quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

- A História Taxonômica do gênero Monodelphis - por Nelson Fernandes Gomes © 2018-2024


Terminamos mais um ano e a "A História Taxonômica do gênero Monodelphis" tem sido um pano de fundo proposital para a exposição de uma síntese biológica, que inclui o Homo sapiens. Sim, essa síntese chega em uma fase confusa das ciências biológicas e vai além da própria biologia, já que os estudos referentes à espécie Homo sapiens, são normalmente tratados entre as disciplinas ditas humanas. Essa "História" é o pano de fundo da maior síntese biológica já proposta até hoje : A TEORIA PLANETÁRIA (O ressurgimento da História Natural).


Enquanto os "cientistas" criam fantasias sobre a origem do UNIVERSO e enviam sondas para MARTE, o Arcano Nelson esclarece o nosso mundo. O Arcano e o nosso chão...O Arcano é pé no chão, é Terra! ARCANO NELSON 50 ANOS NA FRENTE DOS IANQUES! É História!

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PARTE 1
A EVOLUÇÃO do PLANETA TERRA

O modelo da Terra plana é uma concepção arcaica do formato da Terra como um plano ou disco. Muitas culturas antigas concordavam sobre a cosmografia plana da Terra, incluindo a Grécia antiga (até o período clássico), as civilizações da Idade do Bronze e da Idade do Ferro do Oriente Médio (até o período helenístico), na Índia (até o período Gupta, primeiros séculos d.C.), e na China até o século XVII . Esse paradigma também era tipicamente mantido nas culturas indígenas da América e a noção de uma Terra plana, abobadada pelo firmamento em forma de uma tigela invertida, era comum em sociedades anteriores às leis científicas como a da gravitação universal.

A ideia de uma Terra esférica apareceu na filosofia grega com Pitágoras (século VI a.C.), embora a maioria dos pré-socráticos (séculos VI a V a.C.) tenha mantido o modelo plano da Terra. Aristóteles forneceu evidências para a forma esférica da Terra em bases empíricas em torno de 330 a.C. O conhecimento da Terra esférica começou a se espalhar gradualmente além do mundo helenístico a partir de então. Na era moderna, teorias pseudocientíficas da Terra plana foram adotadas por grupos e, cada vez mais, por indivíduos não afiliados, usando as mídias sociais. As teorias atuais que defendem modelos de Terra plana são totalmente rejeitadas pela comunidade científica.         Wikipédia
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O holandês Abraham Ortelius é conhecido como "O pai do Atlas Moderno", pelo fato de ter sido o responsável pela publicação do "Theatrum Orbis Terrarum" em 1570, considerado como o primeiro Atlas da Idade Moderna, obra feita à mão, apresentando imagens coloridas de 139 mapas. No entanto, o cartógrafo italiano do século XVI, Pietro Coppo foi realmente o primeiro a publicar em 1524-1526, De Summa totius Orbisa primeira obra que continha mapas organizados sistematicamente de tamanho uniforme, destinados a serem publicados em um livro, representando assim o primeiro atlas moderno.

Veja neste LINK varreduras da edição de 1606 do "Theatrum Orbis Terrarum" preservado na Biblioteca Folger Shakespeare.
 
Abraham Ortelius foi o primeiro a sugerir em 1596, que os continentes não estiveram sempre nas suas posições atuais, segundo ele as Américas "foram rasgadas e afastadas da Europa e África por terremotos e inundações" e "os vestígios da ruptura revelam-se, se alguém trouxer para a sua frente um mapa do mundo e observar com cuidado as costas dos três continentes". Certamente, essa foi apenas uma sugestão leviana, que ficou registrada. Pois, Ortelius não tinha nada mais que a sua simples visão do mapa múndi e sua própria imaginação.

Em 1620, o inglês Francis Bacon, vinte e quatro anos depois de Abraham Ortelius, de uma forma igualmente leviana, em sua obra Novum Organumobservou: 
...etiam in ipsa configuratione mundi in majoribus non sunt negligendae Instantiae Conformes; veluti Africa, et regio Peruviana cum continente se porrigente usque ad Fretum Magellanicum. Utraque enim regio habet similis isthmos et similia promontoria, quod non temere acciditi. 
Item Novus et Vetus Orbis; in eo quod utrique orbes versus septentriones lati sunt et exporrecti, versus austrum autem angusti et accuminati (Editio by Sppeding & others 1861, vol 1, p. 418).

...nem mesmo na configuração do mundo em geral, deve-se negligenciar as instâncias conformes. A África e a região do Peru, com seu continente que se estende até o estreito de Magalhães, apresentam istmos e promontórios semelhantes, o que não pode ter ocorrido por acaso.
Também o Novo e o Velho Mundo se correspondem no fato de que ambos se alargam no sentido setentrional e, ao contrário, nos meridianos são estreitos e terminam em ponta. (Editado por James Spedding, Robert Leslie Ellis and Douglas Denon Heath 1861, vol 1, p. 418).
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Em 1858, o geógrafo e cientista francês Antonio Snider-Pellegrini publicou um livro denominado: LA CRÉATION et ses MYSTÈRES DÉVOILÉS, ou seja,  A CRIAÇÃO e seus MISTÉRIOS  REVELADOS. Nesta obra, ele postulou que a América e o Velho Mundo estiveram conectados num passado remoto. Diferentemente da leviana  sugestão do holandês Abraham Ortelius (já citada logo acima), Antonio Snider-Pellegrini apoiou suas ideias em registros fósseis de plantas, os quais foram encontrados tanto na Europa como nos Estados Unidos, o que sugeria uma antiga conexão destas regiões. Sendo portanto, a primeira Teoria com bases científicas proposta sobre a separação dos continentes. Antonio Snider-Pellegrini nasceu em 1802 e morreu em 1885, e é hoje considerado como o pioneiro na investigação sobre a origem dos atuais continentes. Nessa mesma obra, ele sugeriu  também, que o Dilúvio Bíblico foi devido à fragmentação destes continentes, os quais foram rasgados para restaurar o equilíbrio de uma Terra em desequilíbrio.
 
Uma coisa que temos que ter em mente, é que nesse livro o autor propõe uma conciliação de ideias tradicionais, tanto bíblicas, quanto relatos gregos, associadas a informações científicas, numa tentativa de integrá-las. 
 
Portanto, quero deixar bem claro, que esta obra é um trabalho conciliador de cunho social e não um trabalho científico. Apesar do fato de Snider-Pellegrini ter justificado sua Teoria com um embasamento científico, obviamente dentro dos limites impostos por sua época e sua posição social e política.
 
O autor dividiu a sua obra em seis partes, ou seja, Os Seis Dias da Criação, que ele traduz ou sinonimiza como As Seis Épocas. Simplificadamente, podemos dizer que ele transforma a simbologia bíblica dos seis dias da criação em seis "eras geológicas". Sem refutar a tradição ocidental ele expõe as descobertas científicas. Revelando desta forma os mistérios da Criação Divina. 
 

 
Na página 139. Ele fala sobre vestígios fósseis de plantas extintas, os quais ele apresentará posteriormente como evidências:

"Como seria curioso conhecer as qualidades das plantas que floresciam naquela época! Elas eram certamente de formas gigantescas; mas esta época está muito longe de nós para que quaisquer vestígios dela permaneçam em nossas minas de carvão; pois, é fácil entender, que as plantas cujas impressões são encontradas nos fósseis das minas de carvão são de um período mais recente e podem, no máximo, pertencer à quarta época; e, no entanto, nossas escavações na terra estão até agora muito próximas da crosta do globo, além de que as plantas das épocas primordiais devem ter sido todas consumidas pela ação do fogo para entrar na composição dos minerais".
 
Na página 361. Ele entra em detalhes:
 
"Um dos geólogos mais infatigáveis ​​de nosso tempo, o erudito Sir Charles Lyell, nos dá detalhes muito curiosos (1) sobre inúmeras descobertas de fósseis de todas as espécies, e particularmente de mamíferos encontrados dentro de rochas de alta antiguidade, na Carolina do Norte (Estados Unidos), entre outros (2) de um dromatherium sylvestre, bem como nomeado pelo Dr. Emmons, que relaciona com o período Permiano (3) as camadas dentro das quais foi enterrado. Essas camadas também contêm restos de sáurios tecodontes. Deve-se notar que espécies fósseis desta família de grandes répteis também foram encontradas no Triássico Superior de Württemberg. O autor acrescenta que o fóssil em questão é tão antigo quanto a bacia carbonífera de Richmond (Virgínia, América), e que o dromatério pertenceria à parte inferior da série Jurássica, mais antigo que o xisto de Stonesfield, podendo, portanto, ser considerado como um dos mais antigos representantes conhecidos da classe dos mamíferos.
(1) Manual de Geologia Elementar. (2) Suplemento ao Handbook of Elementary Geology, de Sir Charles Lyell. (3) O calcário magnesiano dos geólogos ingleses recebeu de Sir R. Murchison, em 1841, o nome de Permiano, da província de Perm, na Rússia, onde esta terra ocupa uma área o dobro da França, e contém uma abundância de fósseis.
 
362. Os antigos conheciam suficientemente os animais vivos. Vemos em Aristóteles a descrição de quase todos os animais ainda mais notados hoje; mas os antigos não tinham feito escavações sob a terra, conheciam os animais gigantes apenas pelas tradições verbais transmitidas de pai para filho, e que naturalmente são alteradas por exageros e terminam, como vimos, por fábulas. Assim, os macacos de quase todas as espécies foram indicados pelos antigos sob os nomes de pithecus, esfinges, sátiros, cebus, cynocephali, cercopithecus. Orangotangos e todos os outros animais que se aproximam da forma e tamanho do homem, mas privados de fala, estão incluídos nessas diferentes denominações.

363. O Sr. Owen encontrou restos de um macaco que deve ter vivido nas margens do Tâmisa, e que recebeu o nome de macacus phocaenus. Há mais de vinte anos, um geólogo francês, M. Lartet, relatou um fóssil de macaco, próximo ao orangotango, que acabara de ser coletado na França, em um depósito de água doce em Sansan (Haute-Garonne). Deu-lhe o nome de dryopithecus, ou seja, macaco-arborícola, porque este animal, que parece ter sido frugívoro, tinha de subir nas árvores para comer os seus frutos. Este ilustre estudioso tem desde então, em 1856, dado a conhecer a descoberta, dentro do mesmo depósito, de uma nova espécie fóssil da família dos orangotangos, de tamanho superior ao do chimpanzé vivo. As partes do esqueleto que foram encontradas eram apenas os dois ramos de uma mandíbula inferior alinhada com os dentes e um úmero. Esses restos bastaram para indicar, por sua estrutura anatômica e suas dimensões, uma espécie que se aproxima mais do homem do que qualquer outra entre os quadrumanos vivos ou fósseis até então conhecidos pelos naturalistas. A observação dos dentes também indicou, de acordo com sua ordem de sucessão e de acordo com seu número, que esse quadrumano diferia do chimpanzé e correspondia à espécie humana.
Já havia sido reconhecido que o gibão, pelo seu esqueleto em geral, se aproximava do tipo humano muito mais do que qualquer outro macaco. Na mesma época, em 1854, outro fóssil de macaco foi descoberto na Grécia, perto de Atenas, que M. Lartet assimila a um gênero vivo, o do semnopithecus, mas que se acredita ser da mesma idade que o fóssil de Sansan.
"Esses fatos", diz o Sr. Lyell (Suplemento ao Manual de Geologia), "nos mostram o quanto ainda temos que aprender sobre a história antiga dos quadrumanos, especialmente se considerarmos que, do ponto de vista geológico, conhecem muito pouco, comparativamente, os países tropicais, onde, no entanto, se espera encontrar em maior número do que em qualquer outro lugar vestígios de gêneros antropomórficos extintos (com a forma de homens). Se camadas tão antigas quanto o Mioceno puderam nos revelar formas até certo ponto intermediárias entre o chimpanzé e o homem, não podemos presumir que um dia outras camadas de uma data mais antiga ou mais moderna também fornecerão novas ligações entre o homem e o dryopithecus? "

364. Não entra no plano deste trabalho indicar os nomes de todos os quadrúpedes da antiguidade ou antediluvianos já reconhecidos pela ciência; cabe a ele criar os nomes à medida que faz uma descoberta; só descobrimos que Domiciano mostrou em Roma um animal ao qual nenhum nome particular foi dado, e que foi chamado de rinoceronte de dois chifres. Este animal não existe mais hoje. Domiciano mandou gravar a imagem nas medalhas, como relata Pausânias. Esta espécie já era, portanto, muito rara naquela época; consequentemente, faz aproximadamente dezoito séculos que este animal desapareceu. O rinoceronte de um chifre ainda existe, mas apenas nos países mais quentes.

365. M. Barrande de Praga, com um zelo que honra sua perseverança, formou uma das melhores coleções de fósseis da Europa; já mais de 1.500 espécies de invertebrados fósseis recompensaram seus esforços. Esse sábio geólogo classificou por colônias as prováveis ​​formações das camadas de fósseis; esse sistema poderia ser suficiente para um platô especial como a Boêmia e oferecer a gradação de espécies extintas na presença de novas raças que se substituíam sucessivamente. Com efeito, os estudos de M. Barrande comprovam que a fauna progressiva de uma colônia para outra apresenta, na quantidade de espécies, uma diferença de 8 a 9 por cento, ou 1 a 2, de uma camada para outra.
Antonio Snider-Pellegrini

Mas seria difícil tomar esta teoria como regra geral, pois nas grandes convulsões da terra, e particularmente nos pontos das divisões causadas pelas fendas, as convulsões que ocorreram ao mesmo tempo que o transporte pela água deve ter muitas vezes confundido no mesmo campo os produtos de seres ou formações de uma época muito distante. As correntes subterrâneas também devem ter levado os depósitos de um extremo ao outro do mundo e causando uma mistura de detritos de seres diferentes, que não poderiam ter vivido juntos sob o mesmo clima; e, no entanto, uma súbita reviravolta os ofereceria às pesquisas dos geólogos de hoje, no mesmo leito, ou na circunscrição da mesma colônia.

366. A analogia do solo, ou camadas de terra e a dos fósseis descobertos na América, como na Europa e na Ásia, provam com a mais perfeita evidência, que todos esses continentes ainda eram um só no final da quinta época formativa do nosso planeta. Em breve veremos o tempo e a causa da separação e divisão das diferentes partes do globo terrestre. 


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Depois de relatar sobre os descendentes de Noé e o Dilúvio Universal, ligando-os aos relatos dos gregos, ele entra nos conhecimentos posteriores. Na página 529. Ele coloca o seguinte:
 
"Os descendentes de Noé contaram a seus filhos que antes do dilúvio havia uma grande ilha de Atlântida, que Noé havia visto e frequentado, pois vivera 600 anos antes dessa catástrofe. Essa tradição passou de geração em geração até os gregos, que acabaram introduzindo-a em seus poemas mitológicos; mas, por este motivo, a existência da ilha em questão tornou-se então bastante duvidosa.
Os egípcios, no entanto, não zombaram desse assunto; preservaram uma respeitosa memória da existência da grande Atlântida, que supunham ter sido submersa, porque Noé, não a vendo mais, imaginou que a catástrofe do dilúvio universal a havia engolido, como também acreditava que o mar Mediterrâneo era um receptáculo para as águas do dilúvio, onde continuaram a submergir os homens que antes habitavam esta região. Autores sérios, como Platão e Aristóteles, levaram a sério essa tradição e concordaram em mencionar o desaparecimento da ilha Atlântida por efeito de submersão; reconheceram que no próprio momento dessa suposta submersão havia ocorrido a abertura da passagem das Colunas de Hércules (ou Estreito de Gibraltar), que encheu as bacias do Mediterrâneo, do Adriático, do Mar Negro, dos lagos, etc. Sólon contou as maravilhas da ilha Atlântida, da qual tinha a história dos sacerdotes egípcios. Esta história muito curiosa e bastante importante; oferecemos aos nossos leitores.

530. Foi Platão quem nos transmitiu a substância da conversa de Sólon com os sacerdotes egípcios.
"Um dia, disse ele, quando este grande homem (Sólon) conversava com os sacerdotes de Sais sobre a história dos tempos remotos, um deles lhe disse: - Sólon, Sólon! vocês gregos, vocês ainda são crianças. Não há um único entre vocês que não seja um novato na ciência da antiguidade; você não sabe o que fez a geração de heróis da qual você é a posteridade fraca. Ouça-me, quero instruí-lo nas explorações de seus ancestrais, e faço isso em favor da deusa a que formou você e nós de terra e fogo ... Tudo o que passou para a monarquia egípcia por 8.000 anos está escrito em nossos livros sagrados..... Mas o que vou falar sobre suas leis primitivas, seus reis, suas mortes e as revoluções de seu país, remonta a 9.000 anos. Nossos esplendores relatam como sua república resistiu aos esforços de uma grande potência, surgida do mar Atlântico, que havia invadido a Europa e a Ásia; pois então este mar era vadeável. Nas margens havia uma grande ilha, em frente à foz, que vocês chamam de colunas de Hércules (1). Esta ilha era maior que a Líbia (2) e a Ásia como um todo. Dali, os viajantes podiam passar para outras ilhas, de onde lhes era fácil chegar ao continente. Nesta ilha (Atlântida) havia reis cujo poder era formidável. Estendia-se sobre esta ilha, bem como sobre as ilhas adjacentes e parte do continente. Eles reinaram, além disso, de um lado sobre todos os países que fazem fronteira com a Líbia (África) até o Egito e, do lado da Europa, até a Tirrenia (Itália). Os governantes da Atlântida tentaram subjugar seu país e o nosso. Então, ó Sólon! a vossa república mostrou-se, pela sua coragem e virtude, superior ao resto do mundo. Ela triunfou sobre os atlantes... Mas, nos últimos tempos, ocorreram terremotos e inundações. Então todos os seus guerreiros foram engolidos pela terra, em 24 horas, e a Atlântida desapareceu. Desde esta catástrofe, o mar que há nestas paragens não é navegável, por causa do lodo que ali se formou e que vem da ilha submersa". (Platão, no Timeu.)
Platão, em outros diálogos e particularmente no do Reino, fala do naufrágio da ilha Atlântida, e examina o que deve ter acontecido com a humanidade durante esta catástrofe.
(1) Hoje o Estreito de Gibraltar. (2) Os antigos chamavam a África de Líbia.

531. Estrabão, Eudoxo, Diodoro da Sicília, Amiano Marcelino e, finalmente, Plínio e Eliano, confirmam a existência da ilha Atlântida. Um escritor mais moderno, Génebrard, até afirma que a verdade de sua existência pode ser provada por várias circunstâncias extraídas de Gênesis.
Entendemos que esta grande ilha da Atlântida, separada do continente apenas pela fenda que indicamos e que se acredita estar submersa desde o último cataclismo, é precisamente o atual continente da América.

532. Fortia d'Urban, que fez consideráveis ​​investigações sobre a existência da Atlântida, diz que era um continente muito rico, produzindo todas as coisas; seus habitantes, aproveitando suas riquezas, ergueram templos, palácios, construíram fortes, pontes, arsenais, etc. "Nós vimos as estátuas de todas as rainhas e as de todos os homens que eram da raça dos deuses; elas eram de ouro!... Havia os maiores animais, especialmente
o mastodonte...". Agora, na descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492 e em suas quatro viagens sucessivas, os espanhóis notaram inúmeros povos, nações bem regulamentadas, impérios, repúblicas, e Fernando Cortez não só encontrou no México, em 1519, estátuas em ouro, mas também as lajes dos aposentos dos palácios do rei Montezuma, e até as torres dos templos foram dobradas com este metal precioso.
(1) Outros autores da antiguidade falaram também da submersão da ilha Atlântida, dizendo que existia à frente e fora das colunas de Hércules, e que ficou como amostra deste continente nos Açores e nas Canárias. (2) Fortia d'Urban, art. 370, página 228.

Como foi possível conhecer povos neste continente, e com hábitos de vida e luxo semelhantes aos da terra da África?

Sendo este continente isolado por todos os lados, acreditou-se durante muito tempo numa passagem pelo norte da Ásia; mas se essa passagem existisse, como poderíamos supor que os povos tivessem feito tal emigração pelo pólo ártico? Eles tinham terra suficiente e de perfeita qualidade, mais perto deles para habitá-la; e certamente eles não teriam levado consigo esses ídolos muito pesados, embora de ouro, a uma distância de vários milhares de léguas. Além disso, essa suposição desapareceu desde que se reconheceu que a América está completamente separada da Ásia".

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Na página 521.  O autor nos apresenta duas gravuras do globo terrestre  (No original apresentadas em preto e branco, mas aqui colorizadas).
"A primeira, marcada 9, ou antes da separação, mostra o nosso planeta no tempo do intervalo, isto é, de Adão a Noé, quando a terra ainda era apenas um bloco, sulcado na superfície por fendas. Neste período aparece a massa da Atlântida, que mais tarde daria lugar a um oceano. A segunda gravura, marcada 10, ou após a separação, representa este mesmo globo com o espaçamento de suas partes na superfície, após o dilúvio, ou seja desde Noé, até como existe hoje.
Se tomarmos em mãos um planisfério em escala bastante grande, podemos verificar melhor o entrelaçamento das terras que a natureza entrega ao nosso exame para verificar sua união primitiva".

 
 
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Eduard Suess, 1869
Eduard Suess - O supercontinente de Gondwana e o Mar de Tethys


Eduard Suess nasceu em Londres, em 20 de agosto de 1831 e morreu em Viena, em 26 de abril de 1914, ele foi um geólogo austríaco especialista na geografia dos Alpes.

Em 1861 e em 1885, ele postulou a existência do supercontinente de Gondwana (portanto, antes de Wegener) como também do mar de Tétis (1893). Foi ele inclusive que cunhou o termo biosfera. Por volta de 1857 como professor de geologia na Universidade de Viena, ele já havia desenvolvido a visão de uma conexão entre a África e a Europa.

Em 1861, tendo descoberto fósseis de Glossopteris, que são espécies de samambaias arborescentes fossilizadas encontradas na América do Sul, África e Índia, ele propos  a ideia de que estes três continentes estiveram unidos em um supercontinente, o qual ele chamou de Gondwanaland, uma referência à região de Gondwana, na Índia, onde esta flora foi encontrada pela primeira vez. Suess postulou que os oceanos inundaram os espaços entre essas terras, ideias que em essência, como vimos logo acima, já haviam sido propostas pelo geógrafo e cientista francês Antonio Snider-Pellegrini alguns anos antes. Existem várias semelhanças entre as ideias formuladas por esses 2 geógrafos, inclusive no modo de tratá-las. Confira no texto abaixo essas semelhanças no tratamento das ideias (Suess, 1892: 18).

"Tais catástrofes não ocorreram desde a existência do homem, pelo menos não desde a época dos registros escritos. O evento natural mais estupendo do qual temos testemunho humano é conhecido como Dilúvio. Uma tentativa será feita aqui para investigar a base física dos relatos antigos. Esta tentativa é fundamentada no texto cuneiforme e deve muito à valiosa assistência que a distinta autoridade sobre esses monumentos da cultura primitiva, Dr. Paul Haupt em Göttingen, tão gentilmente me prestou; ele esclareceu muitos pontos obscuros dos textos antigos e me forneceu uma nova tradução de várias passagens importantes. Nas lendas e livros sagrados da antiguidade existem numerosos relatos de grandes fenômenos naturais. Nas tradições do norte da Europa predominam as referências às erupções vulcânicas; mas as histórias de inundações devastadoras são extremamente difundidas tanto no velho como no novo mundo. Deve-se ter em mente desde o início que o papel desempenhado pela chuva nessas grandes inundações é necessariamente inteiramente subordinado. As inundações pluviais por sua própria origem são restritas dentro de certos limites; mesmo em suas formas mais violentas, eles são estreitamente limitados no espaço e fluem seguindo a encosta dos vales. Enchentes de violência imensuravelmente maiores são causadas por furacões, e ainda mais extensas são aquelas ocasionadas por terremotos."

Entre 1885 e 1901, ele publicou uma síntese abrangente de suas ideias  com o título de "Das Antlitz der Erde" (A face da terra), que foi um livro texto muito popular por muitos anos. Neste trabalho Suess introduziu o conceito de biosfera, que mais tarde foi aprofundado por outros estudiosos como Vladimir I. Vernansky em 1926.


"A FACE DA TERRA"        página 596                                                                                                      OS CONTINENTES        PARTE II 

"A primeira região compreende o sul e grande parte da porção mais central da África, depois Madagascar e a península indiana. Os elevados planaltos desta região nunca, tanto quanto sabemos, foram cobertos pelo mar desde os tempos primitivos, ou o fim do período carbonífero; é apenas no sopé dos planaltos que se depositaram os sedimentos marinhos, que se seguiram à invasão do Oceano Índico, pois este foi formado por subsidência no interior da massa tabular. Chamamos essa massa de Gondwana-Land, em homenagem à antiga flora Gondwana que é comum a todas as suas partes; corresponde em grande parte à Lemúria dos zoólogos; julgado do ponto de vista que adotamos antes, este país é incomparavelmente mais antigo que a América do Norte. Gondwana-Land é seguida ao norte por outros planaltos; estes, no entanto, foram submersos durante o Cretáceo e, até certo ponto, até mesmo durante parte do período Terciário; eles incluem o Saara, com o Egito, a Síria e a Arábia. Esta região desértica, juntamente com a Terra de Gondwana, forma uma grande unidade, unida em todas as suas partes por caracteres comuns; trata-se da Indo-África, que se distingue sobretudo pela ausência de dobramentos desde a conclusão da era paleozóica. O que resta da massa reunida dos três continentes após a abstração da Indo-África pode ser chamado de Eurásia.
Toda a fronteira sul da Eurásia avança em uma série de grandes dobras em direção à Indo-África; essas dobras ficam lado a lado em arcos sintáticos próximos e, por longas distâncias, são empurradas para o sul contra o planalto indo-africano."    


"AS PROFUNDEZAS DO OCEANO SÃO PERMANENTES ?"                    página 183
 
"Este oceano designamos pelo nome de "Tethys" em homenagem à irmã e consorte de Oceanus. O último sucessor do Mar de Tethys é o atual Mediterrâneo."


SUESS, E. 1893. "Are ocean depths permanent?". Natural Science: A Monthly Review of Scientific Progress. V. 2. London. pp. 180-187.
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Roberto Mantovani
Roberto Mantovani (1854-1933) e suas ideias sobre a expansão da Terra, reveladas por sua correspondência e manuscritos
 
                  
Giancarlo Scalera 
 
Roberto Mantovani (Parma, 25 de março de 1854 - Paris, 10 de janeiro de 1933) – músico e geólogo formado no Ducado de Parma – foi cônsul na ilha francesa de La Réunion no final do século XIX. 

Em 1878, tirando conclusões gerais da semelhança de forma entre as margens de frente de um rio que corria em uma fratura vulcânica, e a forma como as camadas se correspondiam, Mantovani formulou uma teoria mobilística, atribuindo a separação dos continentes à expansão de todo o planeta.  
Essa teoria é mais geral que a de Wegener das primeiras décadas do século seguinte. A teoria de Mantovani foi reconhecida oficialmente pela Sociedade Geológica Francesa em 1924, que a incorporou em seu corpo de ideias legítimas. Encorajado por Bourcart em 1924, Wegener citou o italiano em seu famoso livro como alguém que oferecia ideias extraordinariamente próximas às suas. Uma carta de Mantovani a Wegener e a resposta cética do cientista alemão foram encontradas recentemente. Em sua carta, Mantovani mostra uma maior consciência dos predecessores da deriva continental do que o próprio Wegener.  
 
Mantovani continuou a difundir sua ideia até os últimos anos de sua vida. Um panfleto final, de 1930, foi impresso com esta dedicatória: "aos matemáticos, físicos, astrônomos, geólogos, e a todos os interessados ​​nos grandes enigmas do Universo". Esta biografia foi reconstruída graças às correspondências cuidadosamente conservadas nos arquivos do Ministério das Relações Exteriores da Itália, do Museu Etnográfico Luigi Pigorini, da Società Geografica Italiana e nos arquivos particulares de seus descendentes diretos.


Mantovani, Roberto. 1909. L'Antarctide in: Je m'instruis. La science pour tous. Inventions, ecouvertes  -  Paris, Librairie A. Pigoreau.

"Através de um exame atento das formas atuais dos mares e continentes, chegamos não apenas a determinar antecipadamente em seu contorno a origem, forma e extensão da Antártica, mas também a uma descoberta de capital importância, talvez a maior deste século, porque tenderia a perturbar todos os dados atuais dos diferentes ramos da ciência, ou seja, a descoberta da dilatação planetária".     Roberto Mantovani, 1909, p. 597 






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Alfred Lothar Wegener       

         Alfred  Wegener
No outono de 1911, deparei-me bastante acidentalmente com um relatório sinóptico no qual tomei conhecimento pela primeira vez de evidências paleontológicas de uma antiga ponte de terra entre o Brasil e a África. Como resultado, fiz um exame superficial de pesquisas relevantes nos campos da geologia e da paleontologia, e isso forneceu imediatamente uma corroboração tão robusta, que uma convicção da solidez fundamental da ideia se enraizou em minha mente. 
Em 6 de janeiro de 1912, apresentei a ideia pela primeira vez em um discurso à Associação Geológica em Frankfurt am Main, intitulado "A base geofísica da evolução das características de grande escala da crosta terrestre (continentes e oceanos)" ("Die Herausbildung der Grossformen der Erdrinde (Kontinente e Ozeane) auf geophysikalischer Grundlage"). 
Seguiu-se um segundo discurso, este no dia 10 de janeiro, proferido perante a Sociedade para o Avanço das Ciências Naturais em Marburg sob o título "Deslocamentos horizontais dos continentes" ("Horizontal-verschiebungen der Kontinente"). 
No mesmo ano, surgiram também as duas primeiras publicações [1, 2]. O trabalho posterior na teoria foi impedido por minha participação na travessia da Groenlândia liderada por J. P. Koch em 1912/1913 e, posteriormente, pelo serviço de guerra.

"The Origin of Continents and Oceans" Alfred Wegener (1929) tradução de John Biram (1966),  Capitulo I,  Introdução Histórica, página 1

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Ott Christoph Hilgenberg

Em 1933, Ott Christoph Hilgenberg, da Alemanha, apresentou a teoria da expansão da Terra de forma independente, com modelos mostrando que, se pudéssemos reduzir o raio da Terra a dois terços de sua espessura atual, todos os blocos continentais poderiam se encaixar perfeitamente no pequeno globo sem oceano. Sen S, Retired Scientist, Council of Scientific and Industrial Research, Hemantika, O-26, Patuli, Kolkata, 700094, India.

Capa do livro  Vom wachsenden Erdball (Da Terra Crescente)  de  Ott Christoph Hilgenberg
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Philippe Le Vigouroux  e  Gabriel Gohau        (2016)


Resumo 

No início do século 20, Wegener propôs a teoria de uma deriva continental errante, unindo as teorias concorrentes de europeus e americanos. É o trabalho de um não especialista que não se preocupa com detalhes. É por isso que provoca inúmeras críticas de especialistas em várias disciplinas. Alguns, no entanto, dão as boas-vindas. Alguns, inclusive, entendem que sob seu aspecto aparentemente superficial, inicia um novo programa de pesquisa. Paradoxalmente, na medida de sua simplicidade, recebe uma recepção favorável de não especialistas: engenheiros, divulgadores, professores do ensino médio e até mesmo partidários das paraciências. Todos amadores, eles lhe darão vida quando os especialistas o abandonarem. 


Em 1915, Alfred Wegener (1880–1930) publicou a primeira edição de sua obra Die Entstehung der Kontinente und Ozeane. A obra expõe uma teoria que formulara em 1912 propondo uma nova concepção do globo terrestre: o autor supõe que os continentes (que ele trata como "sial"), flutuando sobre camadas subjacentes, mais fluidos e mais densos (o "sima" ), são móveis na superfície do globo. Anteriormente unidos em um único continente, a Pangeia, essas massas continentais separadas pelo jogo de fraturas gigantescas que se tornaram oceanos, os continentes então derivam para ocupar sua posição atual.

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Wegener ist Mythologie. Die ERDE expandiert ist.
 "The expansion of our planet is no longer a theory. Today, the expansion of the Earth is a fact."
 


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LITERATURA 

Ortelius, Abraham. 1573. Theatrum orbis terrarum. Antuerpiae: Auctoris aere & cura impressum, absolutumq́ue apud Aegid. Coppenium Diesth.  Ver  PDF

Snider-Pellegrini, Antonio. 1858. La Création et ses mystères dévoilés. Paris, Frankreich: Frank et Dentu. LINK

Suess, Eduard. 1885. Das Antlitz der Erde (Das Gesicht der Erde), vol. 1 (Leipzig, Deutschland): G. Freytag,  Seite 768. LINK

Mantovani, R. 1889. Les fractures de l’écorce terrestre et la théorie de Laplace, Bulletin de Societé des Sciences et Arts de Réunion, pp. 41-53.

Mantovani, R. 1909. L’Antarctide, Je m’instruis La science pour tous 38 p. 595-597.

Wegener, Alfred Lothar. 1912. Die Herausbildung der Grossformen der Erdrinde (Kontinente und Ozeane), auf geophysikalischer Grundlage. Petermanns Geographische Mitteilungen. 63: 185-195, 253-256, 305-309.

Wegener, 
Alfred Lothar1912. Die Entstehung der Kontinente. Geologische Rundschau 3, Heft 4, S. 276-292

Wegener, Alfred Lothar1924. The Origin of Continents and Oceans. E. P. Dutton & Co Publishers. New York. translated by J. G. A.Skerl

Wegener, Alfred Lothar. 1929. Die Entstehung der Kontinente und Ozeane. Braunschweig.  PDF
 
Gohau, G. 1990. Mantovani et sa théorie de la dilatation planétaire. Travaux duComité François d’Histoire de la Geologie. Troisieme serie,t.IV, n°6, séancedu 23 mai 1990, 53-58. Link

Scalera, Giancarlo. 1997.  Un musicista scienziato a cavallo tra ‘800 e ‘900: Roberto Mantovani e la teoria della dilatazione planetaria.  In: Tucci, P. (ed.): Atti del XVI Congresso Nazionale di Storia della Fisica e dell’Astronomia. Centro Volta, Villa Olmo, Como 24-25 Maggio 1996, 625-642. Ver
  PDF
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PARTE 2
A EVOLUÇÃO da VIDA e dos MAMÍFEROS

 

RNA : UM ELO PARA TODOS OS SERES VIVOS
 
Em 1962, Alexander Rich (1924-2015) propôs uma teoria, na qual enunciava, que o RNA surgiu antes do DNA e das proteínas. Em sua teoria, Rich postulou que numa Terra primitiva, em um ambiente diferente do atual, condições especiais produziram moléculas de RNA, que é um ácido nucleico, um polímero linear formado por subunidades, os nucleotídeos. Essas moléculas teriam desenvolvido funções enzimáticas e autorreplicantes. O RNA e o DNA possuem estruturas capazes de se ligar formando uma dupla hélice e armazenar informações de uma maneira muito semelhante. O DNA apresenta uma distribuição mais restrita, ocorrendo em quase todos os viventes, enquanto que o RNA apresenta uma distribuição mais abrangente, ocorrendo em todos os seres vivos, inclusive nos vírus mais simples, como por exemplo o Coronavírus, que é simplesmente uma fita de RNA envolvida por uma capa de gordura e proteína (elementos básicos da membrana celular). 
 
Alexander Rich inicia sua publicação, Sobre os problemas da evolução e transferência de informações bioquímicas, da seguinte forma: "Talvez a característica mais marcante no desenvolvimento da compreensão bioquímica durante a última década tenha sido a descoberta de que os ácidos nucleicos desempenham o papel central na transmissão da informação molecular. Embora uma grande quantidade de dados tenham sido compilados sobre as vias do metabolismo intermediário no início dos anos da década de 50, relativamente pouco se sabia sobre as reações que governam o fluxo geral do metabolismo. Em contraste com essa situação, agora temos uma explicação razoavelmente coerente da replicação e transmissão da informação genética e o processo pelo qual essa informação leva à regulação final do metabolismo. No centro do sistema estão os ácidos nucleicos, ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). Essas moléculas agora ocupam um papel tão central na bioquímica que é difícil perceber até que ponto suas propriedades e funções eram desconhecidas há apenas uma década".
 
Nas suas colocações finais ele escreveu o seguinte :  "É bastante notável que os sistemas bioquímicos contemporâneos tenham dois ácidos nucleicos, DNA e RNA, que diferem apenas por um grupo hidroxila sistemático e um grupo metila ocasional. Apesar das grandes semelhanças químicas, as moléculas têm funções bastante diferentes na célula. O DNA atua como o principal transportador da informação genética, enquanto a molécula de RNA é usada para converter essa informação genética em moléculas de proteína reais. Por causa das semelhanças químicas próximas, somos tentados a perguntar se eles poderiam ter se originado historicamente de uma molécula de ácido nucleico do ramo comum que então se especializou no curso da evolução para produzir as duas classes diferentes de ácidos nucleicos que vemos hoje. Para discutir isso mais detalhadamente, devemos observar que a molécula de RNA também é capaz de transportar informações genéticas, como, por exemplo, nos vírus que contêm RNA. Assim, pode ser razoável especular que o ramo hipotético ou a molécula do polinucleotídeo parental era inicialmente um polímero semelhante ao RNA, que era capaz de transmitir informações genéticas, bem como organizar os aminoácidos em uma sequência específica para fazer proteínas. Isto implica que a cadeia polinucleotídica de RNA tinha a capacidade de se replicar e produzir um complemento de uma maneira um tanto semelhante à encontrada no DNA. É possível que uma enzima desse tipo já tenha sido observada. Por este ponto de vista, o DNA pode ser considerado como uma molécula derivada que evoluiu de uma forma tal que realiza apenas parte da função primitiva do ácido nucleico. Ele se especializou no ciclo de replicação molecular que faz parte do mecanismo de transmissão de informações genéticas. O DNA é metabolicamente menos reativo do que o RNA, talvez por causa da ausência do grupo hidroxila no carbono 2. A perda desse grupo hidroxila pode ter tornado impossível para a molécula de DNA anexar a ela os aminoácidos que são usados ​​na síntese proteica. No entanto, uma vantagem seletiva considerável pode ser derivada do desenvolvimento de duas classes diferentes de ácidos nucleicos, uma das quais é menos ativa metabolicamente e especializada em autorreplicação. Em certo sentido, isso tende a preservar a cópia primária da informação genética. Será de considerável interesse estudar as formas de vida simples disponíveis para ver se algumas delas podem existir com apenas um tipo de ácido nucleico em vez de dois tipos. É possível que os vírus contendo RNA possam ser considerados como exemplos atuais que podem ter degenerado evolutivamente de tal forma de vida primitiva. Deve-se notar que as mudanças que são discutidas em muitas das seções acima podem ter ocorrido apenas durante os estágios iniciais da evolução. O que vemos hoje é o resultado líquido de uma competição complexa entre muitos tipos diferentes de sistemas.
 
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Em 1924, Aleksandr Ivanovich Oparin publicou a primeira versão de sua teoria sobre a origem da vida. Ele postulou que as substâncias orgânicas se originaram de substâncias inorgânicas presentes na atmosfera, e que os seres vivos se originaram dessas substâncias orgânicas, então formadas. Алекса́ндр Ива́нович Опарин, ou seja, Aleksandr Ivanovich Oparin era russo e viveu de 1894 a 1960. Seu trabalho foi publicado em sua língua mater, o russo. Logo abaixo, temos uma figura com a primeira página de uma tradução para o inglês do trabalho original de Oparin, realizada por Ann Synge. Logo a seguir, apresentarei uma tradução para o português, a partir daquela de Ann Synge, focalizando apenas alguns  parágrafos mais importantes. Oparin inicia seu trabalho falando da Teoria da Geração Espontânea.
 
 

 

A Origem da Vida *
A. I. Oparin
  Cinza, querido amigo, é toda teoria, 
E verde é a árvore dourada da vida.
GOETHE

A Teoria da Geração Espontânea
 
Desde que deu os primeiros passos para uma vida consciente, o homem tentou resolver os problemas da cosmogonia. O mais complicado e também o mais interessante deles é o da origem da vida. Em diferentes momentos e em diferentes estágios da cultura, respostas diferentes foram dadas. Os ensinamentos religiosos de todas as idades e povos geralmente atribuem o aparecimento da vida a um ato criador de alguma divindade. Os primeiros estudiosos da natureza foram muito ingênuos em suas respostas a essa pergunta. Mesmo para um homem de inteligência notável como Aristóteles nos tempos antigos, a ideia de que animais, incluindo vermes, insetos e até peixes, poderiam se desenvolver a partir da lama não apresentava nenhuma dificuldade especial. Pelo contrário, este filósofo afirmava que qualquer corpo seco que se tornasse úmido ou, por outro lado, qualquer corpo molhado que ficasse seco, daria origem aos animais. 
 
A autoridade de Aristóteles teve uma influência excepcionalmente forte na perspectiva dos homens de cultura na Idade Média. Em suas mentes, as ideias desse filósofo se entrelaçaram com as doutrinas dos padres da Igreja, dando muitas vezes origem a suposições que, aos nossos olhos, parecem estúpidas ou mesmo ridículas. Na Idade Média, afirmava-se que embora a preparação de uma pessoa viva, ou de algo como alguém na forma de um "homúnculo", em uma retorta pela mistura e destilação de várias substâncias químicas fosse extremamente difícil e ímpia, não obstante era, sem dúvida, algo que poderia ser feito. A produção de animais a partir de materiais inanimados parecia aos cientistas da época tão simples e comum que o conhecido alquimista e médico van Helmont deu um recibo segundo o qual era possível preparar camundongos artificialmente, colocando grãos úmidos e trapos sujos em um recipiente coberto. 
 
Existem vários escritos dos séculos XVI e XVII que descrevem a transformação da água, pedras e outros objetos inanimados em répteis, pássaros e feras. Grindel von Ach até dá uma imagem de sapos formados a partir do orvalho de maio, enquanto Aldrovandi dá desenhos que mostram como pássaros e insetos surgem dos galhos e frutos das árvores. 
 
*Esta é uma tradução de Ann Synge de A.I. Oparin, (1924) Proiskhozhdenie zhizny. Moscou. Izd.Moskovhii Rabochil.
 
Alquimista criando vida em um tubo de ensaio. Fausto e o homúnculo,
 ilustração de Engelbert Seibertz para o Fausto de Goethe, 1858.
 
A ideia de que vermes na carne podre, pulgas no esterco e vermes intestinais são gerados espontaneamente a partir de materiais em decomposição era geralmente aceita como uma verdade inalterável que estava de pleno acordo com as Sagradas Escrituras. Além disso, nos escritos dessa época, muitas vezes encontramos numerosos textos por meio dos quais os autores esperam convencer seus leitores de que a teoria da geração espontânea tem todo o apoio da Bíblia. 
 
No entanto, quanto mais a ciência se desenvolveu e quanto mais o estudo da natureza passou a envolver o uso de observações e experimentos precisos, em vez de apenas argumentar e filosofar, mais estreita se tornou a região em que os eruditos acreditavam que a geração espontânea poderia ocorrer. 
 
Já em meados do século XVII, Redi demonstrou, por meio de experiências simples, que não havia base para a opinião de que a geração espontânea de vermes ocorre em carne podre. Ele cobriu a carne com uma gaze fina, tornando-a inacessível para as moscas de cujos ovos os vermes se desenvolveriam. Sob estes condiciona a carne apodreceu, mas não apareceu nenhum verme. Era tão simples como refutar a ideia da geração espontânea de insetos. 
 
Assim, no que diz respeito aos seres vivos visíveis a olho nu, a teoria da geração espontânea não tinha suporte. No entanto, no final do século XVII, Kircher e van Leeuwnhoek descobriram um mundo de criaturas minúsculas, invisíveis a olho nu e apenas discerníveis ao microscópio. 
Essas “minúsculas bestas vivas” (como van Leeuwnhoek chamava as bactérias e infusórios que havia descoberto) eram encontradas onde quer que ocorresse a decomposição; em decocções e infusões de plantas que haviam ficado em repouso por muito tempo, em carnes e caldos em decomposição, em leite azedo, em esterco e na pele dos dentes.
 “Há mais deles (micróbios)”, escreveu van Leeuwnhoek, “do que pessoas nas Províncias Unidas”. Era necessário apenas para uma substância que azeda rapidamente e se decompõe, facilmente ficar por algum tempo em um lugar quente para que criaturas microscópicas que não existiram antes ali se desenvolvessem imediatamente. De onde vieram essas criaturas? Elas realmente surgiram de germes que por acaso caíram no material em decomposição? Quantos desses germes deveriam estar em todos os lugares. Surgia inevitavelmente a ideia de que era de fato nas decocções e infusões podres que ocorria a geração espontânea de micróbios vivos a partir de material não vivo.
 
Essa visão recebeu forte apoio em meados do século XVIII com o trabalho do clérigo escocês Needham. Ele usava caldo de carne ou decocções de material vegetal que colocava em vasilhas bem fechadas e fervia por um curto período. Ao fazer isso, Needham calculou que ele deve ter destruído todos os germes que estavam presentes e os novos não poderiam entrar de fora porque os vasos estavam completamente cobertos. No entanto, depois de um curto período de tempo, os micróbios apareceram nos líquidos. A partir dessa demonstração, Needham chegou à conclusão de que estava testemunhando o fenômeno da geração espontânea. 
 
No entanto, havia outro homem erudito que se opôs a essa visão. Ele era o italiano, Spallanzani. Ele repetiu os experimentos de Needham e se convenceu de que o aquecimento mais prolongado dos recipientes contendo os líquidos orgânicos os esterilizava completamente. Uma disputa acirrada grassou entre os proponentes dos dois pontos de vista opostos. Spallanzani mostrou que, nos experimentos de Needham, os líquidos não foram aquecidos o suficiente e que os germes de coisas vivas ainda estavam presentes neles. Needham retrucou que não foi ele quem aqueceu muito pouco os seus líquidos, pelo contrário, Spallanzani aqueceu muito os seus e, com um tratamento tão rude, destruiu o “poder gerador” do orgânico, que era muito astuto e instável. 
 
Assim, cada um dos concorrentes manteve esta opinião e a questão da geração espontânea de micróbios em líquidos em putrefação não foi resolvida de uma forma ou de outra durante um século inteiro. Durante esse tempo, um grande número de tentativas foram feitas para provar ou refutar por experimento a ocorrência de geração espontânea, mas nenhuma delas deu um resultado definitivo. A questão tornou-se cada vez mais complicada e só em meados do século XIX foi finalmente resolvida pelos estudos de um cientista francês de gênio - Pasteur

Pasteur foi o primeiro a demonstrar a distribuição extremamente ampla dos micróbios. Em uma série de experimentos, ele mostrou que em todos os lugares, mas especialmente perto de habitações humanas, o ar contém minúsculos germes. Eles são tão leves que eles flutuam livremente no ar, caindo no chão muito lentamente. À mais leve brisa, eles voam novamente e são carregados em torno de nós de maneira invisível. O ar das grandes cidades está positivamente fervilhando com essas migalhas de vida. Um único metro cúbico de ar em Paris no verão contém até 10.000 germes viáveis. Se encontrarem condições favoráveis, crescem, desenvolvem-se e começam a multiplicar-se a uma velocidade extraordinária causando a decomposição de líquidos que apodrecem facilmente. Assim, não são os líquidos putrefatos que dão origem aos micróbios, mas os micróbios que caem do ar que causam a putrefação dos líquidos. 
 
Pasteur explicou o aparecimento misterioso de microrganismos nos experimentos de autores anteriores sendo devido à esterilização incompleta do meio ou proteção insuficiente dos líquidos contra o acesso dos germes que poderiam entrar nele com o ar, o, em cem por cento dos casos, não haverá putrefação do líquido e nenhuma formação de micróbios. 
 
Pasteur usava uma grande variedade de dispositivos para esterilizar o ar que entrava em suas retortas. Ele às vezes o aquecia em tubos de metal ou vidro em brasa; às vezes, o gargalo do frasco era tapado com algodão em que todas as partículas minúsculas transportadas no ar ficavam presas; ou, finalmente, às vezes o ar passava por um tubo de vidro fino com a forma da letra S, caso em que todos os germes ficavam presos mecanicamente nas superfícies úmidas das curvas do tubo. Sempre que as precauções foram suficientemente confiáveis, o aparecimento de micróbios no líquido não foi observado. Talvez, entretanto, o aquecimento prolongado tenha mudado o meio quimicamente e o tornado impróprio para sustentar a vida. Pasteur refutou facilmente essa sugestão. Ele jogou no líquido esterilizado o tampão de algodão através do qual o ar havia passado para a retorta e que, portanto, continha germes. O líquido apodreceu rapidamente. O líquido fervido era, portanto, um solo perfeitamente adequado para o desenvolvimento de bactérias. A única razão pela qual esse desenvolvimento não ocorreu foi a ausência de sementes na forma de germes. Assim que os germes caíram no líquido, começaram a crescer imediatamente e deram uma boa colheita. 
 
Por fim, Pasteur conseguiu mostrar que é possível manter líquidos que apodrecem facilmente, como sangue e vinho, por longos períodos, mesmo sem aquecimento. Foi necessário apenas retirá-los do animal (onde não contenham bactérias) assepticamente, ou seja, evitando que as bactérias caiam de fora para dentro deles. Assim, os experimentos de Pasteur mostraram sem dúvida que a geração espontânea de micróbios em infusões orgânicas não ocorre. Todos os organismos vivos se desenvolvem a partir de germes, ou seja, devem suas origens a outros seres vivos. Mas como surgiram as primeiras coisas vivas? Como a vida se originou na Terra? A seguir serão examinadas teorias que tentam resolver esse problema.
 
A Teoria da Panspermia
 
O mundo dos vivos e o mundo dos mortos
 
De Elementos Não Combinados a Compostos Orgânicos
 
Da substância orgânica ao ser vivo
   
Na última seção, deixamos de lado nossa discussão sobre a Terra na época quando estava resfriando gradualmente e passando de uma estrela vermelha para ser um planeta escuro. Finalmente chegou a hora em que a temperatura das camadas superficiais da Terra caiu para 100º C. Tornou-se possível a existência da
água na forma de gotas líquidas. Derramamentos contínuos de chuvas caíram sobre a superfície da Terra da atmosfera úmida. Elas a inundaram e formou-se uma cobertura de água na forma do oceano fervente original.
 

As primeiras substâncias orgânicas que até então permaneceram na atmosfera estavam agora dissolvidas na água e caíram ao chão com esta. Quais eram essas substâncias?
 
Já comentamos sobre sua propriedade principal no final da última seção. Elas eram substâncias com um grande estoque de produtos com energia química e possuindo grandes potencialidades químicas. Ainda na atmosfera terrestre, eles começaram a se combinar para dar origem a compostos muito complicados. Além disso, eles combinaram com oxigênio e amônia para dar derivados de hidroxi- e amino- hidrocarbonetos (ou seja, compostos de hidrocarbonetos com oxigênio e nitrogênio respectivamente).
 
Quando essas substâncias caíram da atmosfera no período do oceano primordial, elas não pararam de interagir umas com as outras. Componentes Individuais da substância orgânica flutuando na água se encontraram e se combinaram uns aos outros. Assim, partículas cada vez maiores e mais complicadas  foram formadas.
 
Podemos facilmente criar uma imagem bastante precisa para nós desse processo de agregação (polimerização) de substâncias orgânicas na Terra estudando em nossos laboratórios químicos. Na verdade, as condições em que substâncias orgânicas existiam no estágio de desenvolvimento da Terra com a qual estamos lidando pode ser alcançadas de forma comparativamente fácil em nossos laboratórios atuais. Se enviarmos substâncias como radicais de hidrocarbonetos às condições descritas acima e deixá-las por si mesmas, devemos ter toda a cadeia de reações estabelecidas acima tomando lugar. Os radicais de hidrocarbonetos serão oxidados às custas do oxigênio na água e no ar para dar a maioria dos variados derivados (álcoois, aldeídos, ácidos, etc.). Este processo ocorre de forma especialmente rápida em altas temperaturas e na presença de ferro e outros metais.
 
Hidrocarbonetos oxidados prontamente combinam-se uns com os outros para formar compostos mais complicados. Muitas dessas substâncias também podem combinar com amônia e dar origem ao desenvolvimento da maioria dos variados derivados do nitrogênio.

O processo de agregação de substâncias orgânicas geralmente ocorre bem devagar, é verdade. No entanto, isso não é muito importante. Quer demore vários meses ou vários anos, ainda obtemos, como resultado destes processos, uma mistura de várias substâncias com uma estrutura muito complicada. Nessas misturas podemos até encontrar, entre outros, compostos da natureza dos carboidratos (∗) e proteínas. Ambos os tipos de compostos desempenham um papel importante na estrutura da matéria viva. Nós os encontramos em todos os animais e plantas, sem exceção. Em combinação com outras substâncias ainda mais complicadas, são, por assim dizer, a base da vida. 
 
É claro que as substâncias que produzimos artificialmente não são exatamente aquelas que podem ser isoladas dos organismos vivos. No entanto, elas estão, se assim podemos expressar, relacionadas a esses compostos. A composição elementar, a estrutura das partículas e as propriedades químicas são quase iguais umas às outras. A diferença está apenas nos detalhes. 
 
As substâncias obtidas pelo método descrito acima podem servir como um bom material nutritivo. Elas são especialmente nutritivas para microrganismos como bactérias e fungos. Este fato é especialmente importante e vamos dedicar um pouco mais de tempo a ele. 
 
Uma das principais objeções levantadas contra a possibilidade de geração espontânea de vida em um passado distante foi colocada em seus aspectos gerais da seguinte forma: 
 
“Se assumirmos”, diz W. Preyer, um dos oponentes da teoria da geração espontânea , “Que em algum momento durante o desenvolvimento do material vivo da Terra surgiu pela geração primária de material não vivo, então devemos supor que isso ainda é possível. No entanto, o fracasso de inúmeras tentativas dirigidas a descobrir como fazer isso mostrou que é improvável ao mais alto grau. Se, por outro lado, quem estuda a primeira emergência da vida presume que ela só foi possível em algum momento do passado distante, mas agora não pode acontecer; isso também é improvável, uma vez que as condições necessárias para prosseguir a vida existem agora e de fato também devem ter existido no momento em que se presume que o material vivo se originou de substâncias inorgânicas, caso contrário, o produto da primeira origem não poderia ter permanecido vivo por muito tempo. Portanto, é difícil ver exatamente o que está faltando no momento em que a geração primária é impossível ”.
 
Já vimos na última seção, que no momento o que falta acima de tudo são aquelas substâncias que contêm muita energia química. que são as únicas coisas das quais a vida poderia se desenvolver e que, por si mesmas, só poderiam ser formadas em temperaturas extremamente altas. No entanto, mesmo que tais substâncias fossem formadas agora em algum lugar da Terra, elas não poderiam avançar muito em seu desenvolvimento. Em um determinado estágio desse desenvolvimento, elas seriam comidas, uma após o outra. Destruídas pelas bactérias onipresentes que habitam nosso solo, água e ar.

As coisas eram diferentes naquele período distante da existência da Terra, quando as substâncias orgânicas surgiram pela primeira vez, quando, como acreditamos, a Terra era árida e estéril. Não havia bactérias nem quaisquer outros microrganismos nela, e as substâncias orgânicas eram perfeitamente livres para saciar sua tendência de sofrer transformações por muitos, muitos milhares de anos.
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(∗) Carboidratos são substâncias orgânicas compostas de carbono, hidrogênio e oxigênio, estando o hidrogênio e o oxigênio presentes nas mesmas proporções que na água. Os vários açúcares, como glicose, sacarose e frutose, bem como amido e celulose, são exemplos típicos de carboidratos. 
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É claro que é difícil dizer quais foram essas transformações e que tipo de substâncias resultaram delas. A única coisa certa é que essas transformações foram dirigidas principalmente para uma agregação de material e a formação de partículas cada vez mais complicadas e cada vez maiores.
 
No entanto, observamos nas seções anteriores que substâncias com partículas grandes e complicadas têm uma grande tendência para formar soluções coloidais em água. Mais cedo ou mais tarde, essas soluções coloidais de substâncias orgânicas devem ter surgido na cobertura aquosa da Terra e, uma vez que surgiram, continuaram a existir, suas moléculas se tornando mais complicadas e maiores com o passar do tempo.
 
O estado da solução coloidal não é, entretanto, estável. Por várias causas, às vezes extremamente leves, as substâncias dissolvidas saem da solução coloidal na forma de precipitados, coágulos ou géis. É impossível, incrível, supor que no decorrer de muitas centenas ou mesmo milhares de anos durante os quais o globo terrestre existiu, as condições não surgiram “por acaso” em algum lugar que levaria à formação de um gel em uma solução coloidal. Essa formação de pedaços agregados de matéria orgânica flutuando livremente nos ilimitados espaços aquáticos do oceano que lhes deram origem deve certamente ter ocorrido em algum momento da existência da Terra.
 
O momento em que o gel se precipitou ou se formou o primeiro coágulo marcou uma etapa extremamente importante no processo da geração espontânea da vida. Nesse momento, o material que antes não tinha estrutura adquiriu uma estrutura e ocorreu a transformação dos compostos orgânicos em um corpo orgânico. Não só isso, mas ao mesmo tempo o corpo tornou-se um indivíduo. Antes disso, havia sido fundido inseparavelmente com todo o resto do mundo, dissolvido nele. Agora, no entanto, ele se separou, embora ainda de forma muito imperfeita, desse mundo e se destacou do ambiente ao seu redor.
 
Com certas reservas, podemos até considerar aquele primeiro pedaço de limo orgânico que surgiu na Terra como sendo o primeiro organismo. Na verdade, deve ter tido muitas daquelas características que agora consideramos características da vida. Era composto de substâncias orgânicas, tinha uma estrutura definida e complicada que era totalmente característica dele. Ele tinha um estoque considerável de energia química, permitindo que passasse por outras transformações. Finalmente, mesmo que não pudesse metabolizar no sentido pleno da palavra, certamente deve ter tido a capacidade de se nutrir, de absorver e assimilar substâncias de seu ambiente, pois isso está presente em todo gel orgânico. 
 
É difícil dizer precisamente como foi o desenvolvimento posterior desses primeiros organismos, mas ainda é bem possível estabelecer a direção geral desse desenvolvimento. Suponhamos que em um dos cantos da Terra, nas ondas turbulentas do oceano, se tenham formado, ao mesmo tempo ou um após o outro, dois pedaços de gel. Mesmo que se separassem da mesma solução, não poderiam ser exatamente iguais. De uma forma ou de outra, eles devem ter diferido, pois identidade absoluta não existe na Terra. Ambos os pedaços foram formados e flutuaram em algo que não era apenas água. Estavam imersos, por assim dizer, numa mistura de nutrientes, numa solução, embora muito fraca, de diferentes substâncias, entre as quais havia vários compostos orgânicos. E cada um desses pedaços de lodo absorveu essas substâncias do meio que o rodeava. Cada um cresceu às custas dessas substâncias, mas como cada pedaço tinha uma estrutura diferente da outra, eles assimilaram o material do meio ambiente em ritmos diferentes, um mais rápido, o outro mais lento. Aquele com a organização físico-química que tornava possível realizar mais rapidamente o processo de assimilação de substâncias até então estranhas do meio ambiente cresceu mais rápido do que seu camarada mais fraco e menos organizado. Quanto mais crescia e quanto maior sua superfície, mais ampla se tornava essa diferença na taxa de crescimento.
 
À medida que isso acontecia, o perigo da peça perder sua integridade por quebrar ou ser quebrada em partes maiores ou menores também aumentou. Isso deve ter acontecido com peças diferentes de maneiras bem diferentes por razões puramente mecânicas, como o quebrar das ondas ou balanço, ou pode ter sido devido à tensão superficial. Mesmo assim, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde deve ter acontecido. O pedaço de gel não poderia continuar crescendo para sempre como uma massa contínua. Deve ter se quebrado e dado origem a novos pedaços, novos “organismos primitivos”. Estes últimos foram construídos como partes de seu corpo e, portanto, sua estrutura foi herdada por eles do gel a partir do qual foram formados.
 
Essa estrutura, entretanto, não era algo imutável ou constante. Naturalmente, isso dependia até certo ponto da composição química do gel, mas isso estava mudando o tempo todo. Novas substâncias estavam continuamente entrando nele a partir do meio externo, novos compostos estavam sempre sendo incorporados em seu corpo e sua estrutura física e química estava continuamente mudando.
 
Os pedaços que foram formados pela quebra do gel original eram, é claro, semelhantes uns aos outros no início, mas após a divisão, cada um seguiu seu próprio caminho. Cada um começou a crescer independentemente e a estrutura de cada um começou a sofrer mudanças que lhe eram peculiares. Isso significava que, mesmo após um curto período de tempo, os fragmentos irmãos devem ter diferido uns dos outros em sua estrutura. A velha história deve ter se repetido. As construídas com mais eficiência começaram a crescer mais rapidamente e as menos eficientes ficaram para trás em seu crescimento.
 
Isso se repetiu por muitos e muitos anos. A estrutura de um gel com todas as mudanças que nele surgiram foi adquirida e herdada por todos os pedaços que deviam sua origem ao rompimento daquele gel. Os pedaços recém-formados cresceram mais, sua estrutura novamente sofreu alterações de uma forma ou de outra e as alterações foram mais uma vez transmitidas aos seus descendentes. 
 
No entanto, no decorrer desse processo de mudança, a seleção dos pedaços de gel mais bem organizados estava sempre acontecendo. É verdade que os menos organizados poderiam crescer ao lado dos mais eficientes, mas logo devem ter parado de crescer. Mesmo quando havia substância suficiente dissolvida para todos, o papel principal era sempre desempenhado pelas entidades qualitativamente mais organizadas. O crescimento em massa dos géis seguiu uma progressão geométrica e, portanto, os corpos que tinham mesmo uma superioridade relativamente pequena logo ultrapassaram seus companheiros menos eficientes no que diz respeito ao seu crescimento e desenvolvimento. 
 
Assim, lenta mas seguramente, de geração em geração, ao longo de muitos milhares de anos, ocorreu uma melhoria da estrutura físico-química dos géis, uma melhoria principalmente direcionada para aumentar a eficiência do aparelho para absorção e assimilação de compostos nutritivos. Com base nisso, deve ter surgido toda uma série de novas propriedades que estavam ausentes no gel original, entre outras, a capacidade de metabolizar.
 
Os organismos atuais queimam em seus corpos uma parte do material que absorvem de seu ambiente. Isso é inevitável, pois é somente por meio da energia obtida por essa queima que o crescimento posterior de seu protoplasma e posterior assimilação de nutrientes pode ocorrer. Da mesma forma, também, os organismos originais, quando eles haviam gasto uma quantidade considerável da energia oculta neles, tiveram que recorrer a um processo de respiração ou fermentação para adquirir a energia. eles precisavam para seu maior crescimento e desenvolvimento. Só aqueles entre eles que, durante as transformações precedentes, desenvolveram em si um aparelho que lhes permitissem queimar ou fermentar, mais ou menos rapidamente, uma parte das substâncias nutritivas por elas absorvidas, podendo crescer e se desenvolver ainda mais. O resto deve ter interrompido seu desenvolvimento. No entanto, entre aqueles afortunados que desenvolveram esse poder do metabolismo, surgiu uma luta feroz pela existência, uma luta até a morte. A quantidade de material orgânico nutritivo no meio circundante estava diminuindo. Parte dela já havia sido absorvida pelos organismos, enquanto outra parte foi decomposta, queimada no processo de respiração ou fermentação. Somente os mais complicados e eficientes poderiam crescer e se desenvolver, todo o resto ou cessou de se desenvolver ou pereceu. Quanto mais a vida progredia, menos substâncias nutritivas estavam disponíveis para os organismos e mais forte e amargamente a luta pela existência era travada e mais estrita se tornava “Seleção natural”, rejeitando tudo o que era fraco ou atrasado e permitindo que apenas os mais eficientes vivessem. Por fim, chegou o momento em que todas, ou quase todas, as substâncias orgânicas que até então serviam como o único alimento dos seres vivos originais desapareceram. Agora, apenas aqueles organismos que podiam se adaptar às novas condições de vida eram capazes de manter e prolongar sua existência. Para tanto, havia apenas dois caminhos abertos para eles: ou eles poderiam continuar usando seus antigos meios de nutrição, adquirindo as substâncias orgânicas de que necessitavam para sua alimentação comendo seus camaradas mais fracos, ou eles poderiam se voltar para uma nova direção e se desenvolver, criam em si mesmos um aparato que lhes permita nutrir-se de compostos inorgânicos muito simples. 
 
Somente as coisas vivas que seguiram um desses cursos poderiam se preservar para uma vida futura. Tendo se desenvolvido e se aperfeiçoado ainda mais, eles finalmente deram origem a todas as formas de organismos que agora podemos observar. 
 
Se nos voltarmos para o estudo dessas formas modernas, investigando sua estrutura interna e conhecendo seus meios de alimentação, veremos que os poucos fatos que temos neste campo estão de acordo com a hipótese sobre a origem da vida. A estrutura interna das células dos organismos modernos está sempre mudando, tornando-se mais eficientes e complicadas. É somente por causa da imperfeição de nossos métodos de estudo que não podemos observar isso diretamente e que essa estrutura nos aparece como algo constante, elenco em uma forma definitiva e final. Isso não é, de fato, verdade. Se compararmos a estrutura interna das células de organismos superiores e inferiores, encontraremos uma diferença considerável entre elas. As células das bactérias ou das cianobactérias (algas verde-azuladas) têm uma organização interna consideravelmente mais simples do que as dos animais e plantas superiores. Isso ocorre porque esses microrganismos que estão no degrau mais baixo da escada sistemática, são os descendentes diretos das classes mais antigas de organismos. Eles interromperam seu desenvolvimento e mantiveram inalteradas todas as características da estrutura de seus ancestrais distantes, enquanto todas as outras coisas vivas, alterando-se e melhorando-se continuamente, atingiram uma forma mais complicada de estrutura celular. 
 
Assim, o estudo direto dos organismos modernos nos convence de que aquelas formas que têm uma organização interna muito complicada de suas células surgiram de formas mais simples por sucessivas mudanças e provações. Se assim for, não temos por que negar que essas formas relativamente simples surgiram, por sua vez, de seres que tinham uma organização ainda mais simples, que se aproximava até da de um gel coloidal. É verdade que nenhum vestígio desses seres vivos primitivos permanece agora na Terra, mas isso não é prova de que eles nunca existiram. Não se deve esquecer que em um determinado período da existência da Terra eles devem ter sido completamente exterminados por seus camaradas mais altamente organizados. 
 
Obtemos evidências ainda mais interessantes do estudo dos meios de nutrição de nossos organismos modernos. Uma proporção considerável de organismos -bactérias, fungos e animais- só podem se alimentar de  substâncias orgânicas. Deve-se ressaltar que este é o método de nutrição usado pelos seres vivos menos organizados, como o Rizomastigina e Protomastigina que são consideradas por todos os sistematas atuais, como representantes dos tipos de organismos que foram os ancestrais de todas as coisas vivas na Terra. Este fato totalmente apoia a ideia de que o método de consumo de substâncias orgânicas é o meio mais antigo de nutrição. O poder da alimentação independente e “autotrófica” só poderia se desenvolver mais tarde, como resultado de uma série de transformações internas e mudanças em sua estrutura físico-química. Não poderia, no entanto, desenvolver-se de uma só vez. Nosso conhecimento dos meios de nutrição dos organismos modernos e inferiores nos conduzem à conclusão de que os seres vivos passaram por muitas mudanças e tentaram muitas possibilidades antes que eles pudessem alcançar a melhor forma de nutrição independente ou substâncias inorgânicas. Entre os mais baixos organismos, as bactérias, encontramos ao lado de formas que são nutridas exclusivamente em materiais orgânicos, outras formas que se estabeleceram dentro eles próprios um aparelho que lhes permite se alimentar de outra maneira. Aqui podemos observar uma incrível variedade de modos de nutrição, meios pelo qual os organismos tentam extrair a energia de que precisam para a vida do meio inorgânico em torno deles. Um deles obtém essa energia convertendo o sulfeto de hidrogênio dissolvido na água em ácido sulfúrico. Para o mesmo propósito, outro converte amônia em ácidos nitroso e nítrico, enquanto um terceiro transforma sais de ferro reduzidos em oxidados. Quer queiramos ou não, temos a impressão de que todas essas várias formas de nutrição foram concebidas porque os organismos foram forçados a encontrar alguma saída, algo que lhes permitiria existir na ausência de materiais orgânicos dissolvidos.
 
No entanto, nenhuma dessas formas de nutrição independente tornou-se amplamente utilizada entre os organismos. Todos esses métodos de obtenção de energia necessária para a vida a partir de fontes terrestres foram consideradas ineficientes. Um método muito mais eficiente seria aquele baseado na absorção e uso da energia que o Sol nos envia na Terra na forma de raios de luz. Todas as plantas verdes atuais, desde as minúsculas algas unicelulares de nossos lagos às poderosas árvores gigantes das florestas tropicais usam apenas este meio de nutrição. Por meio de um aparato muito complicado, no qual o pigmento verde clorofila desempenha um papel essencial, esses organismos capturam a energia dos raios do Sol que incidem sobre eles e, com sua ajuda, decompõem o dióxido de carbono abundante no ar. Como resultado dessa decomposição, as plantas adquirem a possibilidade de usar o carbono do dióxido de carbono para formar novas substâncias orgânicas que também as alimentam. A forma de nutrição descrita é muito eficiente, mas também muito complicada. Não pode haver dúvida de que o aparato extremamente complicado físico-químico necessário para isso só poderia ter sido criado como resultado de uma longa série de transformações e alterações na célula viva. Devemos, portanto, considerá-la como a mais recente e a mais atualizada forma de nutrição.
 
Com isso encerramos nossa discussão sobre a origem da vida. Em nossas mentes, percorremos um longo caminho desde os átomos incandescentes de carbono da primeira nebulosa até os seres vivos de nossos tempos. Nós vimos como é possível explicar a origem da vida, sempre baseando nossas ideias em fatos cientificamente comprovados. Claro, a explicação dada aqui é apenas uma das possíveis. Ainda temos muito poucos dados disponíveis que nos permitam manter com certeza absoluta que o processo em discussão ocorreu exatamente desta forma e não de outra forma. Ainda sabemos muito pouco sobre a estrutura dos géis coloidais e menos ainda sobre a estrutura físico-química do protoplasma. Mas essa nossa ignorância é certamente apenas temporal. O que não sabemos hoje, saberemos amanhã. Todo um exército de biólogos está estudando a estrutura e organização da matéria viva, enquanto um número não menor de físicos e químicos estão diariamente nos revelando novas propriedades das coisas mortas. Como dois grupos de trabalhadores perfurando as duas extremidades opostas de um túnel, eles estão trabalhando para o mesmo objetivo. O trabalho já percorreu um longo caminho e muito, muito em breve as últimas barreiras entre os vivos e os mortos desmoronarão sob o ataque do trabalho paciente e do poderoso pensamento científico.
 
 
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Em 2017, Stéphane Tirard publicou on-line o artigo "J. B. S. Haldane and the origin of life".  
 
Nesse artigo, ele analisa a conhecida publicação de J. B. S. Haldane, sobre a origem da vida, publicada em 1929 (cinco anos depois da publicação de Oparin). O artigo se divide em 3 partes : "A primeira parte deste artigo revisa as principais ideias apresentadas no famoso artigo de Haldane, que teve um grande impacto na história das ideias sobre a origem da vida. Segundo o biólogo britânico, a vida pôde surgir na Terra por meio de um processo de evolução química progressiva, que ele descreveu por meio de um cenário muito claro e conciso. A segunda parte faz comparações entre as ideias de Haldane e Oparin sobre as origens da vida (1924). Por várias razões, seus artigos são frequentemente associados à hipótese de Oparin-Haldane. É importante compará-los para entender a razão por trás dessa associação, bem como para sublinhar as distinções conceituais importantes entre eles. E a terceira e última parte enfoca as reflexões de Haldane sobre o surgimento da vida durante as décadas de 1950 e 1960. O retorno de Haldane a esta questão em vários jornais mostrou seu grande interesse por ela e confirmou a originalidade de seu pensamento". 
 
Ele finaliza o artigo citando que "Em 1963, Haldane participou de um importante simpósio sobre as origens dos sistemas pre-biológicos e suas matrizes moleculares, que ocorreu na Flórida (Fox 1965). Nesta ocasião, ele conheceu Oparin pela primeira vez. Como presidente da palestra de Oparin, Haldane dirigiu estas palavras ao seu colega: "Tenho muito poucas dúvidas de que o Professor Oparin tem prioridade sobre mim. Tenho vergonha de não ter lido seus primeiros trabalhos, então não sei. Pelo que eu sei, não publiquei até 1927 [sic] e ele o fez em 1924, e havia muito pouco em meu pequeno artigo que não foi encontrado em seus livros. Acho que se seu primeiro livro foi em 1924, a questão da prioridade não se coloca. A questão do plágio pode" (Fox 1965). Durante este simpósio, em sua própria palestra, Haldane foi um dos primeiros a considerar a possibilidade de um papel central para do RNA na origem da vida, ideia que se tornou central durante a década de 1980 (Haldane1965). Sua hipótese estava relacionada ao seu interesse por vírus, e ele reivindicou este modelo: "Sugiro que os primeiros organismos sintéticos podem ter sido algo como o vírus do mosaico do tabaco, mas incluindo a enzima ou enzimas necessárias para sua própria replicação" (Haldane 1965) . Algumas linhas mais adiante, ele acrescentou: "Se há algum sentido nesta visão, algumas configurações de RNA podem ser muito mais prováveis ​​do que outras formadas a partir dos mesmos componentes, e isso devido às propriedades do todo que, se estiverem além de nossa compreensão atualmente, são, em princípio, calculáveis, como os níveis de energia de uma molécula de benzeno a partir de parâmetros atômicos. Assim, a probabilidade de formação espontânea de um padrão de RNA biologicamente relevante pode ser muito aumentada, sem qualquer suposição de que uma força vital ou alma estava guiando as moléculas para a configuração correta" (Haldane 1965). Finalmente, conclui : "Haldane é frequentemente apresentado, junto com Oparin, como o autor de uma das hipóteses mais importantes, do período entre as guerras, sobre a origem da vida. Ao longo de sua vida, ele manteve um interesse por esta questão e, de forma mais geral, por questões fundamentais como a natureza e a definição de organismo vivo mínimo. Ele também pôde participar da renovação da reflexão sobre a origem da vida durante os anos 1950 e 1960 e incorporou os mais novos dados da biologia molecular em sua própria abordagem original. Sua última contribuição para o problema foi a suposição muito interessante de que o RNA foi importante na origem da vida".
 
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O EXPERIMENTO DE STANLEY MILLER
 
Em 1953, Stanley Miller publicou um experimento para testar a teoria elaborada por Oparin sobre a origem da vida. De acordo com essa teoria, as condições presentes numa Terra primitiva favoreciam a ocorrência de reações químicas, capazes de transformar compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Miller criou um sistema fechado sem oxigênio gasoso, no qual colocou metano, amônia, vapor d'água e hidrogênio. Usando descargas elétricas, aquecimento e condensação de água, conseguiu  produzir moléculas orgânicas (aminoácidos). Ver o LINK
 
Uma produção de aminoácidos sob as possíveis condições primitivas da Terra                                                         Stanley L. Miller

 
A ideia de que os compostos orgânicos que servem como a base da vida foram formados quando a terra tinha uma atmosfera de metano, amônia, água e hidrogênio em vez de dióxido de carbono, nitrogênio, oxigênio e água foi sugerida por Oparin e tem recebido ênfase recentemente por Urey e Bernal. Para testar essa hipótese, foi construído um aparato para fazer circular CH4, NH3, H2O e H2 após uma descarga elétrica. A mistura resultante foi testada para aminoácidos por cromatografia em papel. Uma descarga elétrica foi usada para formar radicais livres em vez de luz ultravioleta, porque o quartzo absorve comprimentos de onda curtos o suficiente para causar fotodissociação dos gases. A descarga elétrica pode ter desempenhado um papel significativo na formação de compostos na atmosfera primitiva. O aparelho usado é mostrado na Fig.1. A água é fervida no frasco, se mistura com os gases no frasco 5-1, circula pelos eletrodos, condensa e esvazia de volta no frasco de ebulição. 
 
O tubo em U evita a circulação na direção oposta. Os ácidos e os aminoácidos formados na descarga, não sendo voláteis, acumulam-se na fase aquosa. A circulação dos gases é bastante lenta, mas isso parece uma vantagem, pois a produção foi menor em um aparelho diferente com um arranjo de aspirador para promover a circulação. A descarga, uma pequena corona, era fornecida por uma bobina de indução projetada para detecção de vazamentos em aparelhos a vácuo. O procedimento experimental consistiu em selar a abertura do frasco de ebulição após adicionar 200 ml de água, evacuar o ar, adicionar 10 cm de pressão de H2, 20 cm de CH4 e 20 cm de NH3. A água do frasco era fervida e a descarga corria continuamente por uma semana. 
 
Durante a corrida, a água no frasco tornou-se visívelmente rosa após o primeiro dia e no final da semana a solução estava profundamente vermelha e turva. A maior parte da turbidez foi devido à sílica coloidal do vidro. A cor vermelha deve-se aos compostos orgânicos adsorvidos na sílica. Também estão presentes compostos orgânicos amarelos, dos quais apenas uma pequena fração pode ser extraída com éter, e que formam uma linha contínua diminuindo na parte inferior em um cromatograma unidimensional executado em ácido butanol-acético. Essas substâncias estão sendo investigadas mais profundamente. No final da corrida a solução na ebulição o frasco foi removido e 1 ml de HgCl2 [cloreto de mercúrio] saturado foi adicionado para prevenir o crescimento de organismos vivos. Os anfólitos foram separados do resto dos constituintes adicionando Ba(OH)2 [hidróxido de bário] e evaporando in vacuo para remover aminas, adicionando H2S04 [ácido sulfúrico] e evaporando para remover os ácidos, neutralizando com Ba(OH)2, filtrando e concentrando in vacuo. Os aminoácidos não são devidos a organismos vivos porque seu crescimento seria impedido pela água fervente durante a execução e pelo HgCl2, Ba(OH)2, H2S04 durante a análise. Na Fig. 2 é mostrado um cromatograma de papel executado em uma mistura de n-butanol, ácido acético e água seguida de fenol saturado com água e pulverização com ninidrina. A identificação de um aminoácido foi feita quando o valor Rf (a proporção da distância percorrida pelo aminoácido pela distância percorrida pela frente do solvente), a forma e a cor do ponto eram os mesmos em um conhecido, desconhecido, e mistura do conhecido e o desconhecido; e quando resultados consistentes foram obtidos com cromatogramas usando feniol e 77% de etanol.

Nesta base, a glicina, a-alanina e 3-alanina foram identificadas. A identificação do ácido aspártico e do ácido a-amino-n-butírico é menos certa porque as manchas são fracas. Os pontos marcados com A e B ainda não foram identificados, mas podem ser aminoácidos beta e gama. Estes são os principais aminoácidos presentes, e outros estão, sem dúvida, presentes, mas em quantidades menores. Estima-se que o rendimento total de anminoácidos estava na faixa dos miligramas. 
 
Neste aparelho, foi feita uma tentativa de se duplicar uma primitiva atmosfera da terra, e não para obter as condições ótimas para a formação de aminoácidos. Embora neste caso o rendimento total tenha sido pequeno para a energia despendida, é possível, que, com aparelhos mais eficientes (como uma mistura de radicais livres em um sistema de fluxo, uso de hidrocarbonetos superiores de gás natural ou petróleo, dióxido de carbono, etc., e proporções ótimas de gases), esse tipo de processo seria uma forma de produzir aminoácidos comercialmente. 
 
Uma análise mais completa dos aminoácidos e outros produtos da descarga estão agora sendo realizados e serão relatados em detalhes em breve. 

LITERATURA
OPARIN, A. I. The Origill of Life. New York: Macmillan,  (1938). 2.
UREY, H. C. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S., 38, 351 (1952); The Planets. New Haven: Yale Univ. Press Chap. 4 (1952). 
BERNAL, J. D. Proc. Phys. Soc. (London), 62A, 537 (1949);  62B, 597 (1949); PhysicaZ Basis of Life. London: Routledge anld Kegan Paul (1951).
 
Artigo recebido em 13 de fevereiro de 1953.   LINK
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K.S. MERESCHKOWSKY E A ORIGEM DA CÉLULA EUCARIÓTICA                                                                                  N.A. PROVOROV                                               
 
A TEORIA DA SIMBIOGÊNESE proposta em 1905 (há 117 anos) por K.S. Mereschkowsky postulou a emergência de plantas por meio da integração de micróbios fototróficos em células hospedeiras heterotróficas. Até o momento, tornou-se aparente que esta teoria pode ser relevante para descrever uma gama extremamente ampla de processos evolutivos induzidos nos sistemas de adaptação cooperativa. Propusemos uma nova definição de simbiogênese como um processo de múltiplos estágios convertendo o sistema simbiótico em todo o organismo (holobionte), com base na formação de um sistema de hereditariedade de parceiros integrais.
Este sistema emerge no curso da transição dos parceiros da simbiose facultativa para a obrigatória e evolui da integridade funcional, com base nas interações dos parceiros de sinalização (simbiogênico), para a integridade estrutural, com base na troca de genes dos parceiros (hologenoma).
A escolha entre a abordagem proposta com a teoria da simbiogênese de K.S. Mereschkowsky é mostrada usando o material do artigo "Sobre a natureza e a origem dos cromatóforos no reino vegetal" (C. Mereschkowsky 1905. Über Natur und Ursprung der Chromatophoren im Pflanzenreiche. Biologisches Centralblatt 25: 593-604). 
 
Analisamos a relação da argumentação tradicional da simbiogênese (continuidade genética das organelas celulares a partir de sua transmissão nas gerações do hospedeiro) com sua argumentação, hoje utilizada pela TEORIA DAS ENDOSSIMBIOSES SERIAIS (TES) proposta por  Lynn Margulis:
 
a) a presença de genomas de organelas rudimentares; b) parentesco filogenético das organelas com microrganismos de vida livre e simbióticos;
c) identificação das formas celulares de transição que unem bactérias e organelas de vida livre.
Versões modernas da TES sugerem que a introdução de alpha-proteobactérias aeróbias em arquéias anaeróbicas deu origem a eucariotos, que evoluíram posteriormente através do recrutamento em suas estruturas celulares de endossimbiontes adicionais, incluindo cianobactérias e vírus  fototróficos. As formas de archaea, próximas ao ancestral comum dos eucariotos, são representadas pelas recém-descobertas Lokiarchaeota quimiotróficas cujas células são caracterizadas por uma série de características eucarióticas, incluindo o citoesqueleto de actina e a capacidade de endocitose.
Evidências convincentes a favor da TES foram obtidas no estudo de cianelos (simbiontes fototróficos de protozoários, combinando as propriedades de cianobactérias de vida livre e plastídeos), bem como endocitobiontes de insetos com genoma profundamente reduzido (menos de 200 kb), que, em contraste com as mitocôndrias e os plastídios, manteve a capacidade de implementar de forma autônoma os processos de modelo básicos - replicação, transcrição, tradução. Um dos destinos intrigantes da TES moderna é a análise da emergência do núcleo e dos cromossomos, que pode estar associada à introdução de vírus DNA "gigantes" altamente organizados em formas celulares ancestrais com genomas de RNA (a hipótese de eucariogênese viral) . 

 
K.S. MERESCHKOWSKY AND THE ORIGIN OF THE EUKARYOTIC CELL: 111 YEARS OF SYMBIOGENESIS THEORY - N.A. PROVOROV    LINK
 
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Em 1981 e em 1993, Lynn Margulis publicou um livro no qual ela apresenta a ideia de que mitocôndrias e cloroplastos seriam células procariontes que foram englobadas por células eucariontes, resultando numa relação simbiótica, com benefícios para ambos os envolvidos nessa interação. 
 
 "Toda a vida na Terra é bacteriana ou deriva, por simbiogênese, de comunidades de bactérias. Um século de teoria da evolução sem simbiogênese é o suficiente". 
 
A Herança dos Micróbios Adquiridos                                                         Lynn Margulis             
                                                     
Prefiro não falar de mim, dos meus quatro filhos, de outras ligações ou das pressões incessantes de quem quer silenciar ou, ainda mais insidiosamente, marginalizar a mim e ao meu trabalho. Em vez disso, dou boas-vindas a esta alegre oportunidade do Citation Classic 1, que permite a expressão de minhas opiniões sobre a questão que Darwin nunca respondeu: Como as espécies se originam? 
 
O público e até mesmo muitos biólogos ainda consideram a vida divisível em três grupos: animais (organismos que se movem, incluindo pessoas), plantas (organismos que fotossintetizam, produzindo alimentos e fibras) e o resto: germes. Os germes, invisíveis e alojados na espuma incômoda, são bactérias, vírus e parasitas que atacam aleatoriamente. A nova segunda edição do meu livro Symbiosis in Cell Evolution (SCE 2) reverte esse antropocentrismo ao distinguir os micróbios, respeitando profundamente os poderes do mundo invisível e a relevância da diversidade microbiana para a evolução; assim, substitui a estúpida dicotomia planta versus animal pela lógica dos cinco reinos. Baseando-se em disciplinas tão díspares como tecnologia de DNA, ultraestrutura e geologia pré-fanerozóica, ele estabelece uma base moderna para o conceito de Darwin da ancestralidade comum da vida. Além disso, SCE 2 rejeita princípios centrais da distorção neodarwiniana da visão de Darwin, por exemplo, eu afirmo que o acúmulo gradual de mutações aleatórias é insuficiente para explicar a especiação. Em vez disso, a especiação ocorre principalmente por simbiogênese, é claro suplementada por mutações de DNA.
 
A própria simbiose é apenas uma associação física prolongada de organismos que são membros de espécies diferentes. Simbiose é a mudança evolutiva resultante que ocorre pela integração permanente de simbiontes. Que a simbiogênese formou novas espécies foi argumentado por I. E. Wallin (1883-1969), um americano, e por pelo menos três russos: K.S. Mereschkowsky (1855-1921), B.M. Kozo-Polyansky (1890-1957) e A. S. Famintsyn (1835-1918), mas ainda é ignorado na literatura evolucionária de hoje. No início do éon do Proterozóico (dois bilhões de anos atrás), diferentes tipos de bactérias tornaram-se tão literalmente incorporados, que surgiram como novos tipos de indivíduos maiores em níveis de organização mais complexos. O aparecimento da organização das células eucarióticas a partir da fermentação, mobilidade e, eventualmente, da respiração e dos componentes fotossintéticos do microcosmo fornece princípios de evolução dentro da estrutura do fato de que toda a vida na Terra forma um sistema complexo de interação com continuidade física através do espaço e do tempo. 
 
Duas mudanças principais distinguem SCE2 de SCE (1981): a evidência de que os undulipódios precederam as mitocôndrias e a descoberta do DNA do cinetossomo-centríolo (kDNA). Os sistemas de microtúbulos [9 (2) +2] são estruturas de motilidade surpreendentemente constantes em largura, em 0,25 µm, e geralmente 5-10 µm de comprimento. [Embora sejam bastante uniformes em largura em todas as células, podem variar de menos de um a mais de 3.000 µm (= 3 mm) de comprimento.] seus nomes confusos, essas estruturas de mobilidade dos eucariotos são sempre sustentadas por cinetossomos. Eles incluem caudas de esperma; oviduto, cílios traqueais e sensoriais; cílios ciliados; cílios de guelras de moluscos; os "flagelos" eucarióticos de tripanossomos, euglenídeos e outras algas nadadoras. A homologia evolutiva é indiscutível: a estrutura do axonema [9 (2) +2] invariavelmente se forma a partir de um cinetossomo [9 (3) +0], uma estrutura que freqüentemente se desenvolve a partir de um centríolo mitótico. O termo genérico para o cinetossomo-axonema coberto por membrana é undulipódio.
 
Meu livro descreve muitas estruturas estudadas independentemente que são realmente undulipódios modificados: cílios olfatórios e o cinocílio auditivo em mamíferos, bastonetes e cones de algumas retinas, cílios dos órgãos do equilíbrio, mecanorreceptores de insetos, o haptonema de prymnesiófitos e os feixes aglomerados de ctenóforos (geléia do mar) undulipódios (os "macrocílios") são todos conseqüências de [9 (3) +0] cinetossomos. A aquisição simbiótica do undulipódio (antes das mitocôndrias) implica que os primeiros eucariotos eram anaeróbios ondulpódicos móveis, cujos descendentes incluem Giardia (e outros diplomonas), Tricomonas (e outros parabasalídeos), retortamônadas e provavelmente microsporídeos. A aquisição de simbiontes de motilidade eubacteriana em um hospedeiro arquebacteriano Thermoplasma-toke para formar os primeiros protistas é reconstruída. A espinhosa questão da origem dos undulipódios é iluminada pela descoberta do DNA do cinetossomo-centríolo (kDNA) pelos cientistas da Universidade Rockefeller. As implicações da descoberta no laboratório de David Luck para a teoria simbiogênica são apresentadas como um relatório de progresso porque (ao contrário da prova definitiva de que ambos mitocôndrias e plastídios são de origem simbiótica de bactérias respiradoras de O2 e fototróficas, respectivamente) o trabalho do cinetossomo-centríolo não está completo. O cinetossomo-DNA (kDNA) foi severamente criticado por Joel Rosenbaum e outros. Além disso, agora sabemos que a proteína que chamamos de "semelhante à tubulina" que encontramos em alguns espiroquetas não possui homologia de sequência de tubulina; em vez disso, como a "simbionina" relatada por Ishikawa e seus colegas,  essa proteína fibrosa é homóloga da chaperonina agroEL. Embora o postulado da origem dos espiroquetas dos undulipódios, com suas implicações para a evolução da mitose e da sexualidade meiótica, não esteja definitivamente estabelecido, o progresso na teoria endossimbiótica serial ainda é impressionante. A descoberta do DNA do cinetossomo-centríolo (kDNA), da morfogênese em espiroquetas de vida livre (Spirosymplokos), de mastigotas amitocondriados e outros relevantes protoctistas e de um registro fóssil pré-fanerozóico excelente expandido estabelecem a eucariose como um dos muitos exemplos da importância da simbiose na evolução. Simbiogênese, mesmo em animais e plantas maiores, a relevância de um "mundo de RNA" conectando a química prebiótica e as primeiras células, o conceito de autopoiese e um novo suporte para a hipótese de Gaia também são revisados ​​no SCE 2. 
 
Tentei resistir às pressões confusas para fragmentar e tecnologizar que todos sofremos no excesso de informações de hoje. A obra em si mergulha na frente do desprezo, dispensa e desconhecimento de especialistas e rejeição dos órgãos financiadores. SCE 2 foi escrito para contornar esses guardiões dos portões da verdade e envolver as mentes dos alunos e professores, evolucionistas e microbiologistas, geólogos e ecologistas que amam o campo mais do que o laboratório e se recusam a pedir desculpas por seu interesse sensorial direto no mundo natural e sua história. 
 
LITERATURA
MARGULIS, L. 1981.  Symbiosis in Cell Evolution.  Life and its Environment on the Early Earth.  XXII +479S., 104 Abb., 59 Tab.  San Francisco.  1981. 
MARGULIS, L. and D. Bermudes. 1985Symbiosis as a mechanism of evolution: Status of cell symbiosis theory. Symbiosis 1: 101-123.   LINK
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Em 1735, Carolus Linnaeus propõe a sua classificação científica dos elementos da natureza, o Systema Naturae, mas esta só se consagrou mais tarde, com a décima edição de 1758. Linnaeus alocou esses elementos em três Reinos: Regnum Vegetalia, Regnum Animalia e Regnum Mineralia. Esse arranjo permaneceu inalterado por aproximadamente um século. Porém, organismos como a Euglena, por exemplo, que fazem fotossíntese mas também possuem mobilidade, eram considerados ora como plantas (algas verdes), ora como animais (protozoários), e isso fez com que em 1860, John Hogg criasse um quarto reino, o Regnum Primigenum ou Protoctista, para abarcar aquelas formas que tinham afinidades vegetais, animais ou não claras. Posteriormente, em 1866, Ernst Haeckel cria o Reino Protista, que incluía todos os organismos microscópicos conhecidos na época, inclusive em uma de suas oito divisões: os Monera. Haeckel caracterizou os minúsculos Moneren como os “organismos mais simples, sem estrutura, pedaços homogêneos de Plasma”, e mencionou explicitamente o gênero bacteriano Vibrio como exemplo. Assim, os Monera de Haeckel incluiam microrganismos que hoje são conhecidos como Bactérias (um termo ainda não cunhado em 1866) Kutschera (2016). Em 1938, Herbert Copeland agrupou todos os organismos unicelulares, sem afinidades claras, com animais ou plantas, usando o termo Protista de Haeckel, posteriomente alterado para Protoctista de Hogg por questões de prioridade. Mais tarde, em 1956, ele propôs uma divisão em quatro reinos: plantas, animais, protoctistas e bactérias. Pouco tempo depois em 1959, Robert H. Whittaker propôs uma nova classificação para os seres vivos em cinco reinos: plantas, animais, fungos, protistas e bactérias, e a sua proposta acabou ganhando maior destaque que a de Copeland.

 
SOBRE A AMPLA CLASSIFICAÇÃO DOS ORGANISMOS                                                                                                 R.  H. Whittaker


Um sistema de classificação amplo que reconhecia um reino vegetal de quatro divisões e um reino animal de dez a quinze filos 
foi durante muitos anos estável e padronizado. 
 
Mudanças significativas ocorreram ou agora são propostas. Entre elas, três linhas principais de desenvolvimento são discutidas:

a. A classificação das algas foi fundamentalmente revisada; sete ou mais séries de algas são distinguidas principalmente pelas características das células. O conceito de filo, há muito estabelecido na classificação zoológica, foi trazido para a classificação botânica nos sistemas de Pascher (1931) e Tippo (1942), nos quais as principais séries de algas, Bryophyta e Tracheophyta, são consideradas filos.

b. Muitos autores têm defendido o reconhecimento do reino dos organismos inferiores, para atender à dificuldade de dividi-los entre os reinos vegetal e animal. Duas possibilidades principais para tal terceiro reino são o Protista de Haeckel (1866, 1894), essencialmente identificado com os organismos unicelulares, e o Proctoctista de Hogg (1860) e Copeland (1947, 1956), compreendendo os organismos nucleados, "acelulares" incluindo protozoários, algas e fungos.

c. O estudo dos fungos levou à ideia de que eles provavelmente são derivados de flagelados incolores como uma linha de evolução independente de plantas verdadeiras. As bactérias são mais bem vistas como um antigo complexo de muitos tipos nutritivos do que como um grupo derivado das algas verde-azuladas. Em comunidades naturais, bactérias e fungos juntos formam um grupo funcional principal (redutores) distinto das plantas verdes (produtores) e animais (consumidores). Conseqüentemente, é apropriado conceber as relações amplas do mundo vivo em termos de três modos de nutrição e direções de evolução, em vez de dois - a fotossintética das plantas verdes, a ingestiva dos animais e a absorção das bactérias e fungos.


                                            Essas três direções de evolução aparecem em três níveis principais de organização
                                    - O Monera, ou bactérias e algas azul-esverdeadas, que não possuem membranas nucleares;
                                                   - Os Eunucleata, ou organismos unicelulares com membranas nucleares; e
                                                     - As plantas, animais e fungos superiores multicelulares e multinucleados.

                                                                     Com base nisso, quatro reinos são aqui propostos:
- Os Protistas, ou organismos unicelulares; - Os Plantae, ou plantas multicelulares; - Os Fungos; e  - Os Animalia ou animais multicelulares.


Entre os Protistas os sub-reinos Monera, Eunucleata e os distintos. Entre os organismos superiores, as linhas de evolução menos bem-sucedidas para as condições multicelulares e multinucleadas são reconhecidas como sub-reinos Rhodophyta e Phaeophyta entre as plantas, Myxomycota entre os fungos e Parazoa e Mesozoários entre os animais. Outras alternativas ao sistema tradicional de dois reinos são discutidas. Apesar da aceitação geral do sistema de dois reinos, essas alternativas têm valor por expressar a compreensão atual das amplas relações entre os organismos. Eles devem ser julgados em comparação com o sistema de dois reinos e entre si por seu relativo sucesso em incorporar essas relações em uma classificação "natural".
 
LITERATURA
 
HAECKEL, E. 1866. Generelle Morphologie der Organismen: allgemeine Grundzüge der organischen Formen-Wissenschaft, mechanisch begrundet durch die von Charles Darwin reformirte Descendenz-Theorie. Vols I e II. Berlin. Georg Reimer.  LINK
 
HOGG, John. 1860. On the distinctions of a plant and an animal and on a fourth kingdom of Nature. Edinb N Phil J (N Ser). 12: 216–225.  LINK
 
KUTSCHERA, U. 2016. Haeckel’s 1866 tree of life  and the origin of eukaryotes. Nat. Microbiol. 1,  16114. LINK
 
LINNAEUS, C. 1758. Systema naturae per regna tria naturae: secundum classes, ordines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis. LINK
 
WHITTAKER, R. H. 1959. On the broad classification of organisms. Quarterly Review of Biology  34:210– 226; 1959. LINK
 
WHITTAKER, R. H. 1969. New Concepts of Kingdoms of Organisms. Science 163: 150-160. LINK
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A Evolução dos Metazoa     -     A Evolução dos Mamíferos



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LITERATURA
 
RICH, A. On the problems of evolution and biochemical information transfer. In: Kasha, M. and Pullman, B., Horizons in Biochemistry, 103–126 (New York, Academic Press, 1962.  LINK
 
OPARIN, A.I., Proiskhozdenie zhizny, Izd, Moskoski Rabochii, Moscow, 1924.    (Tradução do original russo para o inglês) LINK
 
HALDANE, J.B.S. 1929. Origin of Life. The Rationalist Annual, 148, 3-10. LINK

TIRARD, S. 2017. J.B.S. Haldane and the Origin of Life. Journal of Genetics 96 (5): 735–739. LINK
 
WHITTAKER, R. H. 1969. New Concepts of Kingdoms of Organisms. Science 163: 150-160. LINK
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PARTE 3
A EVOLUÇÃO da CULTURA HUMANA

    Catarrhini - Família: Cercopithecidae,  Família: Colobidae,  Família: Papionidae,  Família: Macacidae, Família: Hominidae
 
 
Diferentemente do que se "pregava" num passado recente, a cultura, muito provavelmente, já existia mesmo antes do aparecimento dos mamíferos. Porém, quero deixar claro aqui, que não estou afirmando que a "cultura humana" originou-se antes do aparecimento dos mamíferos ou dos primatas. Certamente, esse fenômeno apareceu independentemente em diferentes grupos taxonômicos e ocorreu necessáriamente em associção com a existência de vida social. A existência de cultura fora da nossa espécie é uma ideia relativamente nova, e por isso faço essa ressalva.
A transmissão cultural foi demonstrada em dezenas de estudos de mamíferos, pássaros, peixes e até mesmo em insetos. Whiten e Mesoudi (2008) revisaram 33 experimentos de difusão em animais conduzidos de 1972 a 2008, abrangendo peixes, pássaros, primatas e roedores. A taxa de tais estudos tem aumentado desde então, estendendo-se inclusive para insetos (Whiten et al., 2016).

Algumas Definições de Cultura:

1- “A totalidade dos padrões de comportamento socialmente transmitidos que caracterizam o funcionamento de um grupo ou organização por meio de treinamento ou educação; esclarecimento resultante de tal treinamento ou educação” (American Heritage Dictionary).

2- “O padrão integrado de comportamento humano que inclui pensamento, fala, ação e artefatos e depende da capacidade humana de aprender e transmitir conhecimento para as gerações sucessivas” (Merriam-Webster).

3- “Informação ou comportamento, compartilhado por uma população ou subpopulação, que é adquirido de coespecíficos por meio de alguma forma de aprendizado social” (Rendell & Whitehead, 2001).
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Rendell, L. & H. Whitehead. 2001. 
Cetacean culture: Still afloat after the first naval engagement of the culture wars, Behavioral and Brain Sciences, vol. 24, no. 2, pp. 360-382.

Embora a maioria dos comentaristas aceitem implícita ou explicitamente que os dados de campo nos permitem atribuir cultura a baleias, golfinhos e outros não humanos, não há consenso. Enquanto definimos cultura como informação ou comportamento compartilhado por uma população ou subpopulação que é adquirida de coespecíficos por meio de alguma forma de aprendizado social, alguns comentaristas sugerem restringir isso exigindo imitação/ensino, analogia humana, adaptabilidade, estabilidade entre gerações, evolução progressiva (catraca) ou funções específicas. Tais restrições caem porque impedem a atribuição de cultura a não-humanos usando métodos atualmente disponíveis ou excluem partes da cultura humana. A evidência para a cultura de cetáceos é forte em alguns casos, mas fraca em outros. Os comentários fornecem informações importantes sobre as habilidades de aprendizagem social dos golfinhos nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) e algumas especulações interessantes sobre a evolução das culturas de cetáceos e as diferenças entre as culturas de diferentes taxa. Sustentamos que alguns atributos da cultura dos cetáceos são atualmente desconhecidos fora dos humanos. Embora os estudos experimentais, tanto em laboratório quanto na natureza, tenham um papel importante no estudo da cultura de baleias e golfinhos (por exemplo, para determinar se os golfinhos têm uma Teoria da Mente), os verdadeiros tesouros serão descoberto por estudos observacionais de longo prazo no mar usando novas abordagens e tecnologias. 


A CULTURA COMO CONSEQUÊNCIA DA VIDA EM SOCIEDADE

ARTE  E  MITO


Venus of Laussel BODY with Brassempouy HEAD




O CONHECIMENTO NOS CHEGA 
ATRAVÉS DE ASSOCIAÇÕES. 

Isso na qualidade de CIÊNCIA.


A OUTRA FORMA É ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO, 
UMA TRANSMISSÃO DE PESSOA para PESSOA.


Como estou fazendo AQUI e AGORA !



A   INCRÍVEL   ARTE   do   PALEOLÍTICO   (verdadeiros  afrescos)

ARTE e MITO
"Essa não era uma arte decorativa"....Essas figuras eram pintadas muitas vezes, em lugares quase inacessíveis e escuros...TEMPLOS SECRETOS. 
                 Era uma arte ligada à "magia" da caça. Semelhante à arte dos bosquímanos do sul da ÁFRICA ou a dos Aborígenes Australianos.

ARTE e MITO
Bisão das Cavernas de Altamira, Santillana del Mar, Cantábria, Espanha. 

ARTE e MITO
Reprodução (cópia) de um bisão encolhido, uma fêmea (Breuil, 1902 e 1935) cavernas de Altamira, Espanha 

O conhecimento sobre a anatomia é espantoso. Essas pinturas foram feitas de memória em cavernas escuras, certamente iluminadas com fogo. Os pigmentos em pó eram misturados com gordura animal (usada como fixador).

ARTE e MITO
Macho de bisão europeu (Bison bonasus), fotografado ao amanhecer na floresta de Bialowieza, no leste da Polônia.
ARTE e MITO
Fêmea de bisão europeu (Bison bonasus) com seu bezerro de um dia, Highland Wildlife Park, Kingussie Escócia - foto: Liz Leyden, no FLICKR
ARTE e MITO
Bison bonasus
ARTE e MITO
Bison bonasus
ARTE e MITO
Bisão lambendo seus flancos, encontrado em La Madeleine, France, c. 12.000 a.C. no Paleolítico Superior. Encontrado em uma cova de la Madeleine, na região de Dordonha (França). Talhado sobre chifre de rena. 10 cm. de comprimento. Acredita-se....ou melhor...explica-se, que essa peça fazia parte de um tipo de lançador de dardos, que era usado também pelos aborígenes australianos e por povos indígenas da América do Norte e Central, onde era chamado em Nahuatl (asteca), de ahtlatl, um lançador de dardos.  Essa representação de um  bisão, pode ser considerada como uma obra de arte sintética, certamente uma tradição estilizada que produziu uma difusão cultural.


A  ARTE   do   PALEOLÍTICO (utensílios de pedra ligados à caça)

Cortador do início do Período Paleolítico - pedaço de pedra arredondada, usado como ferramenta pesada, trabalhado apenas em um dos lados (unifacial).
Raspador ou broca de sílex do Paleolítico inicial de Sussex. Uma ferramenta de raspador ou broca de pederneira do Paleolítico Inferior encontrada em depósitos de cascalho antigos (c. 400.000 - 300.000 a.C.) de Sussex (antiga coleção de Londres). Formado a partir de uma lasca de sílex e recortado para criar uma ponta de perfuração funcional. Alguns retoques nas laterais para formar lâminas de raspagem. Link1 - Link2
Ponta de flecha Chert, Neolitico Superior Rhodézien (c. 3300 - 2400 a.C.), atual França. As primeiras pontas de flecha eram feitas de pedra e materiais orgânicos; à medida que as civilizações humanas progrediram, outros materiais de liga foram utilizados. As pontas de flecha são importantes artefatos arqueológicos; eles são uma subclasse de pontas de projéteis.

A MANIPULAÇÃO DAS PEDRAS E A DESCOBERTA DE COMO FAZER FOGO

A pederneira é um sílex pirômaco, capaz de produzir faíscas quando percutido ou atritado. Essas pedras geram faíscas, que permitem se fazer fogo em qualquer clima, e em qualquer altitude, até mesmo sob tempestades e neve. Dessa forma é possível se fazer uma fogueira em qualquer lugar usando apenas pederneiras e um pouco de vegetação seca, pois funcionam até mesmo estando molhadas. Wikipedia

Estudos realizados ao longo do tempo, concluíram que foi o Homo Erectus (um hominídeo fóssil que viveu entre 1,8 milhões e 300 mil anos atrás) que pela primeira vez aprendeu a fazer fogo, através da fricção de duas pedras, que por sua vez produziriam faíscas capazes de iniciar uma combustão em vegetais secos. Ferramentas acheulenses (como o biface de San Isidro, encontrado em Madri, na Espanha) produzidas no Paleolítico Inferior e encontradas por todo Velho Mundo foram associadas a fósseis do Homo erectus.

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-     A HISTÓRIA da CULTURA HUMANA    -  

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    CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os humanos não são homogêneos, existem muitas variações e combinações diferentes. Uma teia complexa. A tal inteligência é muito variada. Existem muitos nichos cognitivos. Algumas pessoas têm uma "inteligência" muito limitada, são como crianças. Outras possuem habilidades especiais mesmo sendo autistas, são raras, verdadeiros fenômenos "na humanidade".

A evolução da VIDA...é filha do ERRO ! Um erro de cópia gera a variação....e a variação permite a evolução. Uma VIDA homogênea, sem erros, estaria condenada à extinção.

A mediocridade é a NORMA...o meio da variação (a maioria), ou seja, o centro da variação NORMAL. A vontade da maioria... é a vontade da mediocridade.

Um grupo social é formado por bebes...adultos jovens e velhos. A sociedade humana vive essa varição. Convive com a varição. A "inteligência" dos bebes é a "inteligência inata" da Natureza. A "inteligência" dos BEBES.....não é uma "inteligência racional" ....Não é fruto de um raciocínio lógico. Mas o desenvolvimento do raciocínio lógico parte do mecanismo inato... "do aprendizado".

A vida tribal nos mostra que a língua falada ou escrita, que está diretamente ligada ao raciocínio lógico, é muito limitada, quando comparada ao "Ritual ARTÍSTICO-RELIGIOSO", o qual unifica todos os componentes tribais, todas as idades, os gêneros, eliminando as diferenças. 
A arte, que é o instrumento da religiosidade, unifica a tribo (o social)...cria identidade e integra o indivíduo no universo...no COSMOS

Enquanto os nossos corpos morrem e apodrecem, se reintegrando e retornando ao ciclo material da Mãe-Natureza...nossas mentes através do "Ritual Artístico-Religioso"...contemplam os séculos e assim, nos vemos cara a cara com O NOSSO DEVS ETERNO...Esse sentimento permanente..... imanente e atemporal....onde e quando o passado se confunde com o futuro no eterno presente.


LITERATURA
 
WHITEN, A., Caldwell, C. A., Mesoudi, A. (2016). Cultural diffusion in humans and other animals. Current Opinion in Psychology, 8, 15–21.

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                                                                     https://nelscience.blogspot.com/2011/11/zoologia.html