até os flancos e daí para baixo até os pulsos e tornozelos; na base anterior da orelha, se estende mais dorsalmente do que em qualquer outro local, de modo a formar um trecho ferrugíneo na cabeça na parte de trás da orelha. Superfície inferior amarelo-claro pálido, não muito definida, os pêlos cor de ardósia em suas bases. Superfície superior das mãos e pés marrom escuro. Cauda com pelo ruivo opaco por sua meia polegada basal em cima, o restante com pelos finos, enegrecidos.
O crânio aparentemente, não se distingue daquele de P. b. typicus.
Dimensões do tipo (um macho um pouco imaturo, medido quando vivo pelo coletor):
Cabeça e corpo 111 milimetros; cauda 75; pé sem unha 18; orelha 17.
Crânio: comprimento basal 29; maior largura 17; nasais 14,5 x 5; comprimento combinado dos molares superiores 1-3  5,8.
Hab. Caicara, Orinoco. Tipo B.M. nº. 98.12.1.22. Coletado em 10 de agosto de 1898, por Geo. K. & Stella M. Cherrie. Número original 11100.
* A julgar pela pele, eu consideraria o corpo um pouco mais longo e a cauda um pouco mais curta que o citado acima; mas acho melhor aceitar as medidas do Sr. Cherrie como estão.
Esta é tão evidentemente uma forma local da mucura de flancos avermelhados da Guiana, que, por mais que difira nas cores, parece melhor, por enquanto, considerá-la apenas como uma subespécie desse animal.

Nessa figura acima temos uma comparação entre as duas formas geográficas
citadas por Thomas na descrição de Monodelphis brevicaudata orinoci.


Peramys rubidus  (tradução da descrição original).

Tamanho, proporções e caracteres cranianos mais ou menos como em P. brevicaudatus, embora o focinho seja um pouco mais delgado. Coloração uniformemente castanho-avermelhado por toda a parte superior e laterais, a cabeça ruivo mais vivo, e o dorso posterior, um pouco mais escuro. Barriga cinza opaco, o pelo castanho acinzentado na base, amarelo-claro opaco terminalmente. Lado externo dos membros e superfície superior das mãos e pés, ruivo opaco. Cauda inteiramente ruiva.
Dimensões do tipo (um macho adulto, medido na pele):
Cabeça e corpo (evidentemente esticados) 160 milimetros.; cauda 64; e o pé s.u. (umidecido) 18; orelha (umidecida) 13.
Crânio: maior largura 19,4; nasais 18 x 5,7; largura interorbital 6,6; palato, medido da parte anterior  20, largura 11,6; comprimento combinado de molares superiores1-3 5,9. Maxilar inferior: parte posterior do côndilo até a ponta do primeiro incisivo 28.
Hab. Bahia.   Tipo  B.M. nº. 55. 11. 26. 9.
Esta espécie baseia-se numa pele da Bahia referida como P. brevicaudatus no "Catálogo de Marsupiais", sendo os caracteres de cor naquela data considerados menos importantes do provaram ser.

Na figura acima o holótipo de Monodelphys rubida (=M. americana)

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Em 1912, M. O. Thomas descreveu Peramys emiliae a décima primeira espécie válida de Monodelphis, enviada a ele por Emília Snethlage.

Peramys emiliae (tradução da descrição original).

Machos. 4, 11; fêmea. 12. Boim, R. Tapajoz (Fräulein Snethlage).

Coloração um pouco como em P. scalops, mas a barriga é mais pálida. Aparência geral mais ou menos como em P. scalops, a superfície superior similarmente cinza ("cinza-rato"), ficando ruiva no rosto e no traseiro. Superfície inferior amarelo-claro rosado opaco, não definida nitidamente lateralmente, os pelos amarelados desde as bases; mas essa cor em duas das três amostras é sobreposta pela peculiar cor de rosa mencionada na nota de Fräulein Snethlage abaixo. Topo da cabeça e rosto marrom fulvo opaco, o lado do rosto na frente da orelha também fulvo. Orelhas curtas, arredondadas, praticamente nuas, seus poucos pelos fulvos. Traseiro ruivo vivo, quase "ruivo alaranjado". Membros anteriores amarelo-claro acinzentado por cima, amarelo-claro rosado na face interna; membros traseiros ruivos até os tornozelos, amarelo-claro no aspecto interno e nos pés. Cauda ruivo vivo, em continuação com o traseiro, por cima, amarelo-claro rosado por baixo; linha de demarcação não acentuadamente marcada. Nas amostras 11 e 12, a cor é mais escura por toda parte, o traseiro e a cauda sendo mais marrom aruivado do que ruivo.
Crânio não da forma peculiar e delgada do focinho de P. scalops, mas de contorno mais normal, o focinho uniformemente cônico. Nasais longos, muito expandidos para trás. As bordas supra-orbitais quadradas, embora não muito acentuadas, engrossam, mas não formam processos pós-orbitais. Vacuidades (forâmens) palatinas pequenas, em frente aos dois primeiros dentes molariformes.
Dentes de tamanho normal, maiores do que em P. scalops, os três pré-molares superiores aumentando uniformemente de tamanho para trás.

Dimensões do tipo (medidas quando vivo): (mm).
Cabeça e corpo 129 (mm); cauda 60; pé 21; orelha 15. Crânio: comprimento condilo-basal 33,3; comprimento basal 31,3; largura zigomática 18,4; nasais 16 x 5,7; largura interorbital 7,3; largura intertemporal 6,1; comprimento palatal 18,2; da frente do canino até trás do último molar l3,3; largura entre os bordas externas de m3 11,4; três dentes molariformes anteriores 6,0.

Hab. como acima. Tipo. Macho adulto. B.M. nº. 11.12.22.16. Número original 4. Coletado em 13 de setembro de 1911,

Esta mucura muito bonita, que foi nomeada em homenagem a sua descobridora, tem o esquema geral de cores de P. scalops, embora o ruivo da cabeça e do traseiro não seja tão vivo e os pelos da barriga não sejam acinzentados na base. O crânio, no entanto, tem uma forma bastante diferente. No que diz respeito à cor rosa peculiar agora mostrada na barriga do n. 4 e em parte do n. 11, Fräulein Snethlage escreve: "O primeiro que recebi (n. 4) tinha as partes inferiores de um vermelho ferrugem bastante vivo, que mudou durante a noite para a cor de rosa que agora mostra. O número 11 foi atingido pelo meu preparador entre folhas secas de palmeira no chão, e ele me assegura que sua barriga já estava cor de rosa quando ele o pegou; e certamente assim estava quando o vi meia hora depois". O número 12 não tem traços dessa cor rosa, que parece ser semelhante à cor púrpura trasitória (fugitive) visível em exemplares recém-mortos de Lutreolina crassicaudata, como eu próprio já vi em La Plata.

Foto do holótipo de Monodelphis emiliae
A décima primeira espécie válida de Monodelphis.
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Em 1920, Thomas em "A further collection of mammals from Jujuy. Ann. Mag. Nat. Hist., 9(5): 188-196", numa nota de rodapé, aceita o argumento de Matschie de que Monodelphis Burnett, 1830 deve substituir Peramys Lesson, 1842.
   
*  Sou totalmente incapaz de aceitar os resultados nomenclaturais do artigo recente do Dr. Matschie sobre os Didelphiidae (SB. Ges. Nat. Fr. Berl. 1916, p. 259), porque, como em outros casos, ele baseia todo o seu trabalho no princípio obsoleto e agora geralmente descartado da eliminação, em vez de usar modelos e métodos para a identificação e seleção de genótipos (espécies-tipo). Algumas de suas conclusões no presente caso seriam especialmente inaceitáveis ​​para os trabalhadores em geral, como o fato de ele ter ignorado completamente minha seleção em 1888 de brachyurus como o tipo de Peramys, Less., e seus longos e complicados argumentos do porque as outras espécies do original Peramys (brachyurus, tristriata e pusilla) caem em outros gêneros, a quarta espécie mencionada (crassicaudata) deve ser tomada como genótipo (espécie-tipo).
Uma seleção tão definida do genótipo (espécie-tipo) de Peramys (brachyura) como aquela no "Catálogo de Marsupiais" está de acordo com o uso moderno e não pode ser ignorada.
No entanto, no que diz respeito a Monodelphis, Burn., embora a seleção do genótipo (espécie-tipo) pelo Dr. Matschie seja obtida, como eu considero, da maneira errada, ele fez uma seleção, e na ausência de uma anterior, aquela seria válida, e portanto, eu aceitaria "brachyura" como seu genótipo (espécie-tipo). Em conseqüência, Monodelphis antecederia e substituiria Peramys para gênero que contém a mucura comum de cauda curta. Todo o trabalho recente de nomenclatura do Dr. Matschie é similarmente baseado nesse princípio doentio da eliminação, de modo que seu excepcional conhecimento literário se torna nocivo no que diz respeito à utilização de seus resultados. A propósito, posso observar que o grupo chamado Micoureus de Matschie, que cita seu tipo como D. laniger, Desm., parece precisar de um novo nome, como Micoureus, Lesson, com o tipo de seleção subsequente D. cinerea (Thomas, 1888), corretamente vai para um grupo bem diferente. Eu sugeriria o nome Mallodelphys para o primeiro, com D. laniger como seu genótipo (espécie-tipo). Acho que deveria ser considerado um subgênero do gênero Philander, cujo genótipo, por tautonímia, é Philander philander, L.                                                    
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Em 1921, Thomas descreveu uma nova espécie de Monodelphis da Serra dos Órgãos, Teresópolis. RJ. Na verdade era apenas um exemplar jovem de M. scalops, mas que na época pareceu nova por apresentar diferenças.

XLIV. - Uma nova mucura de cauda curta do Brasil.
Por Oldfield Thomas. 
(Publicada com permissão dos curadores do Museu Britânico.)
                                
Monodelphis theresa (tradução da descrição original)

A mais proximamente relacionada a M. iheringi. Tamanho aproximadamente como em iheringi; pelo similarmente curto e fechado, pelos das costas com cerca de 4 mm. de comprimento. A coloração segue o mesmo plano geral, mas a cor do fundo é cinza grisalho escuro, que, no entanto, está presente apenas nos dois terços anteriores do corpo, a cabeça e o traseiro, castanho-avermelhado denso. Linhas dorsais quase obsoletas, a mediana representada por segmentos de alguns milímetros no nariz e nuca e uma linha mal definida no final anterior do dorso com os quadris; as linhas externas têm apenas uma polegada de comprimento, mal definidas e dificilmente perceptíveis. Superfície inferior acinzentado sujo, as pontas dos pelos, branco opaco. Bochechas, como o topo da cabeça, ruivo vivo; queixo ruivo pálido. Mãos marrons. Pés com a parte externa do metatarso marrom, interna branco opaco; dedos nus. Cauda marrom em cima, mais clara em baixo.
Crânio não tão achatado como em iheringi, mais como a forma geral de americana, a caixa craniana comparativamente alta e arredondada.
Dimensões do tipo (medidas em uma amostra em álcool): (mm).
Cabeça e corpo 80 mm; cauda 36; pé traseiro 14; orelha 10. Crânio: maior comprimento 25,2; comprimento condilo-basal 25; largura zigomática 13,5; nasais 10x3,8; largura interorbital 5,4; comprimento palatino 14,5; linha dentária maxilar 10,7; três dentes molariformes anteriores 4,6.

Hab. Theresopolis, Organ Mts., Brasil. Tipo. Fêmea adulta. B.M. nº. 21. 8. 6. 2. Recebido como troca do Prof. J. P. Hill.
Esta pequena espécie é facilmente distinguível de M. iheringi por sua cabeça e garupa ruivas, seu dorso anterior acinzentado e suas linhas dorsais escuras apagadas.

O holótipo de Monodelphis theresa (=M. scalops)
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Em 1923, Thomas descreveu uma nova espécie de mucura de cauda curta, da Ilha de Marajó, Pará, Amazonia:  Monodelphis maraxinaEle a comparou à Monodelphis domestica, na verdade era apenas uma variação geográfica desta. Para mais detalhes veja neste LINK.
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Em 1924, Thomas publicou seu último trabalho sobre uma nova mucura de cauda curta da Argentina: Monodelphis fosteri. Ele a comparou à Monodelphis dimidiata, da qual é apenas um sinônimo júnior. Ver o LINK.


Literatura citada :

Thomas, O. 1888a. Diagnoses of four new species of Didelphys. Ann. Mag. Nat. Hist., 6(12): 158-159.
(Didelphys scalopsD. iheringiD. henseli)

Thomas, O. 1888b. Catalogue of the Marsupialia and Monotremata in the collection of the British Museum.
(Natural History). London, Taylor and Francis. i-xiii, 401p.

Thomas, O. 1897. Descriptions of Four new South-American Mammals.  Ann. Mag. M. Nat. Hist. 6(20): 218-221.
(Peramys adustus)

Thomas, O. 1899. On new Mammals from South America. Ann. Mag. Nat. Hist. 7(3): 152-155.
(Peramys brevicaudatus orinoci sp. n.) e (Peramys rubidus).

Thomas, O. 1912. On small Mammals from the Lower Amazon. Ann. Mag. Nat. Hist., 8(9): 84-90.
(Peramys emiliae)

Thomas, O. 1920. A further collection of mammals from Jujuy. Ann. Mag. Nat. Hist., 9(5): 188-196.
(Monodelphis deve substitui Peramys)

Thomas, O. 1921. A new short-tailed Opossum from Brazil. Ann. Mag. Nat. Hist., 9(8): 441-442.
(Monodelphis theresa)

Thomas, O. 1923. A new short-tailed opossum from Marajó, Amazonia. Ann.Mag. Nat. Hist., 9(12): 157.
(Monodelphis maraxina)

Thomas, O. 1924. A new short-tailed opossum from Argentina. Ann. Mag. Nat. Hist., 9(13): 586.
(Monodelphis fosteri)

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