domingo, 18 de março de 2018

REVISÃO do TÁXON Monodelphis maraxina Thomas, 1923


A espécie Monodelphis maraxina (= M. domestica), do Grupo de espécies M. domestica, vem sendo confundida na literatura com M. glirina do Grupo M. brevicaudata, por isso vou demonstrar com detalhes jamais vistos anteriormente, que trata-se de um erro de interpretação. Essa espécie foi proposta por Oldfield Thomas em 1923, com base em dois exemplares da Ilha de Marajó, num macho de Soure, 0°44' S, 48°31' O, enviado por Snethlage, e num exemplar fêmea, enviado por W. Ehrhardt, de Caldeirão, Ilha de Marajó, Pará (provavelmente de Vila Caldeirão, Salvaterra, 0°46' S, 48°31' O).

Vejam abaixo a descrição original, acompanhada de fotos do holótipo, duas vistas da pele e detalhes do crânio :




Como podemos ver logo acima, Thomas considerou a fórmula mamária de M. maraxina, e os detalhes da cauda, mais curta e nua, suficientemente importantes para separá-la de M. domestica.
Esse quadro permaneceu assim até que em 1958, Cabrera listou M. maraxina como uma subespécie de M. domestica, porém sem nenhuma justificativa.

Em 1979, Pine publicou uma nota considerando M. maraxina como uma espécie separada de M. domestica, por suas diferenças tanto com relação a esta última como com relação à M. brevicaudata. Além disso forneceu algumas medidas adicionais feitas num exemplar de Soure, do British Museum (Natural History). Veja as considerações de Pine na nota original:



Em 1842, Wagner descreveu 3 espécies de Monodelphis. Duas delas, que naquela época eram tratadas como Didelphys, foram descritas de uma forma sucinta, uma seguida da outra. 13. Didelphys domestica e 14. Didelphys glirina. Wagner notou que tinham orelhas de tamanhos distintos. Vejam as descrições originais e confiram as diferenças distintivas que existem nas orelhas dessas espécies nesse link :




Eu considero M. maraxina como uma forma geográfica de M. domestica, portanto um sinônimo junior de M. domestica, como já o fiz em 1991, na minha Revisão Sistemática do Gênero Monodelphis. Eu examinei cerca de 1000 exemplares dessa espécie, a grande maioria proveniente do Nordeste do Brasil (Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Ceará), mas tive acesso também a um grande número de exemplares de Goiás e Minas Gerais. As variações que encontrei em M. domestica, não justificam uma separação desses táxons, pois eu encontrei variações muito maiores do que estas que foram apresentadas por Thomas na criação de M. maraxina, ou os poucos exemplares citados por Pine em sua nota de 1979. Certamente, quando Cabrera considerou M. maraxina como uma subespécie de M. domestica, mesmo que não tenha justificado explicitamente, deixou claro que discordou e demonstrou sua visãoEmmons (1990: 29) igualmente considerou M. maraxina como sinônimo de M. domestica.
A espécie Monodelphis domestica apresenta um conjunto de caracteres que a posiciona na base da filogenia desse gênero. Praticamente todas as características que foram examinadas, mostraram uma conservação de caracteres quando comparadas aos grupos externos (plesiomórficos), ou estágios intermediários, como por exemplo, o comprimento da cauda, M. domestica tem a cauda mais longa que as demais espécies, e a regra geral, dentro dos Didelphoidea, é de uma cauda longa e preênsil. Isso é válido para outros caracteres externos como orelhas, patas, tipo e cor da pelagem, além das características cranianas. O holótipo de M. maraxina apresenta inclusive alguns caracteres, como a cauda muito nua e uma inflexão marcante na caixa craniana, que representam condições basais dentro da variação de M. domestica. Portanto não mostram um rumo evolutivo próprio (autapomorfias).

Com relação ao fato de se considerar as populações de M. domestica do interflúvio Xingú-Araguaia-Tocantins, como M. glirina, apresento abaixo uma série de links que demonstram claramente que se trata de um equívoco, resultante da aplicação de uma análise fenética, que não leva em conta as relações filogenéticas existentes entre as espécies, mas simplesmente trata de graus de semelhanças. Na verdade é até um contra-senso chamar esses esquemas de filogenias.

Vejam estes links para maiores detalhes sobre Monodelphis maraxina.

LINK 1   LINK 2   LINK 3   LINK 4   LINK 5   LINK 6   LINK 7   LINK 8   LINK 9


Espécimes examinados:


- Monodelphis maraxina:
1- Museu Goeldi: 11824 - macho, em álcool; 

Município de Marabá, Serra dos Carajás, Pará.
2- Museu Goeldi: 10134 - fêmea, pele e crânio; 

São João do Araguaia, Km 42 (estreito), Pará; 150-75-20(18)-13(20)
3- Museu Goeldi: 1318 - fêmea, pele; 

Nilo Peçanha, afluente do Rio Fresco, Pará; 130-80-19-21
4- MZUSP 9931 - macho, pele e crânio; Gorotire, Rio Fresco, Pará.
5- Foto: tipo de Monodelphis maraxina, fêmea,
British Museum 23.8.9.9; Caldeirão, Ilha de Marajó, Pará.

- outros espécimes:
6- Foto: sintipo de Monodelphis domestica, fêmea,
British Museum 87.10.25.1; Cuiabá, Mato Grosso.
7- Monodelphis glirina - fêmea, em álcool;
Museu Goeldi : 11528; Altamira, Pará.

- base para os desenhos dos molares:
8- Monodelphis domestica - fêmea,
Museu Nac. Rio de Janeiro, MN 16399; Serrinha, Bahia
9- Monodelphis glirina - fêmea,
Museu Goeldi, 8084; Santarém, Pará.


LITERATURA

- CABRERA, A. 1958. Catálogo de los mamíferos de América del Sur. I (Metatheria–Ungulata–Carnívora). Revta Mus. Argentino Cienc. Nat. "Bernardino Rivadavia", Zool., 4(1): 1-307.

EMMONS, L. H., and F. Feer. 1990. Neotropical rainforest mammals: A field guide. Chicago: The University of Chicago Press., xvi+281 pp.


- GOMES, N. F. 1985. Revisão sistemática do gênero Monodelphis (Marsupialia:Didelphidae), Anais da Academia brasileira de Ciências. 53(3):385-386.

- PINE, R. H. 1979. Taxonomic notes on Monodelphis dimidiata itatiaye (Miranda-Ribeiro), Monodelphis domestica (Wagner) and Monodelphis maraxina (Thomas) (Mammalia: Marsupialia: Didelphidae). Mammalia, 43(4): 495-499.

- THOMAS, O. 1923. A new short-tailed opossum from Marajó, Amazonia. Ann.Mag. Nat. Hist., 9(12): 157.

- WAGNER, J.A., 1842. Diagnosen neuer Arten brasilischer Säugthiere. Archiv Naturgeschichte. 8 (1):356-362.

- WAGNER, J. A., 1850. Beitrage zur Kenntniss der Säugethiere Amerikas. Abhand. Math. Physik. Classe. Konig. Bayerysch. Akad. Wiss., Munchen., 5 Abt. 1847, pp. 119-208.

- WAGNER, J. A., 1855. Die Säugethiere in Abbildungen nach der Natur mit Beschreibungen von Dr. Johann Christian Daniel von Schreber. Erlangen. Suppl.5. Vetlag von T. D. Weigel. i-xxvi, 1-810 pp.

sexta-feira, 2 de março de 2018

A TEORIA DA TERRA em EXPANSÃO - quadro geral


As quebras são de magnitudes crescentes (de acordo com o crescimento do planeta). As consequências dos eventos 3 e 4 se somaram gerando muito mais energia que o normal (um excesso). As subducções se explicam pelo aumento da velocidade de deslocamento da crosta nessas regiões. Também aconteceu no Oceano Índico no sudeste asiático.

O Cretáceo Superior deve ter começado nessa região em verde, que aparece na parte inferior da figura acima. Seu início está diretamente associado à uma transformação na região do Caribe: "O deslocamento da Placa do Caribe" (4). O padrão apresentado pelos sedimentos referentes ao Cretáceo Superior é mais complexo que aqueles referentes ao Cretáceo Inferior ou ao Triássico, isso torna sua compreensão bastante dificultada. Tudo indica que ocorreu de uma forma muito rápida, se compararmos com o período que o antecedeu. Podemos tratar esse "momento" como uma espécie de PONTO CRÍTICO. Quando a Placa do Caribe se deslocou do Oceano Pacífico para o Atlântico, ela se chocou com a África, a marca desse choque ainda existe, está lá. Nesse "momento", ocorreu aquilo que poderíamos comparar a um DESARRANJO ou AJUSTE GERAL, rompeu-se o equilíbrio do Planeta. A estabilidade da CROSTA TERRESTRE foi desestabilizada. A partir de então, propagou-se uma Onda Crescente, que pode ser vista na figura abaixo. Neste LINK, compare a cor Azul Claro com a VERDE e note a desproporção.